quinta-feira, 20 de março de 2025

BalBúrdia PoÉTICA 6

Balbúrdia PoÉtica 6

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

Dia 17 maio – 20h

Usina4 Casa das Artes

Rua Geraldo de Abreu, 4 - Cabo Frio-RJ

 

ela era Bruna

em noite de blues rasgado

soltou a voz feito Joplin

num canto desesperado

por ser primeiro de abril

aquele dia marcado

 

a voz rasgou a garganta

da santa loucura santa

com tanta força no canto

que até hoje me lembro

daquela musa na sala

 

com tua boca do inferno

beijando meus dentes na fala

 

Artur Gomes

poema do livro Pátria A(r)mada

Desconcertos – 2022 

 SER OU NÃO TER

 

Para a nossa eterna anarquia

cabocla,

caiçara,

caipira,

seja qual nome queiram dar,

o pai do posto maior

nunca nos serviu bem

 

Qual mito vamos necessitar?

Um místico apocalíptico

Tipo o Conselheiro

ou um militar genocida

Tipo o Caxias ...?

 

Se é pra ter nessa politrica um pai,

melhor um que nos prometa o céu

ou um que nos arremeta ao inferno?

 

José Facury Heluy

 

Fulinaíma MultiProjetos

@fulinaima @artur.gumes

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27 de Março Dia Mundial do Teatro

compartilhando texto de Fernando Bonassi que recebi do meu querido amigo Wilson Coêlho

 

NÓS FAZEMOS TEATRO - Fernando Bonassi

Contra a ignorância, o terror, a falta de educação, a propaganda de promessas, o conforto moral, a ordem acima do progresso, a fome, a falta de dentes, a falta de amores, o obscurantismo... nós fazemos teatro.

Fazemos teatro pra dar sentido às potencialidades, pra ocupar o tempo, pra desatolar o coração, pra provocar instintos, pra fertilizar razões, por uns trocados, por uma boa bisca, porque é fundamental e porque é inútil.

Pra subir na vida, pra cair de quatro, pra se enganar e se conhecer... contra a experiência insatisfatória; contra a natureza, se for o caso, nós fazemos

teatro. Fazemos teatro pra não nos tornarmos ainda pior do que somos.

Pra julgar publicamente os grandes massacres do espírito. Pra viabilizar a esperança humana, essa serpente...

Nós fazemos teatro de manhã, de tarde e de noite. Nós somos uma convivência de emoções, 24 horas distribuindo máscaras e raízes.

Nós fazemos teatro de tudo, o tempo todo, porque acreditamos que a vida pode ser tão expressiva quanto a obra e que devemos ter a chance de concebe-la e forni-la artisticamente. Porque estamos acordados. Porque sonhamos os nossos pesadelos.

Nós fazemos teatro apesar daqueles que, por um motivo que só pode ser estúpido, estejam “contra” o teatro. 

Aliás, o que pode ser “contra” algo tão “a favor”? Nós fazemos teatro contra a mediocrização do pensamento; a desigualdade entre os iguais e a igualdade dos diferentes.

Nós fazemos teatro contra os privilégios dos assassinos de gravata, batina, jaqueta, toga, minissaia, vestido longo, farda, camiseta regata ou avental.

Contra a uniformidade, nós fazemos teatro. Nós fazemos teatro contra o mau teatro que querem fazer da realidade.

Nós fazemos teatro pra explicarmo-nos – ainda que mal – e ao mal de todos nós dar algum destino menos infeliz. Nós fazemos teatro pra morrer de rir e pra morrer melhor.

Pra entender o inestimável, se esfregar no infalível, resvalar na nobreza, experimentar as mais sórdidas baixezas, pra brincar de Deus...

Nós fazemos teatro, comendo o pão que os Diabos amassam, os pratos feitos que as produções financiam e os jantares que as permutas permitem. Nós temos fome da fome do teatro. Porque onde houve e há teatro, houve e há civilização.

Fazemos teatro sim, tem gente que não faz e está morrendo, essa é que é a verdade.

 

Fernando Bonassi (1962) é escritor, roteirista, dramaturgo e cineasta.

