terça-feira, 28 de janeiro de 2025

múltiplas poéticas

Canalha

ele não tem mãos
tem garras sujas de tinta alheia
não tem olhos
tem buracos fundos onde cabem
versos roubados
metáforas mastigadas
por bocas que não são dele

ele acha que poesia
é como cigarro no cinzeiro de bar
que qualquer um pode pegar
acender de novo
soltar fumaça
e dizer que foi quem queimou primeiro

mas poesia, canalha,
não tem código de barras
não é batom de boca em boca
nem chave esquecida em mesa de motel
poesia tem cheiro de medo
tem pulso, tem cio
tem a porra da marca do dono

e você,
com seus dedos podres
com sua fome de versos que não pariu
vai seguir se entupindo de palavras alheias
tentando cuspir fogo
com fósforos úmidos.

Simone Bacelar

https://www.instagram.com/p/DFf9ku9vE9G/



o anjo exterminador

[sil guimarães]

 

quer de mim

o que não posso:

virar-me do avesso

arrancar pela boca

meu coração

[ imagem francesca woodman ]

 

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Balbúrdia Poética - projeto de poesia e resistência criado por Artur Gomes em 2109 - 4 Edições já foram realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. A Balbúrdia Poética 5 - está programada para ser realizada em Campos dos Goytacazes-RJ no dia 28 de Março no Stand da Academia Campista de Letras dentro da programação da Bienal do Livro.

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1 de fevereiro

 

Trabalhei o ano passado de fevereiro a fevereiro para que hoje chegasse não por e-mail mais inteiro : “Ainda Estou Aqui” “eu cheguei de muito longe e a viagem foi tão longa e na minha caminhada obstáculos na estrada mas enfim aqui estou mas estou envergonhado com as coisas que eu vi mas não vou ficar calado no conforto, acomodado como tantos por aí é preciso dar um jeito, meu amigo é preciso dar um jeito, meu amigo descansar não adianta quando a gente se levanta quanta coisa aconteceu as crianças são levadas pelas mãos de gente grande quem me trouxe até agora me deixou e foi embora como tantos por aí é preciso dar um jeito, meu amigo” – “pai afasta de mim esse cálice, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue – como é difícil acordar caldo se na alada da noite me dando quero lançar um grito desumano que é uma maneira de ser escutado esse silêncio todo me atordoa atordoado permaneço atento na arquibancada pra qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa”.

Obs. É preciso dar um jeito meu amigo (Erasmo Carlos) e Cálice (Chico Buarque) músicas que integram a trilha sonora do filme : “Ainda Estou Aqui” que acaba de bater todos os recordes de bilheteria no Brasil e nos Estados Unidos

 

Artur Gomes

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Pátria A( r)mada

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se aproximou

buscava um solo onde deitar
suas sementes de amor

eu me asfaltei

*

Já não és meu porto

e ando ainda às tontas

por tuas ruas tortas

e não importa

É isto que preciso

Pois quando eu te busco

é a mim mesma que encontro

em ti

meu ex

cais

e abrigo

 

Máyda Zanirato

Jan/2020

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drummundana itabirina

 

fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez

portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a sua outra mulher. braziLírica

amanheceu incrédula:

manchetes, vozerios, falatórios, assembleias,

faixas, cartazes. por todas as vias, multivias,

multimeios, os ofendidos habitantes brazilíricos

inconformados com a fedra passearam em

plebiscito vociferando Não ao Sim. 

E margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando estrelas no cruzeiro. Mas César que não é Castro continuou a pigmentar seu mastro na outra parte da tela, e um dia fedra sorrindo, com o pênis/baton da louca, foi ao boca de luar da fedra e voltou com o luar na boca. 

 

Artur Gomes

In BraziLírica Pereira : A Traição Das Metáforas

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com os dentes cravados na memória

o dia  que me apaixonei por um boi voador

 

quem não viveu não  viu nem de longe conhece o poder da arte desse “artur kabrunco”. em 1987 na tipografia da então ETFC(Instituto Federal Fluminense), dei de cara com um boi vestido de poesia. paixão fulminante, amor à primeira vista, eu envolvida, mergulhada, em fórmulas e números, estudava química, e em casa nunca tinha lido um livro que não fosse sobre química. como a encenação da ciranda do “boi-cósmico” já estava marcada para a semana seguinte, Artur Gomes me inseriu no coro da mesma. o repertório era composto com poemas do seu recém-lançado livro “Couro Cru & Carne Viva”. a encenação foi realizada no Ginásio de Esportes, com cenário grafitado por Genilson Paes Soares, em lâminas de papel kraft, que desciam do teto ao chão, apelidados por (Maria do Café) de “caralhos voadores”, um escândalo. não é preciso dizer o frisson que “a ciranda do boi cósmico” causou na maioria dos professores, além de estar vestido com poesia, sua cabeça foi criada por Marcos Guimarães Maciel(com engrenagens de relógios e outros elementos do laboratório de eletrotécnica), e enquanto o “boi” fazia suas evoluções acrobáticas,  seus olhos de lâmpadas, piscavam movidos por uma pequena bateria de 6 volts. Alguns professores da época ao se deparar com aquele fabuloso cenário, desmaiaram em pleno ginásio. semana seguinte eu e o “kabrunco” seguimos colados como dois em um. mas para minha desgraça uma professora de inglês da ETFC, denunciou o caso a aminha “mãe solteira” que me proibiu de viver poesia. fui para o rio estudar matemática e hoje aqui me encontro nesse recife da boa viagem em meio a esse “mar de pedras” sem poder fazer o que que queria. Rúbia Querubim minha filha, você nem imagina o que é viver sem  ser ou não estar em carne sangue medula osso nos retalhos imortais do serAfim.  

