segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Os Horrores da Ditadura Militar - 1964/1985

Incontinência Verbal

 

                     eles tentaram

 além de nos calar/apagar

 um espaço/tempo

 do país onde nascemos

viemos dos

40 50 60 70 80 90 2000

o que vivemos

 o que fizemos

o que fazemos

onde estamos

o que faremos

pra onde  iremos

 o que sabemos

incomoda/desconforta

 conhecimento liberta

é porta aberta

 e não um vão estreito

               em cada porta 


Artur Gomes

in Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

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*

 Pastor de Andrade - o antropófago quando saiu do exército em Vitória do Espírito Santo no final do ano de 1962, foi alçado ao cargo de espião do IPES e logo depois a agente do Doi-Codi. Descobrimos então que antes de ser Bispo da Igreja Universal do Reino de Zeus e Patrono da Mocidade Independente de Escola de Olivácio a Escola de Samba Oculta no Inconsciente Coletivo ele foi agente da repressão infiltrado no CISA (Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica).  Essa descoberta só foi possível depois de alguns depoimentos de ex-presos políticos sobre os 60 anos do Golpe de 1964, onde estavam no dia 1º de Abril e o que aconteceu com eles a partir dali.


Federico Baudelaire

In Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

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“Os falsos patriotas estão arrasados com a vitória de Fernanda Torres e Eunice Paiva

Vitória do cinema brasileiro serve também para mostrar ao mundo uma parte do que foram os terríveis anos de Ditadura no Brasil

Há uma parcela da população extremamente incomodada com a vitória de Fernanda Torres, a melhor atriz no Globo de Ouro. Uma vitória do cinema brasileiro, não apenas dela.

São os que se chamam de patriotas. Falsos patriotas, patriotas de araque, arautos de uma Pátria criada a partir das morte, da injúria, da tortura. De uma Pátria criada partir do desaparecimento de quem pensa diferente.

Não foi Jair Bolsonaro, o Mito dessa gente, que, de maneira covarde e abjeta, cuspiu na estátua de Rubens Paiva? Pois, agora, vê a vitória de Eunice Paiva - personificada visceralmente por Fernanda Torres - em palco internacional.

Os bolsonaristas - gente inculta e que reza por pneus - tentou boicotar o filme. E ele é o mais visto, com mais de três milhões de pessoas. Eles tentaram calar o cinema brasileiro e estão vendo sua grande vitória.

É mais uma derrota para quem não teve competência para dar o golpe - mais um - nas instituições. Outras derrotas virão. Quem sabe, contando a prisão do mito de pés de barro.”


Marcia Maria Castro Lima



Nos porões da Ditadura, uma flor

A ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, disse que as descobertas feitas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), como o esclarecimento da morte do deputado Rubens Paiva, abrem uma oportunidade para "todos aqueles, militares ou civis, que participaram daquela época de torturas em nome do Estado, façam um acerto de contas com a consciência, que devem ter". A declaração foi feita nesta sexta-feira, 28, em Porto Alegre, onde a ministra participou do lançamento local da Campanha Nacional pelo Fim da Violência Contra Crianças e Adolescentes.

Na quinta-feira, 27, no Rio de Janeiro, a CNV afirmou que Paiva foi torturado e morto pelo então tenente Antônio Fernando Hugues de Carvalho, já falecido, em 21 de janeiro de 1971, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 1º Exército, com a ressalva de que o militar pode não ter agido sozinho. Também sustentou que o comandante do DOI à época, o então major José Antônio Nogueira Belham, hoje general reformado, estava informado da tortura.

"O Brasil não aceita mais que os torturadores de ontem ou de hoje permaneçam impunes diante de seus crimes", afirmou Maria do Rosário. A ministra admitiu que o País tem a barreira da Lei da Anistia para casos ocorridos no regime militar e que eventuais caminhos para a superação disso podem ser apontados pelo Ministério Público Federal e a própria CNV.

Para Maria do Rosário, a revelação da verdade pode ser a principal punição "para esses que tiveram uma falsa ideia de que estariam sob o manto de uma mentira ou da impunidade terem seu nomes conhecidos pelas atuais gerações e terem vergonha de serem apontados como torturadores". 



