quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

O Homem Com A Flor Na Boca


O  Homem Com

A Flor Na Boca

:

Itabapoana Pedra Pássaro Poema 


Poética, política e memória

 Escrever prefácio para um livro de Artur Gomes é um desafio prazeroso. Desafiante é mergulhar no universo imagético e político que sempre compôs sua poética. Este O Homem Com A Flor Na Boca : Deus Não Joga Dados acrescenta o substrato memorialístico ao seu repertório formando a tríade que sustenta o livro temática e formalmente. Meu primeiro contato com a poesia de Artur se deu nos anos 80 por intermédio de seu livro Suor & Cio, obra cuja temática estava em consonância com as reflexões suscitadas pelas “comemorações” do centenário da Abolição da Escravatura em 1988. A partir daí, acompanhei suas criações tanto impressas quanto performáticas, pois Artur não é poeta apenas de livros e silêncios das salas de estares, livrarias e bibliotecas, mas também dos bares, ruas e praças que são do poeta como o céu é do condor.

 Poucos poetas contemporâneos expressam tão bem as principais bandeiras do Modernismo de 22 quanto esse vate pós-moderno. Sua poesia é política, antropofágica, nonsense, musical, polifônica e sobretudo intertextual, além de dotada de uma brasilidade corrosiva, avessa ao nacionalismo acrítico que se tem espraiado pela ex-terra de “Santa cruz”.

 Neste livro estão todas essas marcas do poeta às quais acrescento o caráter memorialístico. Nele, Artur não apenas rememora antigos poemas por meio de alusões, paráfrases e paródias como traz para seus versos passagens assumidamente biográficas, se apropriando, em alguns momentos, do gênero diário.

 Estão contidos nessas memórias seus vários heterônimos: Gigi Mocidade, Federico Baudelaire, EuGênio Mallarmè, Federika Bezerra, Federika Lispector. Diferente do que ocorre com o poeta português Fernando Pessoa, a heteronímia em Artur não se manifesta menos na autoria do que no tecido ficcional. Suas diferentes personas emergem dos poemas para a realidade das redes sociais, interagem entre si, com o poeta e os leitores.

 É Gigi Mocidade, por exemplo, que carrega a bandeira do espírito subversivo com seu grito “Irreverência ou morte”, já nas primeiras páginas do livro, e a epígrafe de Federico Baudelaire “escrevo para não morrer antes da morte” anuncia a intenção memorialística. Sócrates, no seu diálogo com Fedro na obra de Platão, argumenta que a escrita seria a morte da memória, mas o que seria de todo o repertório literário não fosse essa invenção humana? Quais mentes suportariam tantos signos produtores de imagens cujos sentidos transcendem às vezes a razão? A escrita não se tornou a morte da memória, mas impossibilitou a morte dos poetas eternizados nas páginas dos livros e memórias dos leitores.

 

poema 10

meus caninos

já foram místicos

simbolistas

sócio políticos

sensuais eróticos

mordendo alguma história

agora estão famintos

cravados na memória

 

Nesses oito versos, o autor nos apresenta metalinguisticamente seu percurso poético até este livro que não é uma obra dedicada ao passado. O presente político do Brasil (des) norteia o poeta que não deixa de atacar com sua lira de peçonha os problemas que nunca deixaram de afligir estas paragens desde o suposto grito de Cabral.

 

poema 12

 

tem algo de errado

nessas estatísticas de mortes

dessa pandemia

multipliquem  60.000 X 10

e ainda não vai ser exato

o número de cadáveres

empilhados nos campos de concentração

que dá um nome ao   país

que ainda nem era uma nação

 

A verve surrealista do poeta se manifesta principalmente nos poemas narrativos protagonizados por personagens intertextuais como “macabea” (alusão evidente à conhecida protagonista de A hora da estrela de Clarice Lispector) e alter egos – lady gumes – parodísticos do próprio autor.

 

Em FULINAIMAGEM 14 o tom  de diário se instaura com inscrição de data do acontecimento rememorado e transborda na escrita de si em que se revela o papel que a poesia e o teatro desempenham na escritura de seu trajeto como autor: “a minha relação poesia teatro poesia é visceral vital para o que escrevo como quem encena  a necessidade do corpo como expressão”. Artur Gomes, este homem com a flor na boca, anda a espalhar o veneno agridoce de sua poesia, numa obra em que não há fronteiras entre o artista, o cidadão, o personagem, o eu poético, a obra. Seu livro não é um objeto, mas um produto interno e nada bruto. A obra é sempre muito maior que o livro, pois este, matéria assim como o homem, finda. A obra, esse totem que se pode cultuar no altar da memória, está sempre presente. E é disso que o poeta fala: do tempo presente, do homem presente, da vida presente. Parafraseando Drummond, com O Homem Com A Flor Na Boca, “não nos afastemos, não nos afastemos muito”, vamos de mãos dadas com a poesia de Artur.

 

Adriano Carlos Moura

Professor de Literatura – IFFluminense, Campos dos Goytacazes-RJ –


6 outubro - 2022

 

a mulher dos sonhos

voltou ontem

sedenta faminta insaciável

esgotou-me

à última gota

 

mesmo vazio

me senti um tanto cheio

nem foi delírio loucura

porque vi no meu e-mail

o nome da criatura

 


Em 1995 no Centro Cultural Maria Antônia, na USP, em cia da minha querida amiga Silvia Passareli, assisti uma encenação de Cacá de Carvalho, com texto de Pirandello que me pegou da medula ao osso. A plateia era de 40 pessoas apenas e Cacá circulava entre nós com a sua energia pulsante magnética. O texto era um fragmento de uma trilogia que ele deu o nome de O Homem Com A Flor Na Boca. E a ele, Cacá de Carvalho, dedicamos este livro.


chamaram-me de atrevido

o fonema entrou pelos ouvidos

como um raio de Iansã

      Eva nem percebeu

a serpente no espelho

     a mordida na Maçã 


 

Deus não joga dados

Mas a gente lança

tenta –

em arte tudo se inventa

 

 Eu tenho flores

com a língua atravessada em cada canto da boca


Dê  Livros

Dê  Beijos

Dê  Lírios

 

Dê Líricas

 

Bebo teus olhos atlânticos

e tua voz portuguesa

como quem bebe no Tejo

saudades de Lisboa

 

caminho com os teus passos

em direção ao poema do desassossego

Florbela Espanca Alberto Caieiro Fernando Pessoa


ressignificar eis o verbo

no poema do absinto

o sentido mais concreto

ou mesmo o abstrato

na argamassa do absurdo 



Baudeléricas Bordelíricas 

 

o poema um beijo em tua boca bruna tem um B entranhado entre as coxas a pele das amoras gemem quando venta forte em tuas fendas do hoje comi duas nessa manhã incendiária quando vim da cacomanga trouxe nos bolsos da calça remendada linha carretel cola de trigo cerol bambu papel de pipa pique bandeira pique esconde jabuti preá da índia pés de abóboras replantáveis o pé de abacate ainda não nasceu Isadora chegou ontem 30 de março numa tarde outono à sol aberto noite gelada frio na medula maya ainda escreve sobre depressão no tempo folks may abriu as asas pra malásia e a outra mora do outro lado em outra terra rio grande muito longe tenho sede



a flor da pele ainda sangra

 

quixaba uma palavra estranha
assim como katchup guanabara guaxindiba
guarapari lembra-me índio capixaba
goiaba carne vermelha
o corpo nu diante do espelho
página do livro onde   grafitei
o  couro cru & carne viva
alga marinha nascida em mar de angra
a flor da pele ainda sangra
como último beijo mordido na boca
                      sem sinal de despedida


                                              


    com os dentes cravados na memória 


tontas  vezes me re-par-to mul-ti-pli-co em 7 alegria dos noves fora nada tudo é baudelérico federico me dizia leonardo fez 80 afonso 84 na rede somos 3 quando ele vem já somos 4 em temporais escrevo e sangro como boi antes da morte muitos outros já se foram e nem gozaram em 69 se eu me lembrar 64 não posso esquecer 68 era uma noite de maio peguei o trem pra são cristóvão depois avião para brasília quando voltei no espelho dédala já estava dentro da tipografia


Ofício de Poeta

 

franzir a noite

é o mesmo que bordar o dia

costuro o tempo

com linha de pescar moinhos de vento

entre o franzido e o bordado

escrevo um desenredo

e vou foto.grafando

filmando poesia

na solidão dos meus brinquedos

 

II

 

costuro arco-íris

com linhas de bordar

teus olhos d´água

 

III

 

pego na enxada diariamente

para capinar o quintal

da estação três cinco três

 

literalmente

 

não é metáfora

para lamber cio da terra

como na canção que Chico fez

 

 IV

 

a poesia as vezes me vem da fala

outras de vozes absurdas

na travessia cantei pontos de Jongo

Folias de Reis Festas Juninas

Folguedos de São João

despachos de Macumba

para me defender do capataz


pulei  fogueira em brasa

comi o milho assado

nos tempos  do nunca mais 

nunca vivi porto seguro

na minha praia não tem cais

escrevo como falo aprendi com os ancestrais


V    

com uma câmera nas mãos   

um poema na cabeça

vamos filmar o poema

antes que desapareça 


                            A mulher dos sonhos

 

ela ainda guarda na boca este poema entre os dentes a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela fala em meus versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda não fizemos ela mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de fogo quando tem no livro este incenso aceso as entre minhas em  entre linhas  salta das metáforas por entre portas e janelas



                                 no poema o que ficou?

para

Cesar Augusto de Carvalho



no poema ficou caco de vidros

azulejando nos azuis

no poema ficou o corte mais aberto

o sangue mais secreto

tanto mal secando blues

 

no poema ficou a língua cega

a faca desdentada

a fome afiada onde era mel agora é pus

no poema ficou o obsceno não sagrado

o beijo ensanguentado

o abstrato do concreto

no poema ficou um objeto

um soneto esfacelado

um hiato no decreto

 

no poema ficou mais um retalho

mais um trapo do espantalho

nesse circo abjeto

no poema ficou o sangue amargo

numa noite quase nada

num curral analfabeto

 

no poema ficou a escuridão

nuvens de cinzas

onde antes era luz

 

no poema eu fiquei de pé quebrado

no velório esquartejado

nessa terra  de  tanta cruz


Dédalus

para Alberto Bresciani

e o seu magnífico Hidroavião

 

O poeta pesca peixes

na floresta de concreto

lâminas de cimento

 

há séculos

não está pra peixe este mar

aqui redes em pânico

pescam esqueletos no ar

 

linhas de nylon

degolam tartarugas

que morrem náufragas

na Av. atlântica

o poeta cata os cacos que restaram

desta pátria desossada


arde em mim

um rio

de palavras

 

corpo larvas erupção

mar de fogo

          vulcão


no romance do Poema

Mário Faustino traçou o seu destino

 

FederikaLispector

 

havia ali
o voo
em que Faustino
se dissolveu
no ar
tornou-se
fausto
anjo
aéreo

 

Herbert Valente de Oliveira



Irreverência ou Morte!

Gigi Mocidade

 

escrevo para não morrer antes da morte

Federico Baudelaire

 

 

o poema é um lance de dados

mas não fugirá ao acaso


Stéphane Mallarmé

 



linguagem toda viagem

 

imagens sempre me levam a viagens impensadas fotografias me levam a grafias outras imagens recriadas escrevo não como Manuel Bandeira para não morrer mas como Federico Baudelaire para não morrer antes da morte. ontem o sonho me trouxe ela de volta leve como espuma quando beija a pele da areia. muitas vezes imagens me levam a viajar -  como deve ser escrever para não enlouquecer ¿  muitas vezes algas que ela  traz no mar da boca desce abaixo do umbigo e se encaixa entre as coxas encharca a língua de saliva e me lembra algum despacho Olga Savary quando me diz que mar é o nome do seu macho.





                                                  poema

 

o poema pode ser  um beijo em tua boca a orelha de Van Gog bandeirinhas de Volpi os rabiscos de Miró  o assassinato de Lorca o poema pode ser  o que vai o que não fica Lupicínio na Mangueira Noel Rosa na Portela uma jangada de velas um parangolé do Oiticica o poema pode ser os meus músculos de ossos a minha pele de sangue a morte ancestral em cada mangue e os negros nervos de aço estraçalhados em Martinica o bombardeio de Guernica o cubismo de Picasso 

 

 

                                           o

                                          Delírio é a Lira do Poeta

se o Poeta não Delira

sua Lira não Profeta

                                          

Artur Fulinaíma 



ando tendo sonhos antropológicos que mais parecem pesadelos e a desgraça é tanta que dói até nos cotovelos

 

poesia

à flor da barra

 

amor à primeira vista

meu livro vermelho de sangue

Ouro Preto na contra capa

a musa morta no mangue

rosa vermelha no altar

desejo paixão fogo brasa

incêndio na minha casa

para nunca mais se apagar



 

                                              poema 1

 

o que você faria

se soubesse que és musa

de dois poetas tortos ?

 

um visivelmente você sabe

o outro se oculta

por trás da lua nova

quando deita rede na varanda

               com sua luz de zinco prata

 

o que você faria

se hoje eu te dissesse

que o tempo tarda mas não finda

e que a lua só é nova

porque se preservou dentro da mata

                                      curuminha ainda ?


poema 2

 

esse poema mora dentro de ti

entre pele pelos músculos nervos ossos

quase pronto      mas sempre inacabado

não importa o caminho ou se Cronos 

o disperse em curvas de distâncias

ou que o carinho não baste

quando é sede e fome  o que  se tem no  corpo

 

não sei por quantas vezes

nem sei por quantos anos

um pássaro leva para se abrigar no ninho

ou para fazer de um fio elétrico

o seu lugar de pouso

quando quase tudo no poema ainda está por vir

só sei que pode sol e chuva atrapalhar o canto

mas será sempre no teu colo que ele

                                 um dia irá dormir 


poema 3

 

o homem com a flor na boca

faz dos seus versos

poesia um tanto prosa

 

tem na pele o couro cru

e um parangolé

pendurado no pescoço

onde pensamos nervos

no seu corpo -  ali  é osso

 

tua língua atravessa

o pontal das coxas

quando o leito do seu rio

transborda um oceano

 

carrega espinhos na carne

como fossem pétalas de rosa

com os dentes rasga da musa

 - todo pano - e ali mesmo goza


 

A folha de papel em branco sobrevoa a transparência diante do espelho onde me espreitam dois grandes olhos  feito jabuticabas de um pomar que inda procuro a palavra escrita ainda não dita de um desejo impuro e a folha branca de papel pousa em tuas mãos como um pássaro não nascido ainda vindo do futuro.


carne proibida 2

 

abusas no meu e-mail

no centro de gravidade

desse meu corpo elétrico

 

não me dissestes porque veio

acender a lâmpada

na metafísica dos poros

 

devoro teu corpo atlântico

com meu canino esquerdo

 

minha fome é quântica

como um barril de pólvora

com o pavio aceso


II

salsa alecrim alfavaca cebolinha

azeite limão hortelã vinagre

azeite com pimenta

 

quem resiste esse peixe temperado

que a poesia em mim inventra

 

vem lambe minha língua

que esse me(u)l sal te alimenta


                                  tempestade/temporais


eu sou avesso atravesso a cidade

com o que me interessa

as vezes sou sossego outras vezes tenho pressa

 

não procuro o que não quero

me abstenho no que faço

me abstrato quando posso

me concreto em cada passo

 

o compasso é argamassa

o absinto quando traço

uma linha nunca reta

da palavra em descompasso

 

se sou torto não importa

em cada porta risco um ponto

pra revelar os meus destroços

no alfabeto do desterro

a carnadura dos meus ossos


                                

Terra em Transe

 

em 1990 estava eu em Registro em mais uma transa  literária que tinha sido iniciada em Jardinópolis depois de uma passagem por Batatais, onde Hygia Calmon Ferreira, a musa do poema Sagaranagens Fulinaímicas, me apresentou algumas  estudantes  do curso de letras na UNESP, em São José do Rio Preto.

Em Batatais, quando desci do palco do Teatro Municipal, dois lábios vermelhos carnudos encarnados e dois olhos azuis vidrados vibravam em minha direção, era Cláudia, que ganhou  beijo na boca e alguns anos depois Copacabana consumou  nossos desejos.

Em Registro era uma noite de Sarau no restaurante onde jantávamos  e eu ali absurdado com os poetas soprando palavras ao vento, foi quando Mariana de Piracicaba, vindo a mim feito ondas, me ofereceu saliva ardente numa pétala de rosa branca e espuma vermelha de batom -   delírios em sua língua de Vênus.

Desde então queimando em mar de fogo me Registro



hoje

o maior desafio

                          permanecer Nu cio

 

 

 

ando em alpha

quase beta

meu destino ser poeta



poema 4

 

meus olhos atravessam
as lentes - o peixe
e caminham em direção a luz
que está do outro lado
o infinito
que me espera com seus
olhos d´água

 

ela virá com sua boca
de batom marrom vermelho
e eu espero
com minhas 7 línguas
atrás da porta

com o mel e o veneno
a pimenta e o azeite
vamos devorar o peixe
no caldeirão incandescente
em nossas línguas
só flechas - o fogo
                     a águardente –


poema 5

para Jorge Ventura

 

a faca não cala do poema a fala

Dionísio Neto de Bacco

quem sabe filho de Zeus

jantou comigo a Santa Ceia

na casa de Prometeus

nas madrugada de Bento

lambeu o vinho nos seios

das Bacantes no convento

por todos poros do corpo

por todos pelos  e meios

depois grafitou nas vidraças

com dedos de diamantes

a Rosa de Hirochima num coração estudante

depois de romper o dia  por volta da seis e meia era um coração de poeta

                    com poesia na veia 


poema 10

 

meus caninos

já foram místicos

simbolistas

sócio políticos

sensuais eróticos

mordendo alguma história

agora estão famintos

cravados na memória


poema 11

 

escorre - nus

teus seios

espuma que jorrei

em tua boca

 

ainda existe algo

entre as coxas

e as costas

algas - água

o sal da língua

que lambeu a tua ostra


                             poema 12

 

tem algo de errado

nessas estatísticas de mortes

dessa pandemia

 

multipliquem  60.000 X 10

e ainda não vai ser exato

o número de cadáveres

empilhados nos campos de concentração

que dá um nome ao   país

que ainda nem era uma nação


poema 13

 

arranco mais uma pérola

do ventre de hilda triste

na porta da tua casa

meu poema ainda insiste

 

a menina que matou o tempo

o vento também comia

na lâmina do catavento

pra espantar a maresia

 

nas ruínas de santa teresa

era domingo de poesia

bateu uma pedra no rock

e nos levou na ventania


                                           poema 14

profissão – poema do livro

Suor & Cio revisitado

 

meu ofício é de poeta pra rimar poema e blusa e ficar na tua pele pelo tempo em que me usa pelos mares de Ipanema nessa minha epifania disse pra flor do lácio vista-se de poesia rasgue os tecidos da carne pegue a língua que lambuza lambe também minha língua na linguagem  - minha musa


poema 15

com os dentes cravados na memória

 

I

 

por todos anos 80 ipanema 83 flora recém nascida e eu chegando aos 40  gomes carneiro  visconde de pirajá bem próximo ao carinhoso bartolo com seu trompete depois que a noite dormia tocou numa pérola negra e beijou o novo dia

 

no boteco de onde estava conselheiro lafaiete refúgio da boemia me acordou da noite fria clara  clarividência aflora sonoridade – melodia

logo depois era drummundo na praça general osório pra enriquecer meu repertório na pedra da poesia

 

II

 

ipanema 84 filipe recém nascido por esses tempos vividos na aldeia carioca  com todo vapor barato  na tribo os sete sentidos nesses dentes da memória os 5 presentes no corpo outros 2 ganhos no tapa pelas ruas de ipanema até os  botecos da lapa


poema 16

 

respiro-te enquanto escrevo

teu cheiro trazido pelo vento

vem da carne de  manga

que mastiguei cinco minutos

 

tens o poder de me deixar em alfa

e me levar aos píncaros 

                           nesse estado êxtase

quando estou em transe

           quando alfa é beta

e o luar da tarde são teus olhos raios

                         quando os meus acerta


                      poema 17

 

fiz um trato com a ironia

o sarcasmo         a poesia

o bom humor a picardia

 

para enfrentar essa tragédia

tenho de sobra a alegria

e o que não falta em mim é  cobra

                 visceral antropofagia

tenho de sobra em minha obra

          profanação sagrada orgia


                poema 18

 

nos meus delírios baudeléricos

ou mesmo fossem baudelíricos

sonho teu corpo flor de cactos

como se fossem flor de lírios

toco teus pelos flor do mangue

pulsando sangue em teus martírios

penso teu sexo flor de lótus

sagrada flor dos meus delírios


poema 19

 

a língua hoje passeia

pelos martírios de florbela

em tudo que ela não disse

ou mesmo exposto não revela

pelas janelas do corpo

por todas dores prazeres

no que ficou por dizeres

no silêncio quando cala

por tudo que ainda não cabe

na sensualidade da fala


dor de cabeça
para Walter Franco - in memória

 

hoje me peguei
com uma puta dor de cabeça?
o que é que eu tenho
            nessa cabeça?

 

perguntei ao seu doutor

essa dor de cabeça
é minha ou é na cabeça

                     do  senhor?

