subverter os signos
dos significados
na construção poética
é minha sina
me disse Irina Serafina
em Drummundana Itabirina
meu poema pós concreto
assassinei os alpharrábios
para inventar meu alphabeto
Artur Gomes
leia mais no blog
cidade veracidade
campos 190
transverso atravesso esta
cidade
que me atravessa em seu
silêncio
ouço o gemido dos teus ecos
por ruas avenidas e vielas
sinto saudade dos terreiros
de jongo
nas favelas e as lavadeiras
das pinturas aquarelas
em teus aceiros fiz meus
trilhos
em cada trilha dos meus
traços
no encontro ao ururau no cais
da lapa
teu por do sol pode ser beijo
ou também tapa
Artur Gomes
Poesia Afro Tupiniquim
leia mais no blog
https://fulinaimargem.blogspot.com/
64
Não era de Vênus
a cor do sol do meio dia
Afro-dite
negras eram nuvens
acima o mar num céu de estanho
chumbo metal pesado
no couro cru da carne viva
ferrugem corroendo ossos
botas pontiagudas
patas de cavalos cuspindo coices
no calabouço do asfalto
esporas
sangrando corpos
abrindo cadafalsos
na
noite 31 de março
madrugada
primeiro de Abril
Artur
Gomes
O
Poeta Enquanto Coisa
Dia desses estive refletindo sobre o perigo de uma sociedade
como a que existe no Brasil, que não sabe o que é interpretação de texto. E
ontem li exatamente sobre isso, o perigo que o país corre pelo avanço da
digitalização de uma população que ainda não aprendeu a interpretar textos. Daí
essa avalanche de fakes criminosos espalhados propositalmente nas redes sociais
e amplamente difundidos, de um lado, pelo mau caratismo de pessoas sem nenhum
escrúpulo, e de outro por pessoas que se deixam levar pelas aparências dessa “gente
de bem”.
Nada fora de mim,
com exceção da zanga,
tem um início e um fim
determinado,
com exceção da raiva,
que não é mina, digo logo, assim desde início,
como dizem em mi cidade,
tão felizes pela manhã
até a noite, muito mais felizes, muito mais,
que não é minha, repito, porque ainda mais adentro
surge a vontade de morrer,
e despois da raiva, bem depois, ou não tão despois,
sobressalta pensar que voltarádoutra vez
a raiva ou a zanga,
de fora, por suposto,
fora de mim, fora de todos, recomeça,
volta e mais volta, fora, recomeçar,
e assim termina tudo.
Agustín Garcia Calvo
REFÚGIO
Meu pai colecionava silêncios
- um olhar perdido nas distâncias -
minha mãe gostava tanto de rir!
[gargalhadas lindas as da minha mãe]
eu coleciono silêncios e sorrisos
ou risos
às vezes gargalhadas
[mais raras]
De silêncios
minha coleção é farta
de alegrias
minha coleção é tão pequena
nestes tempos
a guerra é obstáculo imenso
a fome
o racismo
a violência
tudo o que dói
me dói
os homens me doem
aqueles que nada enxergam além do próprio umbigo
os que só sabem acumular dinheiros
à custa das misérias alheias
os que devastam florestas
em nome do agronegócio
os homens poderosos,
machistas, misóginos, homofóbicos
aqueles que veem mulheres
presas fáceis
- meros objetos do seu desejo -
hei de resistir
a colecionar sorrisos
risos
quiçá gargalhadas
assim
ao olhar a fotografia
esqueço
por alguns segundos
das dores do mundo
(meu álbum é meu refúgio)
(Nic Cardeal, 05.03.2022)
jura não secreta 19
fulinaimicamente ereto
eu nasci concreto
quero dizer que ainda arde
tua manhã em minha tarde
a tua noite no meu dia
tudo em nós que já foi feito
com prazer inda faria
quero dizer que ainda é cedo
inda tenho um samba-enredo
e tudo em nós é carnaval
é só vestir a fantasia
quero ser teu mestre-sala
e você porta/bandeira
quando chegar na quarta-feira
a gente inventa outra fulia
Artur Gomes
Juras Secretas
Editora Litteralux – 2018
leia mais no blog
https://braziliricapereira.blogspot.com/
quem foram os ancestrais
dos khandhanghuz?
por que migraram
para o império cerratense?
