genital
pasto no cosmo
a soja secular de Jardinópolis
onde os discos-voadores
sobrevoam meu nariz
na cara das metrópólis
no centro ao sul
os cemitérios
possuem mais mistérios
que a nossa vã filosofia
tem um animal de vagina espacial
na poesia
&
um grande
pênis roxo
milenar
feito
aspiral em círculo
preparando imenso orgasmo
pra festejar o fim do século
overdose
nu vermelho
retesar as cores
e os músculos
com os dedos agarrados no pincel
se faltar carne
pra roçar os óvulos
a gente jorra tinta no papel
magia
quando meto pés
em tuas matas
selvagem índio
pássaro animal
devasto céus sem ter limites
com poesia sobrenatural
tropicalirismo
girassóis pousando
nu teu corpo: festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
do teu foto farto
lambuzando a uva
de saliva doce
tropicalha
vendo a lua leviana
no império das bananas
papagaios periquitos
graviola
a fruta eu chupo morena
semente eu planto cigana
na selva pernambucana
nossa língua deita e rola
lençóes
de renda
poderia abri teu corpo
com meus dentes
rasgar panos e sedas
com as unhas
arreganhar as tuas fendas
desatar todos os nós
da tua cama
arrancar os cobertores
rasgando as rendas dos lençóis
perpetuar a ferro e fogo
minhas marcas no teu útero
meus desejos imorais
mal/dizendo a hora soberana
com a força sobrehumana dos mortais
quando vens me oferecer migalha e fruto
como quem dá de comer aos animais
alucinações
(in)terpoéticas
o que é que mora
em tua boca bia?
um deus um anjo
ou muitos dentes claros
como os olhos do diabo
e uma estrela como guia?
o que é que arde
em tua boca bia?
azeite sal pimenta e alho
résteas de cebola
carne krua do caralho
um cheiro azedo de cozinha
tua boca é como a minha?
o que é que pulsa
em tua boca bia?
mar de eternas ondas
que covardes não navegam
rios de águas sujas
onde os peixes se
apagam?
ou um fogo cada vez mais dante
como este em minha boca
de poeta/delirante
nesta noite cada vez mais dia
em que acendo os meus
infernos
em tua boca bia?
Artur
Gomes
Couro Cru & Carne Viva – 1985
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