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Balbúrdia PoÉTICA 5

Dia 5 Abril – 2025 – 16

música.teatro.poesia

com textos/poemas de:

Ademir Assunção + Artur Gomes + Clarice Lispector + Ferreira Gullar + Paulo Leminski + Torquato Neto + Viviane Mosé

Convidado: poeta e escritor César Augusto de Carvalho

*

em vampiro goytacá

canibal tupiniquim

todas nós somos vampiras


numa página a gente transa

noutra página a gente pira


Irina Serafina 


Na Academia Campista de Letras

Parque Dr. Nilo Peçanha – Jardim São Benedito – Campos dos Goytacazes-RJ

 

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entredentes 3

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FAGULHA

sou as sombras

que me as assombram

sou só sobras

que se sobrepõem

sou o nada

que me arrebata

sou fagulhas

que me anulam

sou o nada

que me fala

sou o falo

que se cala

sou o fim da vida

que se anuncia

sou cio

que silencia

sou o ser

que só é

(Foto: Marcelo Brettas)



Impotência

 

(Para o homem que dorme do outro lado da rua)

 

A criança nasce como quem cai,

sem saber do peso das sombras.

Os olhos são dois cacos de vidro,

refletindo um céu que nunca é seu.

A mãe a embala com mãos de vento,

um vento sem pouso, sem nome,

onde ninam os órfãos do tempo.

No primeiro riso, já se esconde a febre.

No primeiro passo, o tropeço se avizinha.

No leite morno da boca, um gosto de ausência.

Brinca com pedras,

porque os homens sempre lhe negam o pão.

Faz do osso um carrinho,

da fome um soldado sem rosto.

E cresce assim, roendo os dias,

correndo entre portas que nunca se abrem,

chamando pelo nome quem nunca responde.

Na esquina, um cão lhe lambe os dedos,

e é ali, no silêncio do bicho,

que aprende o que é ser amado.

 

Simone Bacelar

Salvador 26/03/2025

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Amanhã 28 de março, 190 anos da cidade de Campos dos Goytacazes, e a partir das 18h na Academia Campista de Letras, encontro para discutirmos a próxima edição do FDP.

 

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NOMINATA DA MOSTRA VISUAL DE POESIA BRASILEIRA

Cabo Frio (RJ) 2025

 

Adão Ventura + Ademir Assunção + Al-Chaer + Angel Cabeza + Armando Liguori Junior + Aroldo Pereira + Artur Gomes + Belchior + Caetano Veloso + Carlos Barrozo + Carmem Salazar + Celso de Alencar + César Augusto de Carvalho + Clara Baccarin + Dalila Teles Veras + EuGênio Mallarmè + Federika Lispector + Federico Baudelaire + Ferreira Gullar + Gigi Mocidade + Irina Sefarina + Jorge Ventura + José Facury Heluy + Jidduks + Jurema Barreto + Karlos Chapul + Lau Siqueira + Lira Auxiliadora Lima de Castro + Luis Turiba + Mário Faustino + Mário Quintana + Martinho Santafé + Marcelo Atahualpa + Mônica Braga + Nicolas Behr + Noélia Ribeiro + Oswald de Andrade + Paulo Leminski + Pastor de Andrade + Regina Pouchain + Ricardo Vieira Lima + Rosana Chrispim + Rúbia Querubim + Sady Bianchin + Sílvio Prado + Sebastião Nunes + Sérgio de Castro Pinto + Simone Bacelar + Silvana Guimarães + Tanussi Cardoso + Torquato Neto + Tchello d’Barros + Wélcio de Toledo + Yara Fers + Zhô Bertholini + Viviane Mosé

 

Fulinaíma MultiProjetos

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Balbúrdia PoÉtica 5 

Acabo de ler todo o roteiro da Balbúrdia PoÉtica 5 que me foi enviado por Rúbia Querubim. Não pensem um Sarau, pensem uma Oficina de Poesia, como uma proposta de criação e interpretação, num roteiro com textos/poemas de Admir Assunção, Artur Gomes, Clarice Lispector, Paulo Leminski, Torquato Neto, Ferreira Gullar e Viviane Mosé.

Da forma que consigo entender  a Balbúrdia PoÉtica 5 é um ensaio para a montagem do espetáculo poético/teatral : “O sax no som da palavra dentro do poema”, onde o músico Dalton Freire vai criando intervenções sonoras dentro de algumas palavras quando faladas ou cantadas por algum ator/atriz do elenco. A mistura de linguagens e temáticas, o foco no desbravamento do tempo em que vivemos, pode nos remeter ao Mário Faustino, em “O Homem E Sua Hora”. Mas podem nos remeter também a fatos recentes como os atentados do 8 de janeiro de 2023, ou outros durante a pandemia que seifou 700 mil vidas de brasileiros. Mas o tempo também é um ser erótico nos poemas de Viviane Mosé quando afirma  que: “o tempo anda passando a mão em mim/acho que o tempo anda passando/o tempo anda/ e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo.”