Por que, quando aqui
chegaram, aceitaram
ser escravizados?
de onde retiraram forças
para cumprir a tarefa da
construção da nova capital
em apenas três anos?
por que a cidade,
após a inauguração,
começou a ser demolida?
por que nenhum poeta
até hoje ousou
decifrar essa cidade
riscada no ar?
Nicolas Behr
in Brasilírica
antologia - 2017
pelo dito ou não dito não há nada em
salvação. mudam o tempo, as derrotas e as glórias, mas ninguém
sai vivo desta história. é esperar pra ver. é rezar pra crer noutra dimensão
onde. talvez, não haja ratos no porão.
Zhô Bertholini
in Sol Postiço
alfarrábio edições
a cigarra edições – 2021
Para as festas da agonia
vi-te chegar como havia
sonhado lá que chegasse:
vinha teu vulto tão belo
em teu cavalo amarelo
anjo meu se me amasse.
Em teu cavalo eu partira
sem saudade, pena, ou ira;
teu cavalo, que amarraras
ao tronco de minha glória
e pastava-me a memória.
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido peito
angélico, onde meu leito
me deixaste então fazer,
que pude esquecer a cor
dos olhos da vida e a dor
que o Sono vinha trazer.
Tão celeste foi a Festa
tão fino o anjo, e a Besta
onde montei tão serena,
que posso, damas, dizer-vos
e a vós, Senhores, tão servos
de outra Festa mais terrena –
Não morri de mala sorte.
Morri de amor pela Morte.
Mário Faustino
in o homem e sua hora
Cia das Letras - 2002
Sol possível
Sol de setembro
agarro-me ao canto do pássaro
que a reboque traz a primavera.
Um sabiá laranjeira
onde laranjeiras não há.
Estreitos pensamentos
querem desenhar futuros alheios.
Retinas que só o chão espreitas
arrastam suas cegueiras.
Mas há a lâmina afiada
a palavra florida
pelo ferreiro do novo
destruindo gaiolas e medos.
Há um sol possível
nas dobras das trevas.
Há o canto de uma ave
Na urgência dos fatos.
Há de germinar auroras
para que os olhos
possam se levantar
acima dos temores.
Jurema Barreto de Souza
in SILÊNCIO ESCRITO
alfarrábio edições
a cigarra edições – 2024
projeto gráfico: Luzia Maninha/Zhô Bertholini
Capa: Luzia Maninha/Isabela A. T. Veras
penúria
quando se não quer
ver
a luz (é) cega
fere
queima
obriga
abrigo
ilusão
permeada
a sombra
conforta e
desguarda
quando se não quer
saber
a lucidez
hiberna
nos sótãos
a descoberto
Rosana Chrispim
in Caderno de Intermitências
Patuá - 2017
olhos velosos
vítima da uterotopia tropicamericana
o homem Volkswagem da triblue tupi
pisou numa lua prismágica
para ver se via a terra nua
e viu do céu o véu da vergonha
cobrí-la branquinteira
ogum ergue súbito a espada e grita
axé
meu irmão
Abel Coelho
in parada 88 poesia
Par&Cia Limitada - 2006
IV
já na maturidade entrando na velhice
fizeram um trato e assinaram com risos
daí em diante seriam três velhas damas indignas
do lavrado documento que dentre outros incluía o
caminharem juntas rirem de si mesmas e conspirarem
insubordinadamente até o fim unidas pela transgressão
a primeira cabelo vermelho fogo
cerveja na mão e gargalhada fácil
não mais se importava
de entornar
o copo nem das
consequências da distração
no dia seguinte confessava rindo
que o carro amanheceu no mesmo lugar
mas não se lembrava de o ter estacionado lá
bastava-lhe a alegria sem preocupações
a segunda lábios vermelhos
constantemente retocados
recebera do velho amigo
encantado com seu passado
o codinome de vermelha
vermelha em suas convicções jamais
abandonadas nem mesmo durante a tortura