“Ainda estou aqui” emociona, revolta e faz pensar no Brasil atual de tantas intolerâncias, que encontra quem se identifique com a desumanidade cínica de uma extrema direita!

Enfatizo a importância dessa obra tanto pelo compromisso humanista quanto histórico! O casal Eunice e Rubens Paiva e sua família, ainda que de uma classe média alta do Rio de Janeiro da década de 70 tiveram a vida destroçada pela ditadura militar: prisão, tortura, desaparecimento e reconhecimento da morte após 25 anos! Tudo isso está nos livros de história, mas conferir nas telas do cinema é uma forma de sentir, este é o poder da arte! E os atores foram excepcionais, Fernanda Torres, Selton Melo e todo um elenco que nos fazem reviver a covardia que tanta gente ainda exalta, há quem tenha saudades dessa época!

Fundamental que coloquemos em relevância a memória dos mais de 20 mil mortos pela ditadura militar para que não permaneçam impunes! Nas vésperas do 8 de janeiro, o atentado à democracia no Brasil, lutemos por justiça sempre e para que não vire moda: “sem anistia para golpistas! Bolson@aro na cadeia!”


                                    Wesclei Ribeiro 

*

"Acabamos de assistir Ainda estou aqui. Mesmo que todas as críticas até o momento tenham sido amplamente favoráveis, o filme conseguiu superar nossas melhores expectativas.

De minha parte, ainda estou aqui refletindo sobre tudo: a prisão clandestina de Rubens Paiva, arbitrariedade não assumida pelo Exército; a implícita tortura do ex-deputado do PTB nos porões da ditadura; a morte do pai de família escondida covardemente da mulher e dos filhos por 25 anos.

Considerando que vivi essa época como adolescente, posso dar meu aval à obra, porquanto já fui revistado com a truculência exibida logo no início, na cena da blitz. E, quase aos 70, ainda estou aqui a testemunhar as suas piores sombras até hoje.

Sim, hoje, o noticiário do dia não me deixa mentir. Daí que, por causa da revelada conspiração que tramou a morte de Lula, Alckmin e Moraes, o filme mostrou-se ainda mais real; perigosamente atual.

Já em relação à produção em si, fiquei impressionado com a qualidade e a fluência do roteiro, sobretudo pela delicada beleza extraída de tamanha violência.

Quanto ao elenco, nunca é demais destacar a soberba interpretação de Fernanda Torres vivendo Eunice Paiva, tudo na doce companhia de Selton Melo e suas crianças.

Eunice que também é vivida pela Fernandona, em dupla homenagem que o cinema fez a essa grande mulher."

 

                 Sérgio Bandeira de Mello

*

Não é preciso mostrar cenas de corpos sendo brutalmente machucados e feridos em calabouços de tortura. A tortura, contrária à vida lógica da harmonia quântica, fala por si só. Talvez tenha sido isso que Marcelo Rubens Paiva apontou sobre o modo de abordagem na feitura do filme "Ainda Estou Aqui".

Vivemos tempos que dilaceram, mais que tudo, a lógica divina e benigna da vida, cuja regeneração está também na arte.

Caetano Veloso, no documentário "Narciso em Férias", faz uma análise colossal diante de algo misericordioso, porém claro, enfático e impávido, como Muhammad Ali. Ele relatou o tratamento que recebeu na prisão militar, dizendo algo como: os militares nos tratavam como se não fôssemos humanos — ou, melhor, como se eles não fossem humanos.

Muito se poderia dizer sobre a terrível chaga do não ser, esse estado de "menos ser" do que se poderia. Algo que, em algum momento, transcenderá o espinho e desabrochará na flor dos tempos, trazendo consigo o perfume da razão. Mas foi dito mais, bem mais.

De minha parte, não via o prêmio Globo de Ouro como algo que, de algum modo, tornasse a obra ou seus atos maiores do que já são. No entanto, trata-se de um prêmio que reconhece o que, de fato, merece ser reconhecido. Fico feliz por isso. Emocionei-me duas vezes: a primeira, ao assistir ao filme; a segunda, ao ver Fernandinha sendo premiada. Como ela mesma disse, lucidamente, já sentia a obra e seu trabalho contemplados apenas pelo reconhecimento da indicação.