Federika Lispector

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Mario Alex Rosa - casa 
Mario Alex Rosa - "Trouxeste a chave?"


- SEM TÍTULO - 1989 - KARLOS CHAPUL -
OUVLER - CULTURAS & POÉTICAS

- SEM TÍTULO - 2025 - KARLOS CHAPUL -
OUVLER - CULTURAS & POÉTICAS

- SEM TÍTULO - 1979 - KARLOS CHAPUL -
OUVLER - CULTURAS & POÉTICAS

- FEMENICIDE - 2025 - KARLOS CHAPUL -
OUVLER - CULTURAS & POÉTICAS



O tempo vai passando e sem poemas

eu fico sem problemas

até que do entre os peitos começam abismos

e de cada uma das mãos uma saudade.

Dos pés um espaço vazio

 

Estou começando a estar aprisionada

de poemas

e poemas gostam de vibrações.

Não de emoções

que são sempre  excessivas e vazias,

mas vibrações

que é também o estado das emoções

antes de terem nome

e conceito.

 

Preciso de palavras, eu penso.

Preciso  deixar falar

O rio de letras em meu corpo.

Ai tudo se completa em etapas.

Tudo se encaixa e retrai. Tudo amor.

 

Viviane Mosé

do livro desato

2006

- SEM TÍTULO - 1979 - KARLOS CHAPUL -
OUVLER - CULTURAS & POÉTICAS

- LAROIÊ! - 2025 - KARLOS CHAPUL -
OUVLER - CULTURAS & POÉTICAS

- POEZIA - 2025 - KARLOS CHAPUL -
OUVLER - CULTURAS & POÉTICAS

- COMPORTAMENTO GERAL - 2000 - 
KARLOS CHAPUL - OUVLER - CULTURAS & POÉTICAS


O COISA RUIM

 

me querem manso

cordeiro

imaculado

sangrado

no festim dos canibais

me querem escravo

ordeiro

serviçal

salário apertado no bolso

cego mudo e boçal

me querem rato

acuado

rabo entre as pernas

medroso

um verme, pegajoso

mas eu sou osso

duro de roer

caroço

faca no pescoço

maremoto, tufão, furacão

mas eu sou cão

lato

mordo

arreganho os dentes

incito a revolta dos deuses

toco fogo na cidade

qual nero

devasto o lero lero

entro em campo

desempato

eu sou o que sangra

um poeta nato

 

Ademir Assunção

 (do livro Zona Branca, 2001)

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Balbúrdia PoÉtica

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 moinhos de vento

 

por tanto tempo

por tanta escrita

por tanta carta

sem respostas

nossos moinhos de vento

muito além da mesa posta

 

ainda trago em mim

tuas mãos

tuas coxas

tuas costas

 

a tua língua

entre os dentes

em ex-camas que não tivemos

em madrugadas expostas

 

e tua fome era tanta

em tudo o que não fizemos

nesse teu corpo de santa

naquele tempo de bestas

na caretice de bostas

 

Artur Gomes

Do livro O Poeta Enquanto Coisa

2020

*

Eu sonho poema

 

Tem quem sonha

Em preto e branco

Tem quem sonha

Videoclipe

Tem quem sonha

Filme mudo

Tem quem sonha

Tela de cinema

 

Eu sonho poema

 

Armando Liguori Junior

do livro A Poesia Está Em Tudo

 2020

*

Calor dentro

Calor fora

 

Quarenta graus

à sombra

Assombra

 

Tua mão quente

sobre o seio meu

 

hora ígnea

ante o olhar

de Prometeu

 

Noélia Ribeiro

do livro Espivitada

2017



Balbúrdia PoÉtica 5

Dia 5 – Abril – 2025 – 16h

Campos VeraCidade

música teatro poesia

Academia Campista de Letras

Parque Dr. Nilo Peçanha

Jardim São Benedito

Campos dos Goytacazes-RJ

textos/poemas de:

Ademir Assunção + Paulo Leminski + Ferreira Gullar + Artur Gomes + Torquato Neto + Viviane Mosé 