nem com as mudanças de nome após a
temporada no dops e as agruras do viver
vermelha para sempre seria
a terceira e menos velha das três
proponente do nome do trio leitora de
brecht e outros poetas/pensadores/políticos
estudava-as com atenção epigonista
e desejos libertários de tudo o que de
nascença herdaram e nelas era natural
conspiradoras provocadoras irritantes
por mera diversão e prazer hedonista
as três velhas damas reforçariam
seu intento em cada copo tombado
em cada prato de caldo servido
em cada audição de amália
em cada leitura de poemas
em seguida de muito riso e café
mas eis que o fado temido
levou a vermelha primeiro e
a seguir a de cabelo de fogo
deixando a terceira em desamparo
sem perspectiva de recomposição
do trio
Dalila Teles
Veras
in opções para morrer no espaço
Patuá - 2024
EuGênio
eu sou menino eu sou menina
e não venham me dizer
que lança perfume é parafina
diversidade de gêneros
podes crer – não me alucina
eu nasci da minha mãe
que se chama Severina
lá dos sertões do nordeste
nor/destino nor/destina
como o sal do Maranhão
bumba-meu-boi não desafina
conterrâneo de Torquato
eu nasci em Teresina
EuGênio Mallarmè
*
BolivariAndo
neste porto Cavajarro
por onde o vale Vierro
ela mastiga meus ponteiros
com o seu relógio de zinco
no dela são nove horas
no meu são nove e quarenta e cinco
não temos horas marcadas
para o encontro do desejo
em nossas vidas – o despejo
em nossos corpos – desalinho
eu tenho fome de beijos
ela tem sede de vinho
Dani-se morreale
se ela me pisar nos
calos
me cumer o fígado
me botar de quatro
assim como cavalo
galopar meus pelos
devorar as vértebras
Dani-se
se ela me vier de unhas
me lascar os dentes
até sangrar o sexo
me enfiar a faca
apunhalar meus olhos
perfurar meus dedos
Dani-se
se o amor for bruto
até mesmo sádico
neste instante lírico
se comédia ou trágico
quero estar no ato
e Dani-se 0 fato
desde sangue quente
em tua boca dos infernos
deixa queimar os ossos
e explodir os nossos
poemas físicos pós-modernos
no coração dos boatos
para Uilcon Pereira in memória
biútim evaristim evaristoa passava sem querer pelos telhados de assombradado in braziLírica
com seu minúsculo gravadorzinho de bolso quando percebeu no jaburu um vozerio
estranho como um escárnio ao povo de bizâncio, o vampiro das planilhas
dialogava azedamente com o bandido das neves, combinando os pagamentos das
operações o-cultas, obras invisíveis lá pelos quebra mares do porto de santos.
depois de captar todas as falas, vozes, de mais alguns
fantasmas presentes no palácio, biútim entregou seu gravadorzinho aos delegados
do presídio de absinto, e como nunca teve a ilusão que o seu trabalho fosse
resultar em algumas coisa, sua gravação foi arquiuvada, e o seu gravadorzinho
foi queimado pelos bispos/pastores/deputados/senadores da igreja universal,
para constatação da invasão ne-pentecostal pelos telhados de brasziLíricos,
onde tudo termina nos enredos aras su-reais do carnaval.
Artur Gomes
In o poeta enquanto coisa
Editora Litteralux - 2020
com os dentes cravados na memória
Dos anos 80 trago a amizade com dois grandes irmãos de Arte,
Genilson Soares e Oscar Wagner. Genilson um design gráfico da mais alta
sagaranagem, Oscar o meu fotógrafo carnavalhado. Esta arte/cartaz só existe por
eles existirem em minha vida. Não foram poucos os acontecimentos que aprontamos
em Campos dos Goytacazes. Quem ainda se lembra do Stúdio 52?
Artur Gomes
leia mais no blog
mallarmargens
esse poema desliza
pelo lado esquerdo do Rio
entre Mallarmè e às Margens
me traz a Lapa no cio
e o carioca em desvario
aposta em lance de dados
que prefeito o mal l a(r)mado
abandona sua carreira
foge do povo em mal estado
em plena segunda-feira
Cristo desce o corcovado
em lance descomunal
e na Sapucaí a Mangueira
explode no carnaval
EuGênio Mallarmè
Sorte
Sorte é quando a vida tropeça no seu pé
e, em vez de cair, inventa um passo novo.
É o ônibus que atrasa, mas te entrega um reencontro,
a chuva que cessa no segundo exato da tua saída,
o bilhete esquecido que encontra mãos honestas.
Sorte é o café quente que chega sem ser pedido,
a palavra certa que salva um silêncio torto,
o acaso que ajeita o que parecia perdido.
Mas, no fim, talvez sorte seja só seguir em frente
e, sem aviso, dar de cara com um dia melhor.
Simone Bacelar
SSA 21/02/25
Balbúrdia PoÉTICA 5
Dia 1º de Abril – 2025 – 14 às 16h
Stand da Academia Campista de Letras
12ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ
Jazz Free Som Balaio
À memória de Moacy Cirne
ouvidos negros Miles trumpete nos tímpanos era uma criança
forte como uma bola de gude era uma criança mole como uma gosma de grude tanto
faz quem tanto não me fez era uma ant/Versão de blues nalguma nigth noite uma
só vez -
ouvidos black rumo premeditando o breque sampa midinigth ou aVersão de Brooklin não pense aliterações em doses múltiplas pense sinfonia em rimas raras assim quando desperta do massificado ouvidos vais ficando dançarina cara ao Ter-te Arte nobre minha musa Odara - ao toque dos tambores ecos sub/urbanos elétricos negróides urbanóides gente galáxias relances luzes sumos pratos delícias de iguarias que algum Deus consente aos gênios dos infernos que ardem gemem Arte misturas de comboios das tribos mais distantes de múltiplas metades juntas numa parte
Artur Gomes
Poema gravado no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – 2002
Leia mais no blog
SerTão do Mato Dentro SerTão do Mato Fora
https://arturgomesgumes.blogspot.com/
em comemoração ao aniversário hoje do grande parceiro Reubes
Pess fundamental para a realização da produção e execução do CD
Fulinaíma Sax Blues Poesia lançado na 2ª Bienal do Livro de Campos dos
Goytacazes-RJ - em 2002.

uma quadrilha armada
tomou o país de assalto
jogou brazilha no asfalto
com o beijo da amante prostituta
enlamearam os 3 palácios
:
planalto alvorada jaburu
o desejo era lamber botas
da américa do norte
para que ela se apodere
da américa do sul
Artur Gomes
leia mais no blog
Abismos
Olhos—duas chamas frias no breu,
tremulam, insondáveis como espelhos partidos.
Abismos onde os pensamentos afundam,
onde o tempo curva os joelhos e implora.
Olhos—poços de luto e de presságios,
onde a noite verte seu aguardente vagabundo.
Neles dorme a verdade retorcida,
como um náufrago sem horizonte.
Há olhos que cospem cinzas de séculos,
outros que sangram silêncios ocres,
e há os que, imóveis como ruínas,
soterram segredos entre sombras e aço.
Mas os teus, frios e fundos,
devoram os gestos, os nomes, as preces,
e me olham como a morte olha um pagão,
sem piedade, sem pressa, sem perdão.