 

essa fumaça densa espessa
nessa manhã de fevereiro
quando no Rio de Janeiro
se assanha o carnaval

 

será Brasília o vendaval
o desespero, esse fascismo brasileiro
com cara de neonazismo

ou fanatismo Imperial? 


tantos pratos

e talheres sobre a mesa

              onde tudo cabe



desde que não seja lama

desde que não seja Vale



        

holocausto


quem se alimenta

dessa dor

desse horror

desse holocausto

 

desse país em ruínas

da exploração dessas minas

defloração desse cabaço

 

quem avaliza o des(governo

simboliza esse fracasso? 


metafórica dialética

 

quantas teorias terei
para escrever o que falo?

 

quantos sapatos ainda apertam
os calcanhares do meu calo?

 

me esqueço as vezes sobre a mesa
no jantar ou no almoço
garfos facas pratos talheres
me perco sempre em  incertezas

se são onças leoas leopardos tigresas
e não saber  se amanhã
vão morrer quantas mulheres

                nas fardas da realeza 


nessa tragédia social

os 270 mortos

em Brumadinho

 mostram que

nesse hospício

 há muita lama

no meio do caminho


fake book

 

o face detonou
minha família inteira
e lá se foram
os meus amores carnavais

 

e agora o que é que eu faço
sem as Anas sem as Eras

as Cristinas Isadoras Micaelas

Vênus Afrodites todas elas
os bem-me-quer dos meu aceiros

                       e dos meus canaviais

 

essa rede assim fascista

 não comporta
os meus poemas canibais

crise


diante dessa crise tanta
não adianta

        fazer o que não deve

 

no improviso do repente
poeta inteligente
não inventa:     escreve

poética 56

 

é ela mica bela
a mulher dos sonhos
que me acorda sempre
de um sono atávico
            um delírio pleno

uma vertigem calma
na viagem metafórica
dessa noite quântica
em que meus dedos sonham

 

tua pele clara
tua alma atlântica
esse pássaro raro
que me acende a lâmpada

poética 57

 

se a negritude ameríndia
do meu canto
lhe causa desconforto
insana criatura

desse brasil escroto

                       sai do esgoto

não se assuste

com essa química
isso se chama

Sagaranagens Fulinaímicas
meu girassol de metáforas
meu caldeirão de misturas

ando

tão tenso

nesse tempo

           estático

que não consigo

escrever tudo que penso


diagnóstico urológico



segundo o urologista

o sangue na urina

transbordou da próstata

sem passar pela bexiga

                     direto na ureta

 

e se não fosse tanta dor

juro quem sabe um dia

eu seria um bom poeta


FULINAIMAGEM

 

mais breve que

                      ponteiros de relógios

o amor roeu os ossos

comeu a cartilagem

                  da linguagem dos negócios

 

minha vida de cachorro

não está pra peixe inteligente

tenho chorado

                         as mortes que não tive

                         o morto que ainda vive

 

tem gente que aterroriza

minha pobre paciência

                        tamanha a indecência

dos seus discursos de bestas

           da sua língua de bosta


 Da série FAP

(Festival Amargas Palavras)

 

minha língua faca
corta cana brava
pra vingar meus ancestrais

se não é álcool
nem açúcar
o que é que essa usina faz?


FULINAIMAGEM 3

Overdose Nu Vermelho revisitada*

 

na linguagem dos 80

o corpo não precisava

de puteiro  prostíbulo    bordel

 

faltasse carne

pra roçar os óvulos

 a língua jorrava tinta

                        no papel

 

 

 

*Overdose Nu Vermelho – poema do livro Couro Cru & Carne Viva - 1987


FULINAIMAGEM 4

 

muitas vezes a língua pulsa pula para o outro lado do muro  outras  vezes a língua pira punk nesses tempos obscuros às vezes a língua Dada vai rolando dados nesse jogo duro muitas vezes a língua dark jorra luz nas trevas desse templo escuro


FULINAIMAGEM 5

 

nessa linguagem de palavras ostras

marisco em minha língua

                                espuma

escorre entre tuas coxas

 o mel da palavra

                                    pluma

 gosma dessa baba enguia

feito fogo queima  o sal

 dessa água impune fosse

                      espada peixe

       flecha ao sol no meio dia


FULINAIMAGEM 6

 

minha língua baudelérica

faca de dois gumes na métrica

 morde o outro gumes na delírica

 a minha língua só fonética

                                  mallarmaica

                                      brazilírica.

 

minha língua pós andrátrica

drummundana cibernética

 afrodite na genética

 mata o verme da quadrilha

 bomba de nêutron energética

               assassígna de brazilha


FULINAIMAGEM 7

 

língua nova não tem dono pode estar em qualquer boca  na minha na tua na dele na dela   morde portas e janelas como se algum dente fosse língua nova está na casa na areia na argila nesse barro chão batido nas paredes de tijolos nos telhados de algum palácio assombradado  ou mesmo  fosso língua nova está no corpo está na carne está no sangue está nos ossos  língua nova é quando posso catar um caranguejo pra escavar um novo poço


FULINAIMAGEM 8

 

a língua cospe da boca  essa saliva sangue escarro do beijo  que me foi roubado de outras bocas bêbadas desses dias inglórios descem cascatas de trovões anunciam  tempestades o sal amargo de algum ventre exposto as sevícias da barbárie nas ruínas dos castelos entulhos dos palácios esqueletos carcomidos por longos séculos de ócio


FULINAIMAGEM 9

 

rasgo o véu na membrana em tua íris espinho minha língua cavalo no galope nesse pasto de quimeras  era foice faca e vieste de outra Hera  fosse febre fértil  fumo nas artérias fosse sangue venenoso em minhas veias óxidas rios de carbono e chumbo lama mineral nos restos dos impérios  que um rei tirano trouxe


FULINAIMAGEM 10

 

a voragem da linguagem me deixou vertigem nas costas da janela estela foi despindo as coxas me beijando os músculos com os seus dedos de moça nas entre linhas do meu terno pra que a língua ardesse como pimenta azeite  no fausto fogo desse inferno


 

BraziLírica Pereira: Revisitada




Leminki Ando

 

só olho ana à vera

faça outono ou primavera

quantas eras quantas anas

em carnaval meu olho disse:

 

ana à vera  vera ana  

ana clara claralisse

vejo ana lendo eunice

quando li eu vi luana

e ana ali só vi liana

ana verso analice


macabea vozifera

 

lady gumes a diretora geral do presídio federal de brazilírica, impressionada com a decisão pungente das metáforas em produzir libertinagens, traçou um plano para que as meninas pudessem vez em quando sobrevoar os céus do parador em grande falo gigante capricórnio tropical.

macabea, a ofendida tentou de tudo: forjou mentiras, corrompeu guardas, comprou juízes, cooptou alunos, advogados de deus e do diabo, para que o vôo libertino das metáforas fosse exterminado.

"não estou aqui para que pintores sem a mínima competência pictórica tentem lambuzar com qualquer tinta da porra a minha estrela que não sobe". voziferou  Macabea.

lady gumes, decidida, prosseguiu afinando a faca nos dois legumes, e no momento exato final e derradeiro serrou as grades de ferro que amarravam as portas do corredores do presídio central.  assim feito, as metáforas sobrevoaram com um zepelin rasante, levando nas asas o seu maiúsculo  músculo aninal, e as metáforas se abriram flor de lótus em bandeiras brazilíricas tropicalhas como as filhas do chico da mangueira.


murilínDia

 

o poeta experimental passeia sua cueca monossilábica por cima dos pianos na madrugada devorando amoras. macabea invoca nossa senhora das derrotas para enfrentar o desvario. o poeta está nu cio. macabea corre o poeta flama inverso macabea chora. experimental barroco o poeta sobrevoa palácios e urubus. macabea tenta  mas não consegue ser pagu. o poeta é phoda. macabea pede: o menino maluquinho faz que não entende. macabea implora: e o poeta põe na metáfora do cu.