*

Artur Gomes

 Jogo de Dadaísta

não sou iluminista/nem pretender

eu quero o cravo e a rosa

cumer o verso e a prosa

devorar a lírica a métrica

a carne da musa

seja branca/negra

amar/ela vermelha verde

ou cafusa

eu sou do mato curupira carrapato

eu sou da febre sou dos ossos

sou da lira do delírio

e virgílio é o meu sócio

pernambuco amaralina

vida leve ou sempre/vida severina

sendo mulher ou só menina

que sendo santa prostituta

ou cafetina

devorar é minha sina

profanar é o meu negócio

 

clique no link para ver o vídeo

https://www.youtube.com/watch?v=szABRGqMqH8


Mostra Visual Poesia Brasileira

Exposição retrospectiva

Múltiplas PoÉticas

17 Maio – 20h – na programação da Balbúrdia Poética 6 – em Cabo Frio

com a Poesia de:

Tanussi Cardoso + Lau Siqueira + Wélcio de Toledo + Sérgio de Castro Pinto + Tchello d´Barros + Jidduks + Ademir Assunção + Torquato Neto + Paulo Leminski + Noélia Ribeiro + Aroldo Pereira + Jorge Ventura + Ricardo Vieria Lima + Angel Cabeça + Luis Turiba + César Augusto de Carvalho + José Facury + Artur Gomes

 

 muito mais – aguardem mais informações

  

- tem chá tia

- com anis

- sem anis tia

 

Lira Auxiliadora Lima de Castro

 

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Balbúrdia PoÉtica

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Olhos de olhar pra dentro

Tinha uns olhos que não eram olhos,
eram tardes de chuva miúda
dissolvendo a cidade em espelhos,
estradas sem pressa,
trens que voltam e nunca chegam.

Os olhos dela sabiam de tudo,
das mortes pequenas nos quintais de infância,
dos tremores que moram no fundo do peito,
da poeira que dança no sol das manhãs.
Sabiam até quando ele mentia.

Olhos que pesavam o silêncio,
que liam cartas não escritas,
que ficavam parados, tão quietos,
mas sabiam voar.

E ele, que só tinha palavras tortas,
quis aprender com os olhos dela
a ver as coisas que não se dizem.

Simone Bacelar
Salvador (não lembro a data


Balbúrdia PoÉTICA 5

Dia 5 Abril 2025 – 16

música teatro poesia

Academia Campista de Letras

Parque Dr Nilo Peçanha – Jardim São Benedito – Campos dos Goytacazes-RJ

 

Pois bem, o dia está chegando e eu estava tenso, preocupado com uma resposta que aguardava, pois se ela não viesse a tempo, ou fosse negativa, o roteiro para a Balbúrdia precisaria sofrer alterações quase aos 45 minutos do segundo tempo. Corria esse risco. Mas eis que a reposta positiva me chegou:

Viviane Mosé me autorizou a utilizar no roteiro poemas de sua autoria. Conheci Viviane e sua poesia, em 2002, quando ela venceu o IV FestCampos de Poesia Falada com o poema; Receita Para Lavar Palavra Suja. Em 2002 ainda a trouxe a Campos para o projeto Terças Poéticas que era realizado pelo SESC Campos. Feliz Dia

Ale´m dos poemas de Viviane Mosé no roteiro da Balbúrdia PoÉtica 5 – tem poemas minha autoria  mais:  Ferreira Gullar, Paulo Leminski e Torquato neto.

 

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

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*

*


Ainda (e sempre) o amor.

No epicentro do quarto,

o ninho a acasalar

dois belos pássaros alados.

Mapeiam-se os corpos nus.

Cada qual é uma ilha.

Ou faz-se de.

Remos para alcançar.

Ou pontes.

Do litoral, areia branca.

Tão branca quanto o dorso.

O peito. Os dentes.

Não a alma, essa é multicor,

prismática cachoeira

quando o sol brilha de frente.

Orvalho em todos os poros

alumia cada gota, cada grão e cada fio.

Costura feita ao contrário

arremata o arrepio.

Passo a passo,

letra a letra, nota traz nota,

o caminho e a palavra,

se completam musicalmente:

montanhas vales lagunas

espelho

coqueiro que dá banana

limoeiro que dá caju.

Amor

- um coro de querubins.

 

ÁLVARO GOULART

 

*

dança do pensamento

 

na escrivaninha

um livro aberto

um cinzeiro

os olhos na página

o pensamento, na mulher

uma formiga no cinzeiro

o pensamento,

na mulher e no amante

os olhos, na formiga

os dedos tamborilam

o espaço diminui

a formiga recua

os dedos avançam

a mulher, o amante

os dedos se fecham

corpos se enlaçam

os dedos se comprimem

um estalo

ele limpa os dedos

volta à leitura

 

Cesar Augusto de Carvalho

LEVANTE

 

Não desprezem

as que se doam, 

Não desprezem                                                         as que se rasgam,                                                                                  que se quebram em pedaços                                  por vulgares paixões vãs...