Simone Bacelar
SSA 19/02/2025
Balbúrdia POÉTICA 5
28 março – 2025 – 19h
No Stand da ACL
12ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ
Deus não joga dados
mas a gente lança
sem nem mesmo saber
se alcança
o número que se quer
mas como me disse mallarmè
:
- vida não é lance de dedos
A vida é lança de dardos
Deus não arde no fogo
mas
eu ardo
Artur Gomes
Poema do livro Pátria A(r)mada
Desconcertos Editora – 2022
leia mais no blog
18/02/2025
PGR finalmente denuncia
os genocidas fascistas
da quadrilha bolsonarista
já podeis
da pátria, filho
ver demente
a mãe gentil
já raiou a liberdade
em cada cano de fuzil
salve lindo
fuzil que balança
entre as pernas
a(r)madas da paz
a gripezinha
era a certeza esperança
de um genocida
imbecil incapaz
pan(demônica)
passeio os pés descalços sobre covas rasas
contando ossos no poema exposto
no sujeito do objeto
tudo isso exposto nesse papo reto
segue o passo norte
não leio cartas de suicídio
nem decreto de hospício
na tentação que me conforte
quero matar o genocídio
pra não morrer
antes da morte
Artur Gomes
do livro Pátria A(r)mada
Desconcertos Editora - 2022
leia mais no blog
SINAL
DE FUMAÇA
De todas as minhas vestes
'inda resiste uma (tênue) fumaça de esperança
que insiste em cobrir meus corpos.
Entre pele e ossos,
sangue e veias,
memórias sonolentas ou acordadas
- desde aquela carcaça
que me mantém
(ainda) de pé sobre as pedras,
como aquela outra vestimenta,
que circunda o 'corpo' da alma,
leve camada, quase vítrea,
formada de palavras -
Eu não sei por quanto tempo
esta vestimenta se manterá intacta,
ainda que tão diáfana
- é só fumaça de esperança -
deixando-me quase desnuda,
onde sonhos já são matéria rara.
A fumaça 'inda suporta
a fina nesga da fresta
entre uma e outra vestimenta
de mim mesma que sou tantas
depois da porta entreaberta.
Uma hora ou outra
a alma por dentro
vira a casaca
(estou por um fio:
habitante destas vestes
onde a esperança anda gasta...)
(Nic Cardeal/2019)
DialÉtica
um dia desses
não quero ser Paulo Leminski
nem dançar como Nijinski
ou escrever feito Pessoa
numa boa
quero voltar a Curitiba
e sair da pindaíba
escancarar o Beleléu
quero ouvir Carlos Careqa
esse - Filho de Ninguém
e botar fogo no céu
onde o anjo diz: Amém!
quero ser o Nego Dito
ou será o Benedito
do Itamar da Assumpção
um dia desses
quero ser um João Gilberto
e quem sabe Caetano
pra cantar em Salvador
quero ser um Pai de Santo
fazer de Lys a minha flor
um dia desses
quero ser um Celso Borges
quero ser um Cláudio Willer
quero ser Eliakin
um Ademir Assunção
quero ser sempre Plural
estar sempre em profusão
um dia desses
quero ser Zeca Baleiro
pra dançar Boi no Terreiro
com Salgado Maranhão
Artur Gomes
leia mais no blog
Balbúrdia Poética 5
Sarau Multilinagens
Dia 28 março – 2025 –
19h
convite
para atores atrizes músicos poetas
que quiserem participar mostrando seus trabalhos, entrem em contato
pelo zap
Afiando a CarNAvalha
cocada agora
só se for de coco
paçoca de amendoim
cigarro só se for de palha
cacique só se for da mata
linguagem só tupiniquim
bala só se for de prata
água só se aguardente
tônica só se for com gim
estado só se for de surto
eleição só se for sem furto
brilho só no camarim
golaço só se
for de letra
Ronaldo só se for Werneck
malandro só se mandarim
política só se for decente
partido só sem presidente
governo eu que mando em mim
batismo só se for de pia
Congresso só de Poesia
Reinaldo pode ser Valinho
inda melhor se for Jardim
Alice
para Alice Melo Monteiro Gomes
A música está no
bico dos pássaros
na pétala da
lamparina
no caracol dos teus
cabelos
no movimento
dos músculos
e no m das tuas mãos
nada mais sagrado
do que teus olhos