                                 B

no coração dos boatos

 

isso aqui não é a hora da estrela, minha mãe não é alice que apesar de freira, de hábito só tinha o vício de me prender pro entre o crucifixo colocado em  suas pernas. macabea vivia falando sozinha pelos corredores federais da outra inquisição. conseguia vez em quando reunir alguns habitantes mal informados sobre a insurreição das artes aromáticas e passava o tempo querendo mostrar  seus dotes na culinária nua e crua. seviciada pelos estivadores daquele cais do porto tentou arrancar o sexo com as unhas e enlouqueceu uivando como loba amarrada à santa cruz com jesus da goiabeira.





FULINAIMAGEM 11

 

pessoas que me comovem são aquelas que vivem ou viveram com os seus fios elétricos ligados cuspindo seus relâmpagos suas trovoadas sobre as nossas tempestades. sou fanático sim por blues samba e reggae. faço as minhas escolhas independente do meu coração partido e sigo vivo com Os Dentes Cravados na Memória para nunca jamais esquecê-las como a carne que comia -  pessoas que me comovem rasgam o peito e                                      deixam sangrar    porno grafia 


 

poética 100

 

desconstruir os objetivos fascistas
:

eis a questão

 diária missão

de cada um de nós

                      poetas
quando sabemos que

                                linha torta
                               é muito mais
que um poema em linha reta


FULINAIMAGEM 12

 

quando zeus

me apresentou o raio

umbanda venceu demanda

conheci um cão azul

que me guarda

               na varanda


tragicomédia brasileira I

 

a boca salta pela língua 
vísceras de peixes nos varais
meu corpo parede sem reboco
anjo barroco em trapos ancestrais

a casa de cimento pai à pique
roubaram da criança
                         o piquenique

puseram no palanque

                      o satanás

no país que já foi meu
               hoje não mais


FULINAIMAGEM 13

 

escrevo como quem cata estrelas do mar na areia da praia como quem come o rabo da arraia montado no cavalo marinho lambendo escamas de sereia com os dentes cravados na memória e as unhas                      entranhadas em tua veia

 

o cão azul
para Rodrigo Sousa Leão
                         in memória

 

ele cantava
como um pássaro engaiolado
as 4 da madrugada
no seu apartamento

e me perguntou
se eu tinha gostado
da garganta da serpente

e se era também azul
o cachorro que estava ao meu lado
invisível para mim
naquele momento


nas fímbrias da memória

 

o meu espelho hoje
só reflete tempestade

sem  a carne matéria o vazio
nos atropela
pela língua pela lavra
fogo e brasa
do teu corpo me acelera

perdi a conta quantas vezes
o teu nome me arrancou do sono

nas fímbrias da memória
tua metáfora  nua
olhando na janela   lua
o dia que não amanheceu

a rua  com sua língua de foca

ainda me causa um arrepio
quando  o telefone toca

 

o amor
é um barco bêbado
depois da chuva
naufragado frente ao cais
                        em Ubatuba

mulher de nuvens
ou as artimanhas inconsciente dos desejos

 

fosse eu  uma mulher de nuvens não estaria aqui presa a este mar  nas marés suor ou cio passaria como  vento sem deixar rastros vestígios pegadas voaria sobre estradas sem destino cais ou porto viajar mesmo  sem nenhum conforto ou calmaria nas partidas e ventania nas chegadas

 

vasto brasil esse nordeste centro oeste norte sul se der na telha vou pra leste  fosse eu mulher ou vento sul jamais eu  manso em  calmarias me romperia em tempestades pânico espanto poesia cacomanga só saudade que mulher de nuvens   seria a mulher que me invade ou a que me prende em sertanias?

 

quero saber das incertezas das marés altas baixas quentes frias e mergulhar nas correntezas mesmo que me afogue mais um dia  em ilhas belas portuguesas na mais terrível ventania nas ferraduras de búzios ou algum mar  algaravias onde  mulher das nuvens me leva ao altar das carnavias  em noites de sonhos quando  eu era   Dionísio  na babel das sacristias  lambia a hóstia  nas coxas a ostra que padre benzia  primeiro    delírio concreto  em  estado de poesia 


ancestral

 

há muito tempo não recebo cartas de ninguém mas não rezo padre nossos simplesmente para dizer amém                 já fui católico rezei terços ladainhas acompanhei a procissão dos afogados na tapera para soletrar a palavra ca co man ga e entender que o barro da cerâmica trago grudado na retina - meu batismo de fogo foi numa santa cecília entre víboras e serpentes  mordi a hóstia do padre - sua saia preta -  me levou a pânicos e pesadelos - de sonhar com  juízes que hoje posso saber o que são -  minha África são os olhos negros de Madame Satã - na língua tenho uma sede felina  na carne essa  fome ancestral pagã – de ser um homem         comum         filho de Ogum com Iansã


cato caco de vidro nos azuis

                                             

cato cacos de vidros  nos azuis dos alumínios lâminas  de fogo azulejos nesse olho d'água  algas e pedras nesse tempo ostras  antes das horas que o dia tarda e os tiranos engatilhem  seu torpor maligno - cato caco de vidros nessa areia carma e provo o sal o sangue o sexo a saliva o cio dessas horas tontas - são tantas horas perdidas outras desencontradas  na areia da praia no rabo da arraia na ponta da lua branca nas espumas nos espermas  que não fizeram filhos nas pernas nas coxas no litoral dos ânus - essas horas que se perderam em ondas elétricas que se ejaculou nos ventos nas marés do zeus me livre onde netuno não aporta mais os seus navios


com os dentes

cravados na memória

 

em são sebastião do sacramento suas coxas em  movimentos me lembravam  peixes sagrados nos mares que minas não tem - mãos por teus montes claros provocavam  marés - atropelos -passeios de língua entre pelos também em outras partes lábios de mel sal abissal um peixe espada - prometeus -  desejos despindo teus seios teus dentes cravados nos meus e a lua por sobre a capela a luz em tua alma - donzela -  afrodite  - uma  caça indefesa - presa - em minhas unhas de zeus


FULINAIMAGEM 17

 

essa espessa nuvem de fumaça arregaça meus intestinos me provoca esse estado de  não sei quantas adrenalinas essa besta no cio esse desatino e o destino do menino esse veneno em cada grão de soja em cada grão de milho em cada folha de alface essa face carcomida antes dos trinta e eu pensando no meu filho – o paiol de milho na cacomanga que toquei fogo aos 7 e meu pai num silêncio profundo me colocou  na garupa em seu cavalo e cavalgou pela fazenda eu com medo da bronca ele em tom de ironia e um tanto que de profeta  disse-me em seu silêncio como sempre me dizia - meu filho vai ser poeta – estava escrita a profecia 


 

 

ainda que eu fosse

 

ainda que eu fosse peixe
ainda que fosse pedra
maré de maio não medra
maré de junho não fedra

a senhora das tempestades
vestiu meu vestido de chuva
vestiu minha blusa de vinho

nas festas das horas marcadas

a senhora das trovoadas
despiu minha roupa de sexta
despiu minhas roupas de quarta
deixou-me com saldo das festas
        com gosto de encruzilhadas

 

                                                Rúbia Querubim



delirante

no mirante do Leblon

 

estava aqui pensando exatamente agora a fantasia que vou usar no carnaval - pensei em sair nu pela avenida atlântica e subir o corcovado   dar um abraço no cristo redentor encontrar um amor vadio em são conrado encarar de frente a barra da tijuca na certa vão me chamar filho da puta viado descarado - mas não estou nem aí pra preconceito encontro  Marisa Vieira - Mym Mesma - no  meio desse caminho e sei  que no carnaval nunca  vou estar sozinho

 

                                                 EuGênio Mallarmè


 

a mulher dos sonhos
será que Freud explica?

