Palavras ao vento
No artifício do fazer poético, a dúvida
invadiu-me o pensamento:
O que serão as palavras?
Inquiri, eu, ao Tempo, sem alarde.
Foi o Vento, qaue mo respondeu, sibilante e frio
que as palavras “são difusas, posto que nem sempre
são claras, vezes furtivas, como assombração.
Muitas vezes, e eu as levo pelo ar.
Não satisfeito, continuei a perguntar:
Como se formam, as frases poéticas?
Veio a Tarde, dizer que “se vão formar de pedras
vaporosas, e raras, ou nobres e caras
como um segredo, com fulgor de revelação
para toda a humanidade.
Ou então, são como seixos pobres
apenas falas, sem nada para revelar, gritos dementes”.
Surge a Musa, moça prendada, e já, há tanto
acostumada nas artes do versejar.
Vem saída d’um canto de alcova
onde, tranquila, costurava
para assim falar:
“Parecem com pedras/caladas (as palavras)
atiradas por um menino, e, que, zunindo
por sobre o lago, duas, três, até, quatro vezes
vão formar os conceitos, para explicar
mas logo se afundam, desistentes”.
Isto dito, tornou ao leito, a Musa
quando, logo, de um lado
chega o Guardador de Rebanhos, pessoano
passando rente, com o seu jeito labrego
de olhar sempre o passado
como se olhasse para frente:
“Os sentidos que as palavras trazem
se esconde no oco das nuvens
que passam, e, a poesia, então
e por isso, não se a pode decifrar.
São esfinges, inapreensíveis, as palavras
envoltas nestas nuvens moveis
do céu, tão airosas.
Não são como verdades
dispostas sobre o lajedo da memória.
Etéreos, mesmo os versos mais belos e irretocáveis
e as mais belas prosas.
Disse, então, o Mineiro, com as mãos maceradas
de revelar as riquezas do chão:
“O oficio do poeta, lembra o eito
de encontrar a pedra certa.
Certas palavras, escolhas, são como brilhantes.
Se escondem nas entranhas
e, depois de desencavados
põe-se à serventia de mulheres lenientes
para quem, deve o amor, produzir tais provas.
Não só as palavras, são tais pedras
mas, também, os afetos bateados no intimo
prenhes de beleza, em lavras novas”.
Neste congresso sobre a poesia
convoquei, onisciente, uma voz qu´inda faltava
a do hirto pescador, silente:
“Vejo-as (as palavras), como, quando na praia
volta o arrastão, juntando o esforço e a dor
crianças à flor d'areia, desenhando palavras e peixes.
A cena se parece, a um vivido jogo de armar.
Entendo que é poesia, este jogo”.
No remanso do poente, há os que não resistem
ao ninar praieiro do mar.
Mas, “Em verdade vos digo”
vociferou a Voz Divina, em tom de justa sentença:
“Palavras não fazem o sentido, que lhes quer atribuir
as humana e vernacular ciência. São recitadas nas rezas
dispostas em um mosaico bizantino, no adro solene
e nas paredes, das altíssimas igrejas
ou, estão a voar no cantochão de hinos piedosos
no entardecer da alma, no lamento continuo
ao repicar dos sinos.
Talvez, se nos façam, escuta-las”.
Ao longe, em um caminhar, agora, mudo e deambulante
pode-se pensar nas falas, dos que habitam os poemas
eterno retorno, ausente, as palavras, os poemas
(também, o olhar), são mesmo, pouco para redimir
ou sonegar a tristeza, perdida, em tantos ais.
A morte, que se impõe, na matéria solidão.
A mente, em vigília sem fim, palavras em repetição.
Entes, que vem do passado e do inconsciente
para demarcar e construir, o tempo presente
no tardio eco da indefinição.
Ricardo
S. Reis
ou a gente se raoni
ou se torna SerAfim
se a gente se sting
mallarmè sobra pra mim
Rúbia Querubim
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