drummundana itabirina
fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez
portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a
sua outra mulher. braziLírica
amanheceu incrédula:
manchetes, vozerios, falatórios, assembleias,
faixas, cartazes. por todas as vias, multivias,
multimeios, os ofendidos habitantes brazilíricos
inconformados com a fedra passearam em
plebiscito vociferando Não ao Sim.
E margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando
estrelas no cruzeiro. Mas César que não é Castro continuou a pigmentar seu
mastro na outra parte da tela, e um dia fedra sorrindo, com o pênis/baton da
louca, foi ao boca de luar da fedra e voltou com o luar na boca.
Artur Gomes
In BraziLírica Pereira : A Traição Das Metáforas
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JAÉ MILICIANO BOZONARO
Jaé Miliciano Bozonaro:
quem diria, é um decassílabo heroico,
para alguém que não passa de um ignaro,
misógino, racista e paranoico.
Sargento, não, Capitão de Milícias.
Forjado em fake news, chegou ao cargo,
de todos, o mais alto e cobiçado,
defendendo a discórdia e a sevícia.
Terraplanista, negou a ciência,
e enfraqueceu o combate à Covid.
Acabou com a nossa paciência:
“Sem saúde, o povo que se vire!”
Para ele, somente há uma solução:
investigação, condenação e prisão.
*
DOUTOR CARNEIRO
“Ainda aguenta mais umas duas ou
três descargas
elétricas”, avalia o médico – que
atende pelo curioso
codinome de Doutor Carneiro –,
diante do guerrilheiro
[moribundo.
Palmatórias, chicotes, cordas
molhadas, correntes de aço,
velas e cigarros acesos,
navalhas, estiletes,
tudo já havia sido usado, embora
sem sucesso.
O homem, agora um farrapo, continua se recusando a
falar.
A Pianola Boilensen entra
novamente em ação, mas,
depois do quinto eletrochoque, o
torturado não resiste
[e morre.
Doutor Carneiro atesta a causa
mortis: ataque cardíaco.
Utilizando-se do conhecimento
médico-científico,
esse cordeiro Lobo prolonga o
sofrimento
dos contestadores do regime,
torturados sem piedade
nos aposentos da Casa da Morte.
Stevenson estava certo:
o médico é o monstro.
*
RICARDO VIEIRA LIMA é doutor
em Literatura Brasileira pela UFRJ, crítico literário, ensaísta, jornalista,
poeta e editor-assistente da revista Fórum de Literatura Brasileira
Contemporânea (UFRJ). Membro titular do PEN Clube do Brasil, organizou e
prefaciou os livros: Anos 80, da coleção Roteiro da Poesia Brasileira
(São Paulo: Global, 2010), e Poesia completa, de Ivan Junqueira (Lisboa:
Glaciar; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2019). Seu livro Aríete
– poemas escolhidos (Rio de Janeiro: Circuito, 2021) ganhou os
Prêmios Ivan Junqueira, da Academia Carioca de Letras, e Jorge Fernandes, da
União Brasileira de Escritores – Seção Rio de Janeiro.
Site do autor: ricardovieiralima.com.br
Balbúrdia Poética 5
Dia 28 de março 19h
No Stand da ACL
Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ
OVERDOSE
NU VERMELHO
retesar
as cores
e os músculos
com os dedos agarrados no pincel
se faltar carne
para roçar os óvulos
a gente jorra tinta no papel
Artur Gomes
in Couro Cru & Carne Viva – 1987
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vozes do cerrado
brasília, Brasília,
onde estás
que não respondes?
em que bloco
em que superquadra
tu te escondes?
Nicolas Behr
Brasilírica
Antologia
Poemas escolhidos
1977-2017
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sub/VERSÃO
só desfraudando
a bandeia tropicalha
é
que a ente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil.
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria/mãe que nos pariu
Artur Gomes
In Couro Cru & Carne Viva – 1987
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com os dentes cravados na memória
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brumadinho
ainda tem
muita lama
no meio do caminho
Federika Lispector
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safadinho
ainda tem
muita cama
no meio do caminho
Lady CarNAvalha Gumes
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