acesos
pra me iluminar na
escuridão
Artur Gomes
Poemas do
livro
O Poeta Enquanto
Coisa
Editora
Litteralux – 2022
Fulinaíma
MultiProjetos
22 99815-1268 – zap - @fulinaima @artur.gumes
leia mais no
blog
https://fulinaimagens.blogspot.com/
Acho que é tempo ainda
quando a vida não for embora
me leva Isadora
pode ser amanhã
ou mesmo agora
depois do almoço
no fim da tarde
no por do sol
no
carrossel
no
girassol nos vaga-lumes
entre
paredes pedras facas de dois gumes
nos parreirais depois da lua
olhando as águas
escorrerem nos riachos
se o
Rio Grande é frio
o de Janeiro é muito quente
Santa Teresa é lá em cima
mas Botafogo é cá embaixo
e
sabe o que é que eu acho ¿
se tá
feio nossos Estados, baby
nossa vida é muito linda
eu
acho que há tempo de sobra
eu acho que é tempo ainda
Atentado poético
a hipocrisia aqui é muita
liberdade muito pouca
com meus dentes
língua/navalha
vou rasgar a tua roupa
para
esse poema bomba
explodir na tua boca
Artur
Gomes
poemas
do livro
o
poeta emquanto coisa
Editora
Litteralux – 2020
leia mais
no blog
https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/
sagaranalha fulinaimânica
“sobre a cabeça os aviões
sob meus pés os caminhões
aponta contra os chapadões meu nariz
eu organizo o movimento
eu oriento o carnaval
eu inauguro o monumento
no planalto central do país”
Caetano
Veloso – Tropicália
quem invadiu
minha tropicalha
vai receber o troco
em 20 poemas
com gosto de Jardinópolis
& uma canção com sabor de Campos
não posso ficar calado
diante o descalabro
do teu silêncio
no comício do protesto
poesia tesão teu nome
transforma ritual & gesto
não presto porque te amo
te amo porque não presto
Artur Gomes
o sax na voz da palavra dentro do poema
leia mais no blog
linda homenagem de Angel Cabeza à poeta Maria Tereza
Horta
O mundo não precisa de nós, mas nós precisamos do humano.
Ontem, foi-se mais uma expoente, dessa vez a portuguesa Maria
Teresa Horta, brava lutadora.
Combateu a ditadura com a maior e mais forte de todas as
espadas, a poesia.
*
Morrer de amor
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
*
Arrebatada
Ninguém me castra a poesia
se debruça e me põe vendas
censura aquilo que escrevo
nem me assombra os poemas
Ninguém me apaga os versos
nem me amordaça as palavras
na invenção de voar
por entre o sonho e as letras
Ninguém me cala na sombra
deitando fogo aos meus livros
me ameaça no medo
ou me destrói e algema
Ninguém me aquieta a escrita
na criação de si mesma
nem assassina a musa
que dentro de mim se inventa
Ninguém me cala na sombra
deitando fogo aos meus livros
me ameaça no medo
ou me destrói e algema
Ninguém me aquieta a escrita
na criação de si mesma
nem assassina a musa
que dentro de mim se inventa
leia mais no blog
O sax na voz da palavra dentro do poema
*
o impulso aqui não é pouco o espírito grita dentro do corpo deliro feito louco de tanta sede e fome como quem não vive em paz como quem não come há muitos séculos atrás
*
em armação de búzios
tenho um amor sagrado
guardado como jura secreta
que ainda não fiz para laís
em teus cabelos girassóis de estrelas
que de tanto vê-las o meu olho vela
e o que tanto diz onda do mar não leva
da areia da praia onde grafei teu nome
para matar a sede e muito mais a fome
entranhada na carne como flor de lotus
grudada na pele como tatuagem
flutuando ao vento como leve pluma
no salgado corpo do além mar afora
sargaço em tua boca espuma
onde vivem peixes - na cumplicidade
do que escrevo agora
*
concepção produção e direção
*
Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
22 99815-1268 – zap
@fulinaima @artur.gumes
ainda estamos aqui
leia mais no blog
https://fulinaimagens.blogspot.com/
*