sábado, 5 de julho de 2025

Poesia Ali Na Mesa - Roza Moncayo

      CISÃO

 

Estar neste mundo

é estar dividido entre o dentro

e o fora,

entre a vida

e o ir-se morrendo.

É desejar ardentemente religar-se,

unir suas partes

e sentir o horror desta impossibilidade.i

Estar neste mundo

é a todo instante ter de optar.

decidir...

Insegurança constante

claroescuro,

lusco-fusco que entorpece,

cava um abismo por entre as percepções,

os sentimentos,

e a seta ao longe prenunciando a morte.

Qual equilibrista,

num átimo de segundo,

é preciso decidir se o pé vai à direita,

à esquerda

ou um pouco mais à frente.

Ato que determinará o próximo passo,

ou,

se mergulhará

no nada.

 

VOO

 

Num galho solitário

de uma árvore qualquer,

as marcas recentes

de um voo interrompido.

 

APENAS SER

 

Às vezes me pego

olhando

para uma pedra,

uma flor,

invejando sua existência.

Não sonham,

não desejam,

não se frustram.

São o que são.

Ainda quando

se transformam

em buque

ou escultura,

continuam pedra

e flor.

Mais evoluidas,

não se deixam

influenciar por nada.

Mantêm-se na sua

serena sabedoria:

sem aflições inúteis,

sem exacerbadas tristezas.

Ser a pedra

ser a flor

nao ser "eu"

Apenas ser.

 

NINGUÉM VÊ

 

No limbo da pedra,

no fosso,

no fundo,

escorrem lágrimas

vermelhas

que repousam

coaguladas,

no esquecimento

das pequenas fissuras.

Ninguém vê.

Como se não houvesse choro,

nem pedra,

nem gente.

Ninguém vê

ou sente.

 

UNÍSSONO

 

súbita

solidão

soluça

silenciosamente

no cio sem solução

sem sol

---unção

…………………………………….

escorre dos dedos

como notas musicais volatizadas

o testemunho do gozo solitário

 

SERIA MAIS FELIZ?

 

e se eu rasgasse a carne

o ventre

os versos?

assumisse de vez

o incontrolável

o intolerável

O inadmissível?

sonhos

jorrando do êxtase

a noite virada dia

sexo

todo dia

e os versos 

Os versos na carne

nos ossos

no sangue da língua

no sabor quente

do suor

na exaustão do viver

assim

entre versos

berros

estradas escarpadas

e ranhuras no céu

se eu assumisse este horror

seria mais feliz?

 

DESASSOSSEGO

 

o que fazer

com este desassossego

esta intemperança?

metê-los no bolso do sobretudo?

não uso sobretudo

vestimenta alguma

me protege

nu

não tenho como livrar-me

e o desassossego

penetra-me

acomodando-se por dentro

incomodando-me à loucura

 

MANIFESTO


fica decretado o fim da opressão

do desrespeito

dos interesses escusos do capital

que o artista seja livre

para criar

para inquietar com suas ideias

para revolucionar com o novo

descartando a novidade passageira

que o artista seja livre

para que

com sua magia

retire do sono profundo

os seres dormidos

C que estes

de olhos e corações expandidos

resultem em novos seres

capazes de paz

liberdade

fica decretado o fim do isolamento

da alienação

do desencontro

que

respeitado o tempo solitário da criação

tudo o mais seja partilhado

para que se amplie

€ Se multiplique

em beleza e reflexão

em intervenção

em mudança

fica decretado ainda

que a partir de agora

nós

eternos aprendizes

mais do que nunca

não permitiremos vendas nos olhos

no coração

travas

e nenhuma amarra nas mãos

 

Roza Moncayo 

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      CISÃO   Estar neste mundo é estar dividido entre o dentro e o fora, entre a vida e o ir-se morrendo. É desejar ardentemente religar-se...