 

ontem sonhei com a mulher dos sonhos não era minha mas procurei saber quem era encontrei o endereço não estava -  a governanta me falou que estava em búzios - não a vi mas ouvi uma voz e me dizia: - todo escrito deve ser falado todo livro deve ser bem lido e quem fala deve ser sempre escutado - o telefone toca não atendo nem sei quem está do outro lado - deu pra ver dois olhos nos búzios na areia ainda molhada pela espuma das ondas e o vai e vem me deu um susto era ela toda de branco lenço azul nos cabelos 3 contas de vidros nas mãos quando percebi quem era acordei do outro lado da praia ela gritou meu nome – perguntei quem era – ela me disse o sobrenome – não decifrei o sonho – mas perguntei se freud explica – ela me deu um beijo na boca.


mallarmè me deu o toque

para Filipe Barbosa Buchaul Gomes

 

poesia é pau é pedra
palavra sem retoque

quem conhece o lance de dados 

não joga com dado lance


não troca flecha por lança

nem armadura por bodoque

 

quem sabe que  vida é fedra

não teme a hora do toque
nem quanto custa ler Roberto Piva
e ouvir Fil Buc com a sua  banda de Rock

 

                                                        

escridura

 

esse poema absurdo
direto no ouvido do surdo
escridura nos olhos dela
ela bem sabe o que desejo
ela bem sabe o que espero
tem canivete no sangue
tem um alfinete entre dentes
a faca que corta a navalha
sangrou as tripas no ventre

o beijo quando for que seja
de língua lambendo a carne quente



ela já foi meu grande amor
chegou na trovoada
                        feito ventania

foi como tempestade
morreu na calmaria

 

poema 6

 

poema não é
só palavra doce
cristal de açúcar
mel néctar flor
pode ser até
um gesto de ternura

 poema
também é dor

nas entranhas da nervura
é peixe morto
agro tóxico

lixa na tessitura

desc0ncerto desconforto

           pedra  na rapadura


cato cacos de azuis
nos alumínios
em cada mínimo
                que vejo
azulejo


estação 353

 

um girassol se escondeu

por trás do portão de entrada

                     entre suas pétalas

cantava minha amada

pegando seu barco no cais

                um blues rascante rasgado

 

           desses que não se houve mais




um poema mallarmaico

satírico freudelírico aramaico

onde voz nenhuma me alcance

um lance de dedos nos dados

uns dados de dedos no lance 


 onde vais cinzia farina

toda vestida de letras

como quem grafita na areia

esse seu espelho d´água

à beira mar na lua cheia ¿


nonada

 

nonada no meu prato

na hora do meu  almoço

nonada no meu prato

na hora do  meu jantar

 

nesse país a fome é tanta

que comeram meu calcanhar


no lance de tantos dedos
no jogo de tantos dados
meus 5 sentidos mordem

 signos

                               sem decifrar   significados


se continuarmos

a dar  queijo para os ratos

eles continuarão

a roer nossos sapatos 


grafitemas e figuralidades

 

estou escrevendo um mini conto um grafitema umas figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia  vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê  nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou quem eu   era 


 

            a transa as tralhas os truques 



cai o pano

nenhuma surpresa

pratos vazios sobre a mesa


nessa pedra me abstenho

nessa pedra me abstrato

não concreto o que não tenho

nem des(calço) o teu sapato


 

o cateto  na hipotenusa

a hipotenusa no cateto

o som dessa flauta me parece

sinfonia do Hermeto 


essa minha obsessão

por beleza na ternura

abstrata no concreto

vem da plasticidade

de uma nova arquitetura


o amor
esse bandido
levou-me os fios de cabelo
roubou todos meus  sonhos
e transformou em pesadelos 

Poema 8

 

 

o dia que não te vi
foi baudelérico

a noite que não beijei sagaranagem
quando vi e não me viu não entendi
porque o  amor não foi selvagem

 

quando beijei e não sentiu
só mallarmélico

para escrever o que ainda
está por vir quando delírico


amoras : ame-as ou devoras

Isadora ou me decifra ou juro

que vou embora

 

aqui nem só jabuticabas florescem nesses meus enredos a terra ancestral do meu sangue   amoras roçam as palhas da cana caiana doce carne  das frutas a flora na flor dos mangues  em mim são  cajás e são mangas como a   carne do corpo laranjas bananas siriguelas o agridoce das pitangas  como quem  chupa e goza a multicor das aquarelas


                             última ceia

 

do peixe vamos comer

somente espinha

na rapadura com farinha


 

 auto biográfico

 

a minha relação poesia.teatro.poesia é visceral vital para o que escrevo como quem encena  a necessidade do corpo como expressão não planejada nem pensado o que se  sente quando jorra  palavras no deserto branco do papel - o corpo dada lance de dados jogos e lances na ponta dos dedos o dado rola quando o estômago ronca e as tripas falam quando as vísceras sonham transborda sangue esperma  no mar das belas coxas quando ela tinha 17 e eu já 39 no auto do boi pintadinho por avenidas e campos cidade dos precipícios onde uma musa  estudante quase me leva pro hospício 


vertigem 12

 

o barro do valão que ospés pisaram impregnou o sangue transpirou  nos poros o limo embaixo das unhas lembra-me o lugar de onde vim aquele sertão alado como uma ilha de creta montando alazão enluarado pre-destinado a ser poeta não tracei a linha reta já nasci um anjo torto nada em mim se concreta no meu sonho – desconforto -

 

tudo em mim é impossível até mesmo imprevisível muito mais que inalcançável não gosto de automóvel muito menos televisão cresci dentro do mato conheci olho de cobra tigre  felinni felino   moleque malandro gato  com dentes afiados de cão


cada um com seus desejos

e o amor em desalinho

eu tinha fome de beijos

ela tinha sede de vinhos

 

pandeprosa

para Divanize Carbonieri

 

 

poesia

poderosa

muitas vezes

pandeprosa

muitas vozes

vozes muitas

muitas outras

línguas claras

mesmo em noites

obscuras

o abstrato se depura

em raras vozes

vozes raras

ave palavra

criaturas

poesia

é coisa cara


roteiro para um poema épico

 

estou liquidi-ficando com a fome dos desejos que se foram antes

 

itinerário

 

esse poema contém vírus desejos pecados rasgados com Stella em São Conrado subindo ao Cristo Redentor do morro do Corcovado a pedra do Arpoador

poesia pecados da carne sem limites

feito lâmina a luz do sol  penetra em minha carne água sol sal céu mar limão alho mel de cana azeite suor pimenta atum sardinha gema no poema inventa cama em chamas acredite  receita infalível para o sexo dinamites

 nesse mar de espuma voa leve pluma nos teus olhos d´água travesso desde menino pelo destino em ser felino por travessura e desatino nas entre linhas das minhas vinhas uvas passas ao rum línguas de vinho