Fernanda Torres nos traz o florescer de um legado de uma mãe — Fernanda Montenegro — que soube doar-se à arte e à vida. Mais do que isso, sua mãe também nos presenteou com a sensível e grande atriz Fernandinha Torres. Essa trajetória desperta orgulho, especialmente ao ver brasileiras e brasileiros revisitando o que merece ser reconhecido como resistência e beleza.

Eunice Paiva e sua família representam esse sentido: deram destino a algo maior que a dor — o amor. Esse amor perpetuou-se nos filhos e ampliou-se, tornando-se parte daquela família, da família das Fernandas e, de certo modo, de todas e todos nós.

                        

              Adriano Andrade Barboza 


A história do sequestro, tortura e morte de Rubens Paiva ganhou telas no mundo e agora ganha prêmio pela mãos de Fernanda Torres. São muitas Eunices espalhadas em todo o Brasil que lutaram e lutam para denunciar os crimes cometidos pelos aparatos de repressão da ditadura. Até hoje, 61 anos depois do golpe de 1964, ninguém foi responsabilizado por esses crimes. Aqui, no Ceará, tivemos um movimento de muitas mulheres que enfrentaram a ditadura: Dona Nildes (irmã de Frei Tito), Dona Luiza (mãe do Bergson), Dona Lourdes (mãe de uma família inteira perseguida) e muitas outras que nos guiaram pelo exemplo de amor e coragem, que denunciaram, fizeram o Movimento Feminino pela Anistia e exigiram o humano direito por memória, verdade e justiça. Isso nos lembra que o que resta da ditadura ainda é muito. A tortura de ontem normalizou a tortura e as chacinas de hoje nas quebradas do país. É a substância das Mães que denunciam o terrorismo de estado de hoje: como as Mães do Curió ou as Mães de Maio.

 

                                    Renato Roseno 

   “Minha família se dilacerou. Meu irmão torturado, morto, corpo não sabido. Minha mãe assassinada, numa pantomima de acidente, só desmascarada 22 anos depois.” Hilde Angel (Irmã de Stuart e filha de Zuzu Angel)

Segundo a versão mais conhecida de sua morte, dada por Alex Polari, que se encontrava preso no mesmo local e assistiu da janela de sua cela, Stuart foi amarrado a um carro e arrastado por todo o pátio do quartel. Em alguns momentos entre risos e chacotas, era obrigado a colocar a boca no escapamento do veiculo para aspirar os gases emitidos.

Polari ainda conta na carta, que foi remetida a Zuzu Angel e foi entregue no Dia das mães, que após ser desamarrado, Stuart foi deixado abandonado no chão, com o corpo já bastante esfolado onde seguiu clamando por água noite adentro.

Stuart foi casado com Sônia Morais Angel Jones, presa, torturada e morta dois anos depois. Sonia foi estuprada com um cassetete e depois de torturada, teve seus seios arrancados a alicate. Por fim, recebeu um tiro de misericórdia na nuca. Foi no dia 30 de novembro de 1973. Ela tinha 27 anos.

A revelação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) de que um crânio encontrado no Rio é de Stuart fecha um ciclo de angústia na vida de Hildegard Angel e Ana Cristina Angel, suas irmãs. Elas vão poder realizar o desejo da mãe, que lutou até a morte em 1976, para reaver o corpo do filho e enterrar seus restos mortais com dignidade.

"É uma realização muito grande. São 43 anos esperando. Agora quero cumprir a meta da minha mãe, que era enterrá-lo. Nós já sabíamos que meu irmão tinha sido assassinado pelo regime. Stuart não é uma ficção. Ficção quem fez foram os militares, que transformaram em terroristas os aterrorizados", afirmou Hildegard.

Ousar lutar! Ousar vencer! Esquecer jamais!

Stuart Presente! Sonia Presente! Zuzu Presente!

Para honrar os que lutaram e tombaram por Democracia e Justiça!!

Stuart Edgart Angel Jones (1946+1971)

Stuart, que era filho do americano Norman Jones e de Zuleika Angel Jones, mais conhecida como Zuzu Angel, figurinista e estilista conhecida internacionalmente, lutou contra a ditadura militar no grupo MR8.

Bicampeão carioca de remo pelo Clube de Regatas Flamengo na adolescência, ele foi estudante de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possuía dupla nacionalidade, brasileira e americana.

Foi preso, torturado e morto por membros do CISA (Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica) em 14 de junho de 1971, aos 25 anos de idade. Foi casado com a também militante Sônia Morais Angel Jones, presa, torturada e morta dois anos depois e também dada como desaparecida.

Preso no bairro do Grajaú, perto da Avenida 28 de Setembro, na Zona Norte do Rio, Stuart foi levado pelos agentes à Base Aérea do Galeão para interrogatório. Os militares queriam a localização do ex-capitão Carlos Lamarca, chefe do MR-8 e então o grande procurado pelo regime.

Como se negou a falar, foi barbaramente torturado e espancado. Depois, foi conduzido ao pátio da base, vindo a morrer em consequência dos maus tratos.

Segundo a versão mais conhecida da sua morte, dada por Alex Polari, que se encontrava preso no mesmo local e assistiu da janela de sua cela, Stuart foi amarrado a um carro e arrastado por todo o pátio do quartel. Em alguns momentos entre risos e chacotas, era obrigado a colocar a boca no escapamento do veiculo para aspirar os gases emitidos.

Polari ainda conta na carta, que foi remetida a Zuzu Angel e foi entregue no Dia das mães, que após ser desamarrado o militante foi deixado abandonado no chão, com o corpo já bastante esfolado onde seguiu clamando por água noite adentro. De posse dela, a estilista denunciou o assassinato de Stuart - que tinha cidadania brasileira e americana - ao senador Edward Kennedy, que levou o caso ao Congresso dos Estados Unidos.

A revelação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) de que um crânio encontrado no Rio é de Stuart fecha um ciclo de angústia na vida de Hildegard Angel e Ana Cristina Angel, suas irmãs. Elas agora planejam realizar o desejo da mãe, a estilista Zuzu Angel, que lutou até a morte em 1976, para reaver o corpo do filho: vão poder enterrar seus restos mortais com dignidade.

"É uma realização muito grande. São 43 anos esperando. Agora quero cumprir a meta da minha mãe, que era enterrá-lo. Nós já sabíamos que meu irmão tinha sido assassinado pelo regime. Stuart não é uma ficção. Ficção quem fez foram os militares, que transformaram em terroristas os aterrorizados", afirmou Hildegard.

O capitão reformado Álvaro Moreira de Oliveira Filho revelou que o corpo de Stuart foi enterrado na cabeceira da pista da base da Aeronáutica de Santa Cruz, na zona oeste do Rio. O crânio, quase completo, havia sido localizado em 1976 num terreno no centro do Rio, porque a terra da pista fora revolvida numa reforma e levada para o centro pela construtora responsável pelas duas obras.

Stuart, segundo depoimentos de testemunhas, foi o único preso morto pela Aeronáutica naquela ocasião, entre vários outros aprisionados. Sua morte causou a transferência de todos os presos das celas do CISA para outros lugares. No fim daquele ano, toda a cúpula da Aeronáutica foi substituída, devido às pressões causadas pela incessante procura e denúncias do desaparecimento de Stuart por sua mãe, Zuzu Angel, usando a imprensa no Brasil e no exterior.

Até o ano de sua morte (1976), Zuzu, a mãe de Stuart, peregrinou pelo poder militar tentando conseguir explicações e informações sobre o corpo do filho, oficialmente dado como desaparecido.

Sua campanha chegou ao mundo da moda, na qual tinha destaque, com desfiles de coleções feitas com roupas estampadas com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos. O anjo, ferido e amordaçado em suas estampas, tornou-se também o símbolo do filho. Zuzu chegou a realizar em Nova York um desfile-protesto, no consulado do Brasil na cidade.

Usando de sua relativa notoriedade internacional, ela envolveu celebridades de Hollywood que eram suas clientes, como Joan Crawford, Liza Minnelli e Kim Novak, em sua causa, e durante a visita de Henry Kissinger, então secretário de estado norte-americano, ao Brasil, chegou a furar a segurança para entregar-lhe um dossiê com os fatos sobre a morte do filho, também portador da cidadania americana.

Zuzu morreu em 1976, num suspeito acidente de automóvel no bairro de São Conrado, Rio de Janeiro, sem jamais conseguir descobrir o paradeiro do corpo de Stuart Angel.

Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso sob número de processo 237/96 e reconheceu o regime militar como responsável pela morte da estilista.