 

Federika Lispecto

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texto incrível da minha mãe que me enviou ontem e me arrepiou, não conhecia toda essa história, minha mãe se fechou depois que foi para recife trabalhar com cardápios, ela só havia me contado até então alguns "retalhos". mas tenho amigo(a)s ex-aluno(a)s e professore(a)s da ETFC na época que podem detalhar ainda mais os fatos. quando estudei no IFF, entre 2011/2012 fiz Oficina de Produção Cine Vídeo, e era bem engraçado como algumas pessoas me alertavam sobre os perigos que estava correndo, por estar fazendo aquela Oficina, e eu nunca entendi o por quê de tanta preocupação. Mas depois que conheci Gigi Mocidade caiu a ficha, e descobri o tanto de preconceito e reacionarismo era o meio em que vivíamos. e de 2016 pra cá começamos a entender tudo muito bem explicadinho de forma bem explícita.

 

Rúbia Querubim

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JAÉ MILICIANO BOZONARO

 

Jaé Miliciano Bozonaro:

quem diria, é um decassílabo heroico,

para alguém que não passa de um ignaro,

misógino, racista e paranoico.

Sargento, não, Capitão de Milícias.

Forjado em fake news, chegou ao cargo,

de todos, o mais alto e cobiçado,

defendendo a discórdia e a sevícia.

Terraplanista, negou a ciência,

e enfraqueceu o combate à Covid.

Acabou com a nossa paciência:

“Sem saúde, o povo que se vire!”

Para ele, somente há uma solução:

investigação, condenação e prisão.

 

*

 

                    DOUTOR CARNEIRO

                 

“Ainda aguenta mais umas duas ou três descargas

elétricas”, avalia o médico – que atende pelo curioso

codinome de Doutor Carneiro –, diante do guerrilheiro

                                                            [moribundo.

 

Palmatórias, chicotes, cordas molhadas, correntes de aço,

velas e cigarros acesos, navalhas, estiletes,

tudo já havia sido usado, embora sem sucesso.

O homem, agora um farrapo, continua se recusando a falar.

A Pianola Boilensen entra novamente em ação, mas,

depois do quinto eletrochoque, o torturado não resiste

                                                                 [e morre.

 

Doutor Carneiro atesta a causa mortis: ataque cardíaco.

Utilizando-se do conhecimento médico-científico,

esse cordeiro Lobo prolonga o sofrimento

dos contestadores do regime, torturados sem piedade

nos aposentos da Casa da Morte.

 

Stevenson estava certo:

o médico é o monstro.

*

RICARDO VIEIRA LIMA é doutor em Literatura Brasileira pela UFRJ, crítico literário, ensaísta, jornalista, poeta e editor-assistente da revista Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea (UFRJ). Membro titular do PEN Clube do Brasil, organizou e prefaciou os livros: Anos 80, da coleção Roteiro da Poesia Brasileira (São Paulo: Global, 2010), e Poesia completa, de Ivan Junqueira (Lisboa: Glaciar; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2019). Seu livro Aríete – poemas escolhidos (Rio de Janeiro: Circuito, 2021) ganhou os Prêmios Ivan Junqueira, da Academia Carioca de Letras, e Jorge Fernandes, da União Brasileira de Escritores Seção Rio de Janeiro. 

 

Site do autor: ricardovieiralima.com.br 


Balbúrdia Poética 5
Dia 28 de março 19h
No Stand da ACL
Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ

OVERDOSE NU VERMELHO

retesar as cores
e os músculos
com os dedos agarrados no pincel

se faltar carne
para roçar os óvulos
a gente jorra tinta no papel


Artur Gomes
in Couro Cru & Carne Viva – 1987
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                    vozes  do cerrado

 

brasília, Brasília,

onde estás

que não respondes?

 

em que bloco

em que superquadra

tu te escondes?

 

Nicolas Behr

Brasilírica

Antologia

Poemas escolhidos

1977-2017

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                          sub/VERSÃO

 

só desfraudando

a bandeia tropicalha

é

que a ente avacalha

com as chaves dos mistérios

dessa terra tão servil.

 

tirania sacanagem safadeza

 

tudo rima uma beleza

com a pátria/mãe que nos pariu

 

Artur Gomes

In Couro Cru & Carne Viva – 1987

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com os dentes cravados  na memória

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                   brumadinho

 

ainda tem

muita lama

no meio do caminho

 

Federika Lispector

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                    safadinho

 

ainda tem

muita cama

no meio do caminho

 

Lady CarNAvalha Gumes

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