Po Ema

 

se penso resisto mesmo tenso insisto atravesso o tempo como quem partia nesse azul de sal num mar de algaravias como quem se esquece numa quinta feira  grafitando ideias com um giz de cera em um mar de algas em tua pele pera na corte dos fellinis  o mais felino quebra as regras da estética desde menino zomba da rima rica na poética por ironia do destino

a solidão berra entre  céu e  terra

pala(r)vras de fogo em cartas incendiárias queimaram horas e dias nem sei mais o que pensam as 7 medusas do monstro encontradas no manguezal

 

tupi or not tupi

 

Itapetininga pedra de sal no mar de Pirapitanga  tem gente que de repente deixou de ser ou já não era¿  quem disse que amor é santo¿ nem tudo que poderia te dizer escrevo nem sei mais quem habita as costas do teu litoral e quantas algas já contei nas asas do temporal imagens em chamas vieram nas entre linhas rasgando as entre minhas esporas palavras dela

quem disse que desejo

não cabe no poema?

 meu objeto do desejo tem nos olhos cor de algas e algum peixe que se foi sem teatro a alma   não respira perde-se a vida Serafim Ponte Grande ainda me aponta uma ponte algumas trilhas tenho uma amiga que ainda não sabe quanto é musa - nas Juras Secretas para ela muito já foi escrito e muito mais ainda  tenho   a escrever até rasgar as entranhas nas armadilhas do ser  estou desde dezembro sem poder fazer o que gosto e isso me deixa em desgosto a vida sem tira-gosto vida de gado: depois da engorda o matadouro  céus de fogo já rompendo as madrugadas  em noites claras  do  sertão por serTão iluminadas trago essas noites dentro das cercas e arame farpados  os currais dos campos cerrados meu mato grosso de sangue vermelho fincou na cancela imagem do corpo estirado depois do tiro no peito na fazenda encharcada abandonada  trago essas noite no tempo  da cacomanga assustado um menino que aos 7 anos viu a morte de perto por dentro de uma garrucha  do seu tio ali suicidado


hoje nem sei se escrevo

poema em linha reta

    ou se embarco direto

para ilha curva de Creta


dada ista dada

 

 ista era uma menina que me queria quântico metafísico se o amor não fosse em carne até mesmo osso com o estigma da crueldade presente em cada ato quando a pimenta do reino ardesse em vossa língua ou queimasse à flor da pele o céu da boca e a carne nua e crua exposta ao sol ao vento fosse apenas um feixe de lenha a ser levado por qualquer lenhador que ousasse invadir seu mato dentro

 ista me queria dentro de um versículo bíblico mastigando a pedra até o pó a memória é uma língua suja que lambe a carne das palavras morde com seus dentes até sangrar melado dos canaviais dessa lavoura arcaica que hoje cultivo em meu quintal tem dias que a ossatura no corpo não é mais que uma carcaça segurando a capsula da pele aqui de fora esse corpo que carrega 288 estações primaveras verões outonos invernos à beira de um abismo sem luz no fim do túnel pra clarear  meu modernismo 


                          nonada

:

o homem com a flor na boca

 

 

vida toda linguagem

língua o trem da viagem

 

pinda o nome

na terceira margem do rio orucun

 

o mato grosso

me acertava

com algo

que ainda não conhecia

 

flecha de fogo certeira

Divanize me alertava

e o coração estremecia

 

os dias selvagens te ensinam

Aricy de minas

refletia

 

o amor no cerrado sangrava

como um beijo no asfalto

na boca de quem comia

 

o barco deslizava nas águas do paraguai

em direção ao futuro que não vinha


o homem com a flor na boca

atravessou o pantanal

com o seu poema pássaro

 

ave palavra profana

cabala que voz fazia

 

moro no teu mato dentro

não gosto de estar por fora

tudo que me pintar eu invento

como beijo no teu corpo agora

 

de suas janelas ela me olhava

como alguém que ainda não me percebia

o barco seguia seu fluxo

o sangue na veia era o que mais me ardia

 

ela só tinha nos olhos

animais aquáticos

os pássaros vez em quando

pousavam em suas janelas

 

minha língua lendo Ivo

me revelava o tempo e a ostra

 

campos era uma cidade

noblesse uma livraria

nas veias da mocidade

arte era o que existia


a bruxa dos cacos de cogumelos azuis

me confessou rasgando um blues

com os gumes da carnavalha

e as lâminas de um canivete

prometeu esquartejar os vermes

na próxima sexta vinte e sete

 

 na noite consagrada ao desfile

toda cidade enfeitada

 para um novo  ritual

amanheceu a flor do pântano

e era domingo de carnaval

 

colorau o nome  do  vermelho

com que batizei o festival

 

no nine nem

língua toda viagem

linguagem que me convém

 

em meu estado de surto

Sartre de  poesia

mama áfrica

a minha mãe já me dizia

ferramenta de barbeiro é carnavalha

a do poeta deve ser filosofia


retorno da viagem o hiato (entre parênteses) porto viejo canavarro onde o barro da carne era mais quente carnaval com fogos de artifícios um ritual em algum navio alguma nave o pantanal o mato grosso uma viagem a travessia

 

cada escola de samba que passava era  um  grito de nostalgia o pelo na pele arrepiava oswaldívia me visitava e quem disse que me alivia o corpo em transe delira e o povo de lá  sucupira  entre o pantanal de  Corumbá e a fronteira  na Bolívia meu corpo todo à deriva no mato grosso do sul no barco só tripulantes com seus turbantes azuis lábios vermelhos das tintas extraídas dos urucuns onde índios mascam contentes as suas folhas de coca e celebram seu presidente 

Evo Morales  nativo no fogo daquela gente num ritual transitivo  me leva a muitas cervejas do outra lado a fronteira  de santa cruz de lá sierra  a barra do sol cana brava  usina de sal minha terra onde Stella   me esnobava mas bom cabrito não berra atravessei a fronteira  fui dançar  com Gabriela uma índia  boliviana  que me agarrou pelas costelas e me amarrou num trava língua como os meus  tempos na tapera 


não é fácil

uma linguagem fácil

complexa ou  metafórica

no ritmo de uma roda gigante

que a tua  língua não controla


sensualidade

água

escorrendo

sobre

a

pele

da

saudade


incorporação

para Igor Fagundes

 

                                                             esse poema bárbaro

com um fonema brazilírico

vai fazer meu aramaico

ir dançar  no seu delírico

 

palavras que incorporo

dança vento movimento

folhas verdes no algodão

 

fulinaímico dançarino

moleque um tanto menino

no frevo xaxado xote

na zabumba do baião

 

nos atabaques da macumba

te incorporei  cantando rumba

em bandas de rock and roll

pelos terreiros da lapa

nas noites por onde vou


tragédia infame

 

empresto minha voz aos deserdados os desnutridosos que não tem pela manhã café com pão e sobre a mesa no almoço nem mesa nem carne seca com farinha espinha de peixe na garganta é o que sobrou pra curuminha

empresto meu corpo minha voz a esses personagens os que tem sede  os que tem  fome ou os que morrem assassinados nos guetos  nos campos nas cidades  por balas de fuzil  está fudido esse  brasil entregue as traças e só  me resta exterminar o nome o sobrenome o apelido do causador dessa desgraça


Goytacá Boy 2

 

araraquara guaxindiba itaocara grumari

o que liga essas palavras ao  eu vocabulário

a carne índia o sangue a cachaça paraty

grussaí guarapary baia da guanabara

 

juntei meu goytacá seu guarani

tupi or not tupi

não foi a língua que ouvi em tua boca caiçara

 

capivari tucuruvi taubaté pindamonhangaba

piracicaba pirapora piraí paranapiacaba

 

vim da tapera carioca do roçado do aipim

cacomanga minha toca  meu coração ururaí

tupinambá goytacá tupiniquim

 

quanta selva quanta  mata desmatada

desde o dia que o português pisou aqui  

 

 

para falar para lamber para lembrar

da sua língua arco íris litoral

como colar de uiara

é que eu choro como a chuva curuminha

mineral da mais profunda lágrima

que mãe chorara

 

para roçar para provar para tocar

na sua pele urucun de carne e osso

a minha língua tara

sonha cumer do teu almoço

e ainda como um doido curuminha

a lamber o chão que restou da Guanabara

 

juntei meu goytacá seu guarani

tupi or not tupi

não foi a língua que ouvi

em sua boca caiçara

 

gargaú guriri itapevi abapuru

minha musa antropofágica tem o nome de pagu

 

 tarcila anita d´alkmim itaim

guarujá piratininga itapetinga itaquera

quantas palavras ensanguentadas nas taperas

 

santeiro do mangue minha pátria meu tesouro

100 anos se passaram como vento

e são paulo transformou-se

numa selva de concreto uma cidade de cimento 




Federika Bezerra : A Porta Bandeira

Que BorTou Olivácio Doido

 

 

Em mil novecentos e vinte e cinco

na noite de orgias satanazes

um raio de trovão incandescente

rachou a igreja em Goytacazes

um vulto do despacho então desceu

movido por farol de grande luz

tocou na pedra quebrou cruz

a Rainha do Fogo dessa gente


Federika de ouro azul e prata

na porta da igreja foi parida

criada pelo Padre Olivácio

que logo depois lançou na vida

aos cindo de idade encantada

foi pega masturbando em sacristia

por causa de um sonho com o príncipe

DuBoi da mais sagrada putaria


Expulsa da cidade foi pra longe

cresceu entre os jardins de JardiNÓpolis

mas se você pergunta Freud Explica:

- o seu palácio agora é em Petrópolis


Aos dezenove plena de alegria

conheceu Gigi da Bateria

na porta do Beco de Satã

na festa federal do Bar da Lama

 

a Deusa dos Lençóis de toda cama

sorrindo para ver como é que fica

dá um corte na história inverte o drama

e transforma Ouro Preto em Vila Rica


e assim vamos cantar em verso e prosa

a saga dessa Deusa Iansã

que em busca da mordida na maçã

sonhava encontrar Guimarães Rosa


Viemos do SerTão para os seus braços

porque a Mocidade Independente

é a mais fina e pura Flor do Lácio

afilhada do secular Padre Miguel

e fiel ao seu pai Padre Olivácio

e para completar a grande roda

trazemos o cacique Pau BraZil

o centenário Oswald de Andrade

filho da paulicéia que pariu!


Passando pelas bandas do Catete

dançando na maior intensidade

macumba com o índio brasileiro

nossa Ex-Cola campeã da liberdade

Federika engravidou o grafiteiro

do famoso cacete Samaral

que escrevia pelos muros da cidade:

Mocidade já ganhou o Carnaval!


e assim vamos cantar na grande roda

tudo o que deu e o que não deu

o dia que um pastor bem  collorido

pensou ser pai de santo e se fudeu!


Artur Gomes

poeta.ator.produtor cultural vídeo maker

 2021 - Curador da Mostra  Cine Vídeo de Poesia Falada realizada pelo SESC – Piracicaba-SP

Curador do 1º Festival Cine Vídeo de Poesia Falada

Integrou a Mostra De vídeopoemas dentro do Projeto Arte de Toda Gente realizado pela FUNARTE-Rio com curadoria de Tchello d´Barros

 

livros publicados:

 

Um Instante No meu Cérebro – 1973

 Mutações Em Pré-Juízo – 1975

 Além Da Mesa Posta – 1977

 Jesus Cristo Cortador De Cana – 1979

 Boi-Pintadinho – 1980

 Carne Viva – 1984 – Antologia de Poesia Erótica –

Org. Olga Savary

 Suor & Cio – 1985

 Couro Cru & Carne Viva – 1987

 20 Poemas Com Gosto de JardiNÓpolis & Uma Canção Com Sabor de Campos – 1990

 Conkretude Versus ConkrEreções – 1994

 CarNavalha Gumes – 1995

 BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas

 Alpharabio Edições – 2000

 SagaraNagens Fulinaímicas – 2015

 Juras Secretas – Editora Penalux  2018

 Pátria A(r)mada – Editora Desconcertos – 2019  

Prêmio Oswald de Andrade – UBE_Rio- 2020

 O Poeta Enquanto Coisa – Editora Penalux -  2020

 

 Criador dos Projetos:

 

Mostra Visual de Poesia Brasileira realizado de 1983 a 1994 em diversas cidades brasileiras.

 Mostra Visual de Poesia Brasileira – Mário de Andrade -100 Anos – realizado pelo SESC-SP em 1993

 Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim – realizado pelo SESC-SP em 1995

 FestCampos De Poesia Falada – realizado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, na cidade de Campos dos Goytacazes, de 1999 a 2019

 De 1975 a 2002 Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas da Escola Técnica Federal de Campos e Cefet-Campos

 Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia e tem gravado e ainda inédito o CD Fulinaíma Afro Tupiniquim

 De 2011 a 2012 – Dirigiu o Laboratório de Produção Cine Vídeo – no IFF Campos Campus Centro

 De 2011 a 2012 – Dirigiu no SESC Campos Oficinas de Produção Cine Vídeo

 De 2014 a 2016 – Dirigiu no SESC Campos Oficinas de Artes Cênicas

 De 214 a 2017 – Dirigiu no SINASEFE – seção Campos o Curso de Teatro Multi Linguagens

 De 2018 a 2018 – Lecionou Poéticas no Curso Livre de Teatro da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima em Campos dos Goytacazes-RJ

 Tem poesia publicada nas principais revistas digitais de arte e literatura, tais como: GERMINA, GUETO, ACROBATA, RUÍDO MANIFESTO, QUATETÊ, ESCRITA DROIDE, MALLARMARGENS, CRONÓPIOS e ALGUMA POESIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fulinaíma MultiProjetos

(22)9815-1268 - whatsapp

portalfulinaima@gmail.com

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POÉTICAS

 

EntreVistas

www.arturgumes.blogspot.com  

Studio Fulinaíma Produção Audiovisual

https://www.facebook.com/studiofulinaima

PoÉticas ArturiAnas

www.fulinaimatupiniquim.blogspot.com



 

 O Homem  Com A Flor Na Boca

www.arturfulinaima.blogspot.com

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