sábado, 13 de abril de 2024

tessitura - ricardo reis

 

TESSITURA

 

O canto do galo, solitário

como disse João Cabral

não inaugura o amanhã.

 

Há sempre um resquício de luz,

um facho que se avermelha, na madrugada, e lembra a Aurora Proletaria.

 

Há também o frio nos ossos,

que denota a urgência

e, se tivermos sorte.

um vívido companheiro

solidário, de copo e de fratria, no Bar

e um poema, com o qual

se esbarra, na calçada

rubro de tantos versos

e do sono dos justos.

 

Tudo, nesta hora,

que tem a tonalidade

e o aroma da maçã.

cintila nos brilhos

sobre o mar.

 

Nunca se fará sozinho,

mas é um trabalho para muitas mãos

generosas

e almas baudelarianas,

bêbadas de vinho,

a tessitura da manhã.

 

Ricardo Sant'anna Reis, em Maricá, abril 2024. 4h da madrugada.


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