Pois delas lhes subirão

além das tranças das memórias

iras fugidias de redomas e bordéis

que imersas no vazio dos abandonos

se levantarão do pouco que lhes move

Sob o olor da essência da flor

que lhes renovará como mulher

 

José Facury Heluy

 





Lira Auxiliadora Lima de Castro 


Camões/Lampião

(Sérgio de Castro Pinto)

1.

camões ao habitar-se

no olho cego

sentia-se íntimo,

mais interno

que o habitar-se

no olho aberto.

2.

lampião ao habitar-se

nos dois olhos

a eles dividia:

o olho aberto matava

e o outro se arrependia.

3.

camões ao habitar-se

no olho cego

polia as palavras

e usava-as absorto

como se apalpasse

e possuísse o próprio corpo.

4.

lampião ao habitar-se

no olho cego

chorava os mortos

do seu interno,

mas o olho aberto

era casto

e via no matar

um gesto beato.

5.

camões ao habitar-se

no olho aberto

via-se todo ao inverso,

(pelo lado de fora),

mas rápido se devolvia

e fechava o olho aberto

pra ser total a miopia.

6.

lampião ao habitar-se

no olho murcho

via o olho aberto

estrábico e rústico

e compreendia

o olho aberto

mais murcho

que o olho cego.

7.

camões ao habitar-se

no olho murcho

via o mundo claro

dentro do escuro

e o olho aberto

era inútil

ao habitar-se

no olho murcho.

8.

lampião

atrás dos óculos

sentia-se acrescido, somado

e era mais lampião

naqueles óculos de aro.

9.

os óculos

lhes eram binóculos

íntimos sobre a miopia

e quando os óculos tirava

lampião se decrescia:

o olho cego somava

e o aberto diminuía.

10.

camões molhava a pena

como se no tinteiro

molhasse o olho cego

e tateando, cuidadoso

saía do seu interno.

11.

(no tinteiro as palavras

em forma líquida

juntam-se uma a uma

à retina, à pupila.)

12.

camões

escrevia com o olho cego

por senti-lo mais seu

que o olho aberto

e por poder o olho cego

infiltrar-se, ir mais dentro

e externar o seu inverso.

 

Sérgio de Castro Pinto

obs.: poema vencedor do II FestCampos de Poesia Falada - 2000 - projeto de poesia criado em 1999 por Artur Gomes na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. 


Caverna

 

me tranquei na caverna de platão

pra enfrentar meus próprios males

não vi primata nem zapata nem dragão

não vi o canto das sereias pelos  bares

chamei pra briga o capeta e o facão

senti o aço perfurando a carne mole

gritei bem alto um tremendo palavrão

chamei São Jorge pra ajudar o filho pobre

daqui ninguém sai vivo nem com reza ou um milhão

um dia até o tolo acaba que descobre

perdi o medo de espelho e solidão

só levo a vida com com a pele que  me cobre

 

Ademir Assunção

do livro Risca Faca

2021

*

Barulho

 

palavra

por palavra

 

minha úlcera

de verbos

 

tece aos poucos

 

a membrana

do silêncio

 

Lau Siqueira

do livro

o inventário do pêssego

2020



Momento

 

no espaço silencioso
do ar
o pássaro me acolhe

em seu voo
simétrico
olha em meu olhar

e me devolve
a manhã renovada

 

Natureza-morta com maçãs e laranjas (Cézanne)

 

: eis a paisagem
das frutas

: eis o gosto absurdo
do mel na retina

: eis o silêncio
pendurado na parede

: eis a vida
suspensa por um fio

 * 

O poema dentro de ti

 

De modo geral,
acho que devemos ler apenas
os livros que nos cortam e nos ferroam.
Kafka

O poema só serve para acender o fogo intenso do frio que te habita.
Para te golpear como a dor do fim do amor que amas,
ou como raio a quebrar o lago que te espelha a face.
 

O poema só serve para deixares de bordar estrelas
e cumprires teu destino humano,
pois cabe somente a ti o teu enredo.
O poema não está nem aí para tua felicidade ou suicídio.
O poema só serve para que saias de ti, te leias e te encontres.

*

  Sobre sombra e luz

para a atriz Silvia Buarque

 

Os olhos tristes da moça
são onça ferida mirando o Sol da dor.
Que o amor, moça, é flecha lançada ao vento.
Chão que se quebra ao Tempo.
Barco em rio seco. Adeus de pavio lento.
O amor é rosto que olha o lago sem se ver.
Fantasma de si mesmo — vulto.
É o que se dá sem se ter.
Faca a cortar em sua inutilidade de aço.
Parto que não nasce; exílio do outro e de si.
O amor, moça, é a eterna construção da pedra em flor.
É a invenção colorida do nada.
É feito cinema, moça, ilude e acalma.
Depois, é só a vida com suas águas rasas.

 * 

 Visões

Quando criança,
o Sol queimava feito uma bola amarela
e as nuvens choravam água dentro delas.
Tudo era imensamente grande,
assim como o amor
fosse somente um rinoceronte
lambendo as lágrimas dos inocentes.
Quando criança,
o mundo era só um risco na paisagem.
A vida ainda não era dançar
diante do abismo da viagem
e a poesia não era o que nascia do espanto,
mas o encanto dos olhos do que o menino via.
  

Quando criança,
a rua era um país a explorar meus desejos
e o sexo, só uma diversão de dedos.
Eu era eterno — eu era para sempre —
tudo era para sempre.
Meus mortos eram para sempre.
Hoje, tudo é real e rói.
Só a criança teima em existir,
mas ela dói.

 

Tanussi Cardoso

  *

Tanussi Cardoso

Como Se Fosse Adeus

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https://www.facebook.com/watch/?ref=search&v=3340602625990352&external_log_id=777b88f8-c13e-4ab2-b8f8-6742306a2177&q=Tanussi%20Crdoso%20-%20%20-%20eu%20e%20outras%20consequencias


 

Toga

 

será deus

um ser

de capa preta?

 

um bosta de toga

borra botas

de despachos e

amarrações

malfeitas

 

serpente de duas cabeças

ase fartas com migalhas

deixadas pelo capeta?

 

Wélcio De Toledo

do livro

tudo que não cabe no poema

2019

 

     Balbúrdia PoÉtica 5

Dia 5 Abril 2025 16h

na Academia Campista de Letras

Parque Dr. Nilo Peçanha

Jardim São Benedito - Campos dos Goytacazes-RJ

 

nem ingênuo nem inocente

                Marielle Presente

 

hoje já sei o que vai ser

ensaio com o elenco

até um novo dia amanhecer

 

Fulinaimagem

1

por enquanto

vou te amar assim em segredo

como se o sagrado fosse

o maior dos pecados originais

e a minha língua fosse

só furor dos canibais

e essa lua mansa fosse faca

a afiar os verso que ainda não fiz

e as brigas de amor que nunca quis

mesmo quando o projeto

aponta outra direção embaixo do nariz

e é mais concreto

que a argamassa do abstrato

por enquanto

vou te amar assim admirando o teu retrato

pensando a minha idade

e o que trago da cidade

embaixo as solas dos sapatos

2

o que trago embaixo as solas dos sapatos

bagana acesa sobra o cigarro é sarro

dentro do carro

ainda ouço jimmi hendrix quando quero

dancei bolero sampleando rock and roll

pra colher lírios há que se por o pé na lama

a seda pura foto síntese do papel

tem flor de lótus nos bordéis copacabana

procuro um mix da guitarra de santana

com os espinhos da rosa de Noel

 

Artur Gomes

do livro: Juras Secretas –

Litteralux - 2018

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https://www.instagram.com/p/DHfxt75OIOJ/




              Balbúrdia PoÉTICA 6

17  Maio – 2025 – 20h

Usina4 Casa das Artes

Rua Geraldo de Abreu, 4

Cabo Frio-RJ

Mostra Visual : Poesia Brasileira

42 anos vestindo poesia brasil afora

 

Arte do chá

 

ainda ontem

convidei um amigo

para ficar em silêncio

comigo

ele veio

meio a esmo

praticamente não disse nada

e ficou por isso mesmo

 

Paulo Leminski

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mais poesia de: Artur Gomes + José Facury + Rúbia Querubim + Lady Gumes + Federika Lispector + Irina Severina + Martinho Santafé + Artur Kabrunco + Ferreira Gullar + Mônica Braga + Marcelo Atahualpa + EuGênio Mallarmè + César Augusto de Carvalho + Celso de Alencar + Ferreira Gullar + Torquato neto +Simone Bacelar + Federico Baudelaire

BalBúrdia PoÉTICA 6

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