Canalha
ele não tem mãos
tem garras sujas de tinta alheia
não tem olhos
tem buracos fundos onde cabem
versos roubados
metáforas mastigadas
por bocas que não são dele
ele acha que poesia
é como cigarro no cinzeiro de bar
que qualquer um pode pegar
acender de novo
soltar fumaça
e dizer que foi quem queimou primeiro
mas poesia, canalha,
não tem código de barras
não é batom de boca em boca
nem chave esquecida em mesa de motel
poesia tem cheiro de medo
tem pulso, tem cio
tem a porra da marca do dono
e você,
com seus dedos podres
com sua fome de versos que não pariu
vai seguir se entupindo de palavras alheias
tentando cuspir fogo
com fósforos úmidos.
Simone Bacelar
https://www.instagram.com/p/DFf9ku9vE9G/
o anjo exterminador
[sil guimarães]
quer de mim
o que não posso:
virar-me do avesso
arrancar pela boca
meu coração
[ imagem francesca woodman ]
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Balbúrdia Poética -
projeto de poesia e resistência criado por Artur Gomes em 2109 - 4 Edições já
foram realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. A Balbúrdia Poética 5 - está
programada para ser realizada em Campos dos Goytacazes-RJ no dia 28 de Março no
Stand da Academia Campista de Letras dentro da programação da Bienal do Livro.
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1 de fevereiro
Trabalhei o ano passado de fevereiro a fevereiro para que hoje
chegasse não por e-mail mais inteiro : “Ainda Estou Aqui” “eu cheguei de muito
longe e a viagem foi tão longa e na minha caminhada obstáculos na estrada mas
enfim aqui estou mas estou envergonhado com as coisas que eu vi mas não vou
ficar calado no conforto, acomodado como tantos por aí é preciso dar um jeito,
meu amigo é preciso dar um jeito, meu amigo descansar não adianta quando a
gente se levanta quanta coisa aconteceu as crianças são levadas pelas mãos de
gente grande quem me trouxe até agora me deixou e foi embora como tantos por aí
é preciso dar um jeito, meu amigo” – “pai afasta de mim esse cálice, afasta de
mim esse cálice de vinho tinto de sangue – como é difícil acordar caldo se na alada
da noite me dando quero lançar um grito desumano que é uma maneira de ser
escutado esse silêncio todo me atordoa atordoado permaneço atento na
arquibancada pra qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa”.
Obs. É preciso dar um jeito meu amigo (Erasmo Carlos) e Cálice
(Chico Buarque) músicas que integram a trilha sonora do filme : “Ainda Estou
Aqui” que acaba de bater todos os recordes de bilheteria no Brasil e nos
Estados Unidos
Artur Gomes
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Pátria A( r)mada
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se aproximou
buscava um solo onde deitar
suas sementes de amor
eu me asfaltei
*
Já não és meu porto
e ando ainda às tontas
por tuas ruas tortas
e não importa
É isto que preciso
Pois quando eu te busco
é a mim mesma que encontro
em ti
meu ex
cais
e abrigo
Máyda Zanirato
Jan/2020
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drummundana itabirina
fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez
portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a
sua outra mulher. braziLírica
amanheceu incrédula:
manchetes, vozerios, falatórios, assembleias,
faixas, cartazes. por todas as vias, multivias,
multimeios, os ofendidos habitantes brazilíricos
inconformados com a fedra passearam em
plebiscito vociferando Não ao Sim.
E margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando
estrelas no cruzeiro. Mas César que não é Castro continuou a pigmentar seu
mastro na outra parte da tela, e um dia fedra sorrindo, com o pênis/baton da
louca, foi ao boca de luar da fedra e voltou com o luar na boca.
Artur Gomes
In BraziLírica Pereira : A Traição Das Metáforas
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com os dentes cravados na memória
o dia que me apaixonei
por um boi voador
quem não viveu não viu nem
de longe conhece o poder da arte desse “artur kabrunco”. em 1987 na tipografia
da então ETFC(Instituto Federal Fluminense), dei de cara com um boi vestido de
poesia. paixão fulminante, amor à primeira vista, eu envolvida, mergulhada, em
fórmulas e números, estudava química, e em casa nunca tinha lido um livro que
não fosse sobre química. como a encenação da ciranda do “boi-cósmico” já estava
marcada para a semana seguinte, Artur Gomes me inseriu no coro da mesma. o repertório
era composto com poemas do seu recém-lançado livro “Couro Cru & Carne Viva”.
a encenação foi realizada no Ginásio de Esportes, com cenário grafitado por
Genilson Paes Soares, em lâminas de papel kraft, que desciam do teto ao chão,
apelidados por (Maria do Café) de “caralhos voadores”, um escândalo. não é
preciso dizer o frisson que “a ciranda do boi cósmico” causou na maioria dos
professores, além de estar vestido com poesia, sua cabeça foi criada por Marcos
Guimarães Maciel(com engrenagens de relógios e outros elementos do laboratório
de eletrotécnica), e enquanto o “boi” fazia suas evoluções acrobáticas, seus olhos de lâmpadas, piscavam movidos por
uma pequena bateria de 6 volts. Alguns professores da época ao se deparar com
aquele fabuloso cenário, desmaiaram em pleno ginásio. semana seguinte eu e o “kabrunco”
seguimos colados como dois em um. mas para minha desgraça uma professora de
inglês da ETFC, denunciou o caso a aminha “mãe solteira” que me proibiu de
viver poesia. fui para o rio estudar matemática e hoje aqui me encontro nesse
recife da boa viagem em meio a esse “mar de pedras” sem poder fazer o que que
queria. Rúbia Querubim minha filha, você nem imagina o que é viver sem ser ou não estar em carne sangue medula osso nos
retalhos imortais do serAfim.
Federika Lispecto
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texto incrível da minha mãe que me enviou ontem e me arrepiou,
não conhecia toda essa história, minha mãe se fechou depois que foi para recife
trabalhar com cardápios, ela só havia me contado até então alguns
"retalhos". mas tenho amigo(a)s ex-aluno(a)s e professore(a)s da
ETFC na época que podem detalhar ainda mais os fatos. quando estudei no IFF,
entre 2011/2012 fiz Oficina de Produção Cine Vídeo, e era bem engraçado como
algumas pessoas me alertavam sobre os perigos que estava correndo, por estar
fazendo aquela Oficina, e eu nunca entendi o por quê de tanta preocupação. Mas
depois que conheci Gigi
Mocidade caiu a ficha, e descobri o tanto de preconceito e
reacionarismo era o meio em que vivíamos. e de 2016 pra cá começamos a entender
tudo muito bem explicadinho de forma bem explícita.
Rúbia Querubim
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JAÉ MILICIANO BOZONARO
Jaé Miliciano Bozonaro:
quem diria, é um decassílabo heroico,
para alguém que não passa de um ignaro,
misógino, racista e paranoico.
Sargento, não, Capitão de Milícias.
Forjado em fake news, chegou ao cargo,
de todos, o mais alto e cobiçado,
defendendo a discórdia e a sevícia.
Terraplanista, negou a ciência,
e enfraqueceu o combate à Covid.
Acabou com a nossa paciência:
“Sem saúde, o povo que se vire!”
Para ele, somente há uma solução:
investigação, condenação e prisão.
*
DOUTOR CARNEIRO
“Ainda aguenta mais umas duas ou
três descargas
elétricas”, avalia o médico – que
atende pelo curioso
codinome de Doutor Carneiro –,
diante do guerrilheiro
[moribundo.
Palmatórias, chicotes, cordas
molhadas, correntes de aço,
velas e cigarros acesos,
navalhas, estiletes,
tudo já havia sido usado, embora
sem sucesso.
O homem, agora um farrapo, continua se recusando a
falar.
A Pianola Boilensen entra
novamente em ação, mas,
depois do quinto eletrochoque, o
torturado não resiste
[e morre.
Doutor Carneiro atesta a causa
mortis: ataque cardíaco.
Utilizando-se do conhecimento
médico-científico,
esse cordeiro Lobo prolonga o
sofrimento
dos contestadores do regime,
torturados sem piedade
nos aposentos da Casa da Morte.
Stevenson estava certo:
o médico é o monstro.
*
RICARDO VIEIRA LIMA é doutor
em Literatura Brasileira pela UFRJ, crítico literário, ensaísta, jornalista,
poeta e editor-assistente da revista Fórum de Literatura Brasileira
Contemporânea (UFRJ). Membro titular do PEN Clube do Brasil, organizou e
prefaciou os livros: Anos 80, da coleção Roteiro da Poesia Brasileira
(São Paulo: Global, 2010), e Poesia completa, de Ivan Junqueira (Lisboa:
Glaciar; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2019). Seu livro Aríete
– poemas escolhidos (Rio de Janeiro: Circuito, 2021) ganhou os
Prêmios Ivan Junqueira, da Academia Carioca de Letras, e Jorge Fernandes, da
União Brasileira de Escritores – Seção Rio de Janeiro.
Site do autor: ricardovieiralima.com.br
Balbúrdia Poética 5
Dia 28 de março 19h
No Stand da ACL
Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ
OVERDOSE
NU VERMELHO
retesar
as cores
e os músculos
com os dedos agarrados no pincel
se faltar carne
para roçar os óvulos
a gente jorra tinta no papel
Artur Gomes
in Couro Cru & Carne Viva – 1987
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vozes do cerrado
brasília, Brasília,
onde estás
que não respondes?
em que bloco
em que superquadra
tu te escondes?
Nicolas Behr
Brasilírica
Antologia
Poemas escolhidos
1977-2017
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sub/VERSÃO
só desfraudando
a bandeia tropicalha
é
que a ente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil.
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria/mãe que nos pariu
Artur Gomes
In Couro Cru & Carne Viva – 1987
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com os dentes cravados na memória
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brumadinho
ainda tem
muita lama
no meio do caminho
Federika Lispector
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safadinho
ainda tem
muita cama
no meio do caminho
Lady CarNAvalha Gumes
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