Sônia Morais Angel Jones

Sônia nasceu no dia 9 de novembro de 1946, em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul. Seus pais, João Luiz de Moraes, militar que chegou a tenente-coronel, e Clea Moraes, sempre descrita como uma pessoa extrao-dinária. Ambos dedicaram suas vidas à preparação educacional de jovens à universidade.

Alegre e destemida, Sônia Angel dedicou sua juventude à luta contra à ditadura militar. De 1968 a 1973, foram oito anos de muitas atividades políticas, quase todos vividos na clandestinidade e dedicados à luta contra ditadura militar.

O contato de Sônia com as idéias revolucionárias começou no ano de 1966, quando ingressou no curso de economia da Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ). Já em seu primeiro dia de aula, foi eleita representante de turma. Sua liderança despontava naturalmente, pois era uma jovem que nunca escondeu seu amor à vida, transmitindo muita alegria com o carisma de sua personalidade divertida e espontânea. Gostava de viajar, namorar e ir a festas, vivendo sua juventude com plenitude e vigor.

Foi, também, na Faculdade de Economia que Sônia conheceu o jovem Stuart Angel Jones, com quem se casou em outubro de 1968. Stuart era um destacado militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), uma das mais importantes organizações surgidas durante o regime militar.

Sônia conheceu cedo os impactos da ação repressiva em sua vida e na de seus companheiros. Em 1969, um grupo de estudantes, entre eles Sônia, com apenas 22 anos, preparava-se para realizar panfletagem em portas de fábricas durante atividades de convocação do 1º de Maio, quando foi preso por agentes do famigerado Departamento de Ordem Política Social (Dops).

O argumento usado para justificar a prisão dos jovens foi o Decreto 477, criado pelo então Ministro da Educação, coronel Jarbas Passarinho, para reprimir as atividades das lideranças estudantis nas escolas e universidades. Com isso, Sônia foi sumariamente expulsa da Faculdade Nacional de Economia da UFRJ, onde já cursava o último ano.

Presa por mais de três meses no prédio do Dops, localizado na Rua da Relação, Sônia protagonizou um dos episódios mais ousados dos anos de chumbo, mostrando sua firmeza de jovem militante. Havia sido agendada uma visita do então Secretário de Segurança, o general Luiz de França Oliveira.

Ordenaram que todas as “detentas” ficassem sentadas em círculo e, a partir do apito do carcereiro, levantassem e se colocassem em posição de sentido diante do general. Todas obedeceram às instruções, menos Sônia, que permaneceu no seu lugar.

O general entrou na cela e dirigiu-se a ela, exigindo que cumprisse as determinações: - Levante-se, minha senhora. A senhora está diante de uma autoridade e deve reverenciá-lo. Sônia manteve-se sentada e respondeu com firmeza: Não me levanto pra policial nenhum!

Diante do clima de constrangimento e do receio por parte dos repressores de que aquela atitude contagiasse as demais prisioneiras, os carrascos recuaram e ordenaram que as outras presas sentassem.

Sônia foi julgada e absolvida duas vezes, por unanimidade, pelo Tribunal Superior Militar. No entanto, sua absolvição não significaria liberdade e segurança.

Sônia e Stuart estavam conscientes da realidade cruel que tomava conta do País naqueles anos de escuridão. O aparta-mento do casal, localizado na Rua Pinto de Figueiredo, na Tijuca, tradicional bairro de classe média carioca, fora invadido, revirado, saqueado e destruído pelas forças da repressão e estava sob vigilância constante. Tal situação levou Sônia a tomar todos os cuidados logo após sua saída da prisão no Dops, pois estava ciente de que iriam fazer de tudo para capturá-la novamente.

Alguns dias após sua absolvição da Justiça Militar, um representante do então I Exército (atual Comando Militar do Leste) foi à casa de seus pais, levando uma intimação para que Sônia se apresentasse para prestar depoimento. A intimação não passava de uma manobra dos militares para prendê-la, enquadrá-la em novo processo e, com isso, mantê-la encarcerada.

Como Sônia já havia se juntado a Stuart em lugar ignorado, seu pai, João de Moraes, se prontificou a dar os esclarecimentos em seu lugar. Na saída do quartel, um companheiro de João que estudara com ele na Escola Militar lhe alertou: “Moraes, não deixe sua filha aparecer nunca mais, porque vão matá-la”.

Já eram crescentes as ações armadas em todo o país. Diante da situação, os pais de Sônia e os dirigentes do MR-8 concordaram que seria melhor o exílio voluntário do casal. Mas Stuart, peça-chave da organização, não admitiu deixar seus companheiros e decidiu ficar, não havendo nada que o demovesse de sua posição. Ficou acertado que Sônia seria retirada do País, uma tarefa cada vez mais difícil, devido ao aprofundamento da perseguição política. Coube então à família tratar dos procedimentos para sua retirada.

A saída de Sônia do Brasil foi marcada por muitas dificuldades. Até a chegada na fronteira, a fuga clandestina ocorreu com “relativa normalidade”, apesar de duas revistas minuciosas por patrulhas do Exército, espalhadas pelas estradas na busca desenfreada ao Capitão Carlos Lamarca, embrenhado com seus guerrilheiros nas matas do Vale do Ribeira. No Paraguai, um acidente com o carro deixou-os muito feridos, quase comprometendo a ação, mas a viagem prosseguiu e o embarque para a França aconteceu.

No exílio em Paris, Sônia continuou sua militância. Couberam-lhe as tarefas (exercidas por ela com grande desprendimento), de micro-filmar os materiais enviados pelo MR-8 e dar assistência política e ideológica aos companheiros enviados para fora do Brasil, confortando e apoiando, material e psicologicamente, os que estavam traumatizados pela violência da tortura, da distância do país e da família.

A necessidade de organizar seus companheiros fez com que Sônia se transferisse para Santiago, no Chile. Foi lá que soube da morte de Stuart e das bárbaras circunstâncias do seu assassinato, cometido pela ditadura militar. A notícia deixou-a completamente arrasada e cristalizou ainda mais sua aspiração de retornar ao Brasil.

Para sobreviver, passou a trabalhar como fotógrafa profissional e se ingressou na Ação Libertadora Nacional (ALN), chegando ao Brasil em maio de 1973, aonde encontrou um novo companheiro, Antônio Carlos Bicalho Lana.

Com a “infiltração” de agentes da ditadura, espionando suas atividades, não demorou e a repressão armou uma emboscada para prender Lana e Sônia.

A data exata da prisão nunca foi estabelecida, mas sabe-se que era de manhã quando Antônio Carlos e Sônia pegaram o ônibus da Empresa Zefir com destino a São Paulo.

Vários agentes já estavam dentro do coletivo. Simultaneamente, nas imediações da agência de passagens do Canal 1, em São Vicente, encontravam-se outros policiais à espera que os dois descessem do ônibus para comprar os bilhetes.

Quando lá chegaram, apenas Lana desceu do ônibus. Cinco agentes esperavam dentro da agência e outros chegaram em vários carros. No guichê, o militante entrou em luta corporal com os policiais, mas foi dominado a socos e pontapés, levando uma coronhada de fuzil na boca.

Sônia, ao levantar-se do banco, foi agarrada e levou um pontapé nas costas. Saiu do ônibus algemada pelos pés e foi colocada em um Opala, enquanto Lana foi empurrado para outro carro.

Os dois ainda estavam presos quando a ditadura militar se encarregou de divulgar nos principais órgãos de imprensa que ambos haviam morrido numa troca de tiros em São Paulo. A família de Sônia só pôde descobrir o fato porque sua mãe havia exigido que ela lhe contasse seu nome clandestino: Esmeralda.

O empenho da família, que se dirigiu às pressas até a cidade litorânea de São Vicente, onde residiam Lana e Sônia, na tentativa de resgatar o corpo das vítimas, foi frustrado. O clima de enfrentamento da família Moraes com os militares chegou ao absurdo das ameaças de morte e ao constrangimento da prisão de seu pai.

Posteriormente, após um exaustivo processo de investigação, ficou claro que enquanto João Moraes estava preso, Sônia foi seqüestrada e conduzida para o Rio de Janeiro, onde padeceu monstruosas torturas. Levada de volta a São Paulo, aonde sofreu novas torturas, estupro e seviciamento. Por fim, recebeu um tiro de misericórdia na nuca. Foi no dia 30 de novembro de 1973. Ela tinha 27 anos.

Sonia foi enterrada como indigente no cemitério de Perus e seus restos mortais foram localizados graças aos esforços das entidades que atuam em apoio às famílias de mortos e desaparecidos políticos.

 

Vinicio Schumacher Santa Maria

Globo de Ouro

Fernanda Torres, ganha o Globo de Ouro – Melhor Atriz pelo filme Ainda Estou Aqui

 

A grandiosa FERNANDA TORRES levou o GLOBO DE OURO. Soube agora, e já acordei chorando. Que grande emoção! Choro principalmente por ela, que construiu um personagem perfeito, baseado na contenção de emoções. Choro por sua rica trajetória de atriz. Choro também por FERNANDA MONTENEGRO, essa mãe da TORRES, que também é nossa mãe, por nos ter proporcionado tanta beleza nas artes. Por ainda nos emocionar tanto, com seu raro talento, do alto dos seus mais de 90 anos. Que exemplo de mãe Fernanda Torres teve o privilégio de seguir. Choro também por Marcelo Rubens Paiva, que soube transformar sua dor, a dor de Eunice Paiva, de seu pai e de sua família em arte, entregue ao grande Walter Salles. Choro por esse filme magnífico que denuncia, com tanta beleza, uma das épocas mais tenebrosas da História do nosso País, que há pouco tempo poderia voltar, certamente de forma ainda mais sanguinária, se não fosse a força divina orientando homens lúcidos, honestos e corajosos. Choro por nós, brasileiros, que merecemos apresentar nossa potente Arte ao mundo, para além do futebol, e das tão exploradas e monótonas bundas. Choro por mim, poeta e artista, que sabe o valor de transformação humana das artes. Viva o cinema brasileiro!

 

Carmen Moreno

Poeta – Escritora 


sábado, 4 de janeiro de 2025

Carne Viva

1º de Abril

 

telefonaram-me

      avisando-me

      que vinhas

na noite

uma estrela

ainda brigava

contra a escuridão

 

na rua sob patas

                    tombavam

homens indefesos

 

esperei-te 20 anos

até hoje não vieste

        à minha porta

 

Artur Gomes

in Suor & Cio – 1984

Publicado pela primeira vez no livro Suor & Cio 1984/1985 – 20 anos depois do Golpe de 1964 – esse poema está gravado no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia,  publicado também na antologia pessoal Pátria A(r)mada 2019 e 2022, já esteve exposto em diversas Mostras de Poesia Visual, Brasil afora, está presente em fanzines na seção de arquivos da Biblioteca Nacional  e é um dos meus poemas selecionados para o livro Balbúrdia PoÉtica Livro e Manifesto.

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Pátria A(r)mada

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ENGENHO

 

minha terra

é

de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

mas cravado em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

- estreito em cada porta

 

Artur Gomes

Em 1984 poemas meus foram publicados na Antologia Carne Viva, organizada por Olga Savary, considerada a primeira Antologia de poesia erótica publicada no Brasil, com a presença de poetas como Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant´Anna, etc.

 

ontem 3 janeiro 2025, assisti o depoimento de Sergio Ferro, dado ao Tutaméia https://tutameia.jor.br/ Sergio Ferro é arquiteto desenhista. No período da ditadura civil/militar 1964/1985 era professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Chegou a atuar como estagiário nos canteiros de obra de Brasília. Perguntado sobre as possibilidades de um mundo melhor, ele não teve dúvida em apontar o trabalho do MST - movimento dos sem terra e movimento dos sem teto. Inclusive afirmando que na França onde ainda mora continua a ajudar na divulgação desses dois movimentos. Se formos pensar profundamente a questão, vamos chegar a conclusão que o golpe de 1964 se dá pelo temor das Reformas de Base, formuladas pelo presidente João Gulart, e isso explica porque imediatamente logo no primeiro Ato Institucional, é cassado o deputado trabalhista Rubens Paiva, em 9 de abril de 1964, e vem ser assassinado dentro do Doi-CODI que funcionava dentro do quartel da PE na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca - Rio de Janeiro.


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prefácios e outros poemas 

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Os Horrores da Ditadura Militar - 1964/1985

Incontinência Verbal                        eles tentaram  além de nos calar/apagar  um espaço/tempo  do país onde nascemos vie...