segunda-feira, 29 de abril de 2024

múltiplas poéticas


 Palavras ao vento

 

No artifício do fazer poético, a dúvida

invadiu-me o pensamento:

O que serão as palavras?

Inquiri, eu, ao Tempo, sem alarde.

 

Foi o Vento, qaue mo respondeu, sibilante e frio

que as palavras “são difusas, posto que nem sempre

são claras, vezes furtivas, como assombração.

Muitas vezes, e eu as levo pelo ar.

 

Não satisfeito, continuei a perguntar:

Como se formam, as frases poéticas?

Veio a Tarde, dizer que “se vão formar de pedras

vaporosas, e raras, ou nobres e caras

como um segredo, com fulgor de revelação

para toda a humanidade.  Ou então, são como seixos pobres

apenas falas, sem nada para revelar, gritos dementes”.

 

Surge a Musa, moça prendada, e já, há tanto

acostumada nas artes do versejar.

Vem saída d’um canto de alcova

onde, tranquila, costurava

para assim falar: 

“Parecem com pedras/caladas (as palavras)

atiradas por um menino, e, que, zunindo

por sobre o lago, duas, três, até, quatro vezes

vão formar os conceitos, para explicar

mas logo se afundam, desistentes”.

Isto dito, tornou ao leito, a Musa

quando, logo, de um lado

chega o Guardador de Rebanhos, pessoano

passando rente, com o seu jeito labrego

de olhar sempre o passado

como se olhasse para frente:

“Os sentidos que as palavras trazem

se esconde no oco das nuvens

que passam, e, a poesia, então

e por isso, não se a pode decifrar.

São esfinges, inapreensíveis, as palavras

envoltas nestas nuvens moveis

do céu, tão airosas.  Não são como verdades

dispostas sobre o lajedo da memória.

Etéreos, mesmo os versos mais belos e irretocáveis

e as mais belas prosas.

 

Disse, então, o Mineiro, com as mãos maceradas

de revelar as riquezas do chão:

“O oficio do poeta, lembra o eito

de encontrar a pedra certa.

Certas palavras, escolhas, são como brilhantes.

Se escondem nas entranhas

e, depois de desencavados

põe-se à serventia de mulheres lenientes

para quem, deve o amor, produzir tais provas.

Não só as palavras, são tais pedras

mas, também, os afetos bateados no intimo

prenhes de beleza, em lavras novas”.

 

Neste congresso sobre a poesia

convoquei, onisciente, uma voz qu´inda faltava

a do hirto pescador, silente:

“Vejo-as (as palavras), como, quando na praia

volta o arrastão, juntando o esforço e a dor

crianças à flor d'areia, desenhando palavras e peixes.

A cena se parece, a um vivido jogo de armar.

Entendo que é poesia, este jogo”.

 

No remanso do poente, há os que não resistem

ao ninar praieiro do mar.  Mas, “Em verdade vos digo”

vociferou a Voz Divina, em tom de justa sentença:

“Palavras não fazem o sentido, que lhes quer atribuir

as humana e vernacular ciência.  São recitadas nas rezas

dispostas em um mosaico bizantino, no adro solene

e nas paredes, das altíssimas igrejas

ou, estão a voar no cantochão de hinos piedosos

no entardecer da alma, no lamento continuo

ao repicar dos sinos.  Talvez, se nos façam, escuta-las”.

 

Ao longe, em um caminhar, agora, mudo e deambulante

pode-se pensar nas falas, dos que habitam os poemas

eterno retorno, ausente, as palavras, os poemas

(também, o olhar), são mesmo, pouco para redimir

ou sonegar a tristeza, perdida, em tantos ais.

 

A morte, que se impõe, na matéria solidão.

A mente, em vigília sem fim, palavras em repetição.

Entes, que vem do passado e do inconsciente

para demarcar e construir, o tempo presente

no tardio eco da indefinição.

 

Ricardo S. Reis


                   ou a gente se raoni

ou se torna SerAfim

se a gente se sting

mallarmè sobra pra mim

 

Rúbia Querubim  

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Poemas Para V(L)ER

herói nacional

 

meu coração marçal tupã

sangra tupi e rock and roll

meu sangue tupiniquim

em corpo tupinambá

samba jongo maculelê

maracatu boi-bumbá

a veia de curumim

é coca cola e guaraná

 

Artur Gomes

do livro Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

Gravada pelo autor, no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002

Pátria Ar(r)mada - 2022

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Poemas Para V(L)ER

Mostra Visual de Poesia Brasileira

Varal De Poesia – Múltiplas PoÉticas

25 – junho – 19h -  Sarau Campos VeraCidade

- local: Foyer do Teatro Trianon

Campos dos Goytacazes-RJ


 

"Nunca fomos catequizados fizemos foi carnaval".

Oswaldo de Andrade.

 

 Nunca fomos colonizados, fizemos foi Balbúrdia anti-colonial.

                               Sady Bianchin

 

Ou a gente se Raoni

Ou a gente se Sting

                                           Luis Turiba


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pedra pássaro poema


era uma vez um mangue

e por onde andará macunaíma

na sua carne no seu sangue

 na medula no seu osso

será que ainda existe

 algum vestígio de Macunaíma

 na veia do seu pescoço?

 

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

 nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado?

macunaíma não me engana

 bebeu água do paraíba

nos porões dos satanazes

está nos corpos incinerados

 na usina de cambaíba

 em campos dos goytacazes

macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos

em são  francisco do Itabapoana

 

Artur Kabrunco

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cor da pele

 

áfrica sou: raiz & raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema

 

o negro na pele

é só pirraça

de branco

na cara do sistema

 

no fundo é amor

que dou de graça

dou mais do que moça

no cinema

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

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on the road: tempespaço

 

Sei de sobra/ que nunca terei/ uma obra.

Sei enfim/ que nada sei/ de mim

Fernando Pessoa

 

                     

                        o carro corre a tarde

            pelo asfalto escorre

no alto as imbaúbas

                acinzentam o mato

 

no horizonte o céu sobra

                           hoje agora ontem infindo

 

                                   pelo retrovisor a estrada

        o espaço atrás o tempo

vida vai se esvai indo

 

                             atrás do vento

               o carro corre

 

  a cada momento

            o tempo escorre

 

                lento o mundo espaço

                                                passa passageiro

 

                    palmeiras

                                       canaviais

            eucaliptos

                                cafezais

 

                                tudo verde

                             e mato

                             e morro

                             e tudo o mais

 

                                tudo hoje

                                tudo ontem

                noite-dia

                    aurora

                                tudo junto

                                           aqui e agora

  o tempo escorre

                       lento o mundo espaço

                                                       passa passageiro

 

Ronaldo Werneck

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Mostra Visual De Poesia Brasileira

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Fome é tema de ensaio fotográfico

 com ossos à venda em bandejas

 

come osso menina come osso menino

não há mais metafísica no mundo

do que comer osso

 

no açougue ou no mercado

osso de graça já foi dado

hoje é vendido hoje é comprado

 

come osso maria come osso mané

come osso joão com arroz e feijão quebrado

 

porque nesse país sem nome temos que comer osso

para matar a nossa fome


 

já podeis

da pátria, filho

ver demente

a mãe gentil

 

já raiou a liberdade

em cada cano de fuzil

 

salve lindo

fuzil que balança

entre as pernas

a(r)madas da paz

 

a  gripezinha

era a certeza esperança

de um genocida

imbecil incapaz                                      

                                                                                 A vida

sempre em  suspense

alegria prova dos nove

fanatismo nã0 me convence

muito menos me comove

 

 

Navegar é preciso

           para Fernando Aguiar

 

Aqui redes em pânico

pescam esqueletos no mar

esquadras  descobrimento

espinhas de peixe convento

     cabrálias esperas relento

     escamas secas no prato

       e um cheiro podre no AR

  

caranguejos explodem

   mangues em pólvora 

 

é surreal a nossa realidade

tubarões famintos devoram cadáveres

em nossa sala de jantar

 

como levar o   barco

em meio a essa tempestade

navegar é preciso

mas está dificilíssimo navegar

* 

Deus não joga dados

mas a gente lança

sem nem mesmo saber

se alcança

o número que se quer

 

mas como me disse mallarmè

:

- vida não é lance de dedos

A vida é lança de dardos

Deus não arde no fogo

                   mas eu ardo


Artur Gomes 

Pátria A(r)mada

Desconcertos Editora - 2022 

domingo, 28 de abril de 2024

poesia em movimento

 

A liberdade de expressão,

é a condição do ser agregário.                     

A minha liberdade, só faz a sua razão, na coletividade.   

Paz, pão e poesia.

Seja o que consumamos, nós, poetas e povo, artífices das palavras, construtores de um mundo novo.                

 

  Ricardo Santanna Reis

múltiplas poéticas

  Palavras ao vento   No artifício do fazer poético, a dúvida invadiu-me o pensamento: O que serão as palavras? Inquiri, eu, ao Te...