sexta-feira, 7 de junho de 2024

múltiplas poéticas



poética 39

para Ingrid da Mata

 

e se eu te amasse

de outra forma

e não essa

jura secreta em segredo

se comesse

em tua língua

bebesse em tua boca

lambesse toda carne

nua e crua

como a lua

que ora tece luz

entre teus poros

onde tudo é prece

entre os sentidos

dos desejos

onde te beijo

oculto e como

a maçã

que te revela

minha fome

de manhã

se me tecesse em tua lã

me cobrisse com teu linho

e na carne

uva e vinho

pra desfazer meu desalinho

quando me deito

em teu divã

 

artur gomes

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Juras Secretas

https://braziliricapereira.blogspot.com/




 Poética 68


era para ser assim como se foice
no papel de seda era língua e sangue
unhas muitos dedos dentes
nos teus céus de boca
era assim como se fosse
meus olhos no cinema
nos teus olhos presos
e o destino do poema teus lábios indefesos

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

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A Traição das Metáforas 6

 

No fundo negro da noite blak billye tinha um jeito gal fatal vapor barato macabea agonizava nas entrelinhas tentando a cena que não sai nem freud explica o seu corpo que cai no primeiro abismo das metáforas era meio dia mil novecentos e oitenta e oito ribeirão preto em alvoroço alguém lixava uma carteira enquanto a bailarina se contorcia em sábado de páscoa ao som de pink floyd em frente as lojas americanas ricardo lima caçava imagens dentro dos ovos de páscoa marcio coelho toca pérola negra e eu falo fernando pessoa a eptv me leva ao ar ao vivo e no meio da multidão em êxtase um bêbado reclama pela sua previdência jardinópolis agora é apenas uma página de jornal sem vestígios onde rabisquei alguns poemas atrás dos fios elétricos na parede da choperia sete meia zero onde me chamam federico baudelaire eu quero teu corpo de manga fruta que se chupa

até sangrar ao som de um negro blues enquanto houver

 

Artur Gomes

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carNAvale

carnaval é festa da carne
orgia do corpo
levitAção da alma
tempo de rasgar os panos
sacralizar o que é profano
no altar pagão das liturgias
não me ofusco
entrego a Dionísio todo fogo
não de graça – tudo pago
e bebo todo fúria toda festa
como a sede do deus Bacco

Gigi Mocidade
Rainha da Bateria da Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta no Inconsciente Coletivo
https://arturkabrunco.blogspot.com/




          Nonada

Ela me inspira
me transpira
me transborda
estico a corda
para alinhar o plumo
no rumo certo do poema
a seta no foco
o poema em linha torta
para entortar a linha reta

Artur Gomes
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UM POETA NAS CIDADES

Dedicado ao poeta Affonso Romano de Sant’anna

 

Neste momento, um poeta está sozinho nas ruas de Nova York.

Caminha nas calçadas de Nova Deli.

Passeia o cansaço pelos gelos nórdicos.

É triste nas esquinas do mundo.

É o cego e seu realejo.

O enforcado, o carrasco, o viúvo, o noivo.

A voz do mudo e seus medos.

Os amantes e seus desejos.

Neste momento, um poeta anda pelas dunas de areias do Saara.

Venta nas folhas da Amazônia.

Chora pelos mares de Espanha.

É faca, corte, bala traiçoeira.

O Espírito do Tempo, os Templos, terços e tendas.

Um poeta sozinho nas ruas do mundo.

Olha as cidades e ouve seus gritos.

Olha as cidades e vê os seus circos.

Olha as cidades e tudo é igual: lodo, verde, temporal.

Olha as cidades e os girassóis se estilhaçam nos sóis amarelos.

Olha as cidades e o corpo é flechado nos vitrais dos mistérios.

Olha as cidades e as janelas abertas no fundo dos quintais.

Olha as cidades e toca em seus muros.

O muro e suas noites

O muro e suas peles

Atrás do muro, o mar

Atrás da noite, o nada

– A Barca da Morte espreita enganosa.

Sozinho nas curvas da vida,

as luas vão e vêm banhando-o em luz.

Neste momento, um poeta olha as cidades

tentando confortar poemas derramados.

Poemas de sinais trocados.

Poemas que se escrevem nos esgotos.

Entre ternuras, vinhos, auroras,

línguas estranhas beliscam como corvo.

Neste momento, um poeta olha as cidades

e a poesia não expulsa os demônios.

Que texto o orienta?

Como escrever o poema desses dias?

Mas escreve e escreve e escreve

porque não pode evitar desastres.

Um poeta caminha solto pelas ruas do Brasil.

Sob as estrelas tenta desenhar humanidades.


(Tanussi Cardoso: em A medida do deserto, dentro da coletânea Rios, Ibis Libris, 2003)

leia mais aqui

https://artecult.com/sextas-poeticas-confira-o-poema-um-poeta-nas-cidades-de-tanussi-cardoso-e-suas-dicas-culturais-da-semana/


laivo de

lesa - língua

 

do terceiro erro

a pa(lavra) sem vida

ao sol dis(sol(vida)

 

s(urge) o can(dor)

no re(canto)

dos pássaros

 

os espasmos

são inúteis

 

por migalhas

oram as horas

 

no aço dos olhos

o fosco torpor

do fado

 

inferno de inverno

interno

 

acima das nuvens

dormem os dândis

 

do sétimo círculo

a cidade

des

pro(vida)

de

poesia

 

fim da mais

rápida das vias

 

de trevas

toda trova

 

os poetas

são cúmplices

 

teu corpo de

tordo todo

torto

com(prova)

 

garbo gomes

07.06.24


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