domingo, 9 de junho de 2024

múltiplas poéticas


deste ofício


aprisionado sobre o dorso

daquele velho tigre

sonhado por Borges
escrever como quem

repete os ritos

escrever para não sucumbir
para não rastejar
ou se deixar açoitar
pelas improbidades do mundo

escrever para não sobreviver
para submergir 
para intensificar

escrever a contrapelo a contrapele
sobre a pedra escondida
sobre a pedra revelada
sobre as reservas de silícios
sobre os ossos calcinados

escrever para reter o tempo
para distender o espaço

escrever mesmo que se perca 
o fio da meada
que se apague a estrela guia
que os teus passos virem pedra
que o tédio escave teu rosto
que a tristeza amortalhe teu corpo
que teus olhos sigam na penumbra

escrever também para estar só 
em meio à multidão ruminante

 

de algum lugar


tudo a partir de um apelo vermelho do corpo

e a necessidade de passar o tempo fora dos trilhos

ouvir mais e falar menos

é o que os meus olhos me pedem agora

uma canção anterior a tudo convém

águas calmas, mas também flash

de ruídos em minhas pálpebras

o branco silêncio das planícies

mas também as densas entranhas

desta floresta de vozes

triunfos da alegria, mas também

palavra derrotada, línguas em ruínas

o que digo vem da terra

o que repito vem do mar

uma voz anterior à palavra me saúda

eu sou quem sou, animal, nu

com ossos, sons e membranas

meu corpo imerso em argila

é fogo, é água vermelha

é barro deste rio que abandono

mas que permanece comigo

à deriva, dentro e acima de mim

escrever deriva tempo

um templo onde pastam

as palavras inauditas

por este orifício

ofício da linguagem

escrever não é só viagem

é risco, rito de passagem



HERBERT EMANUEL VALENTE DE OLIVEIRA - Poeta, professor de filosofia, escritor, produtor cultural, com vários livros de poemas publicados, com traduções para o castelhano e o catalão, faz Poesia Sonora e se apresenta em vários encontros de Poesia e Literatura pelo Brasil; integrante do “Tatamirô Grupo de Poesia” e do “Pium Filmes - Movimento do Cinema Possível” em Macapá.


 curta brisa

 

não tem jeito

a vida é uma fera

quando menos se espera

uma hora qualquer

a máquina dá defeito

então o que me resta

para não perder o fim da festa

- fechar a boca

cortar um kilo disso

outro daquilo

e nada de comer aquilo

porque o vento me avisa

a melhor coisa é comer a brisa

e curtir a atriz enquanto ela desliza

 

(Artur Gomes - in Vampiro Goytacá)

 

II Festival Cine Vídeo Poesia

KINO3 – Fulinaíma MultiProjetos

na página https://www.facebook.com/studiofulinaima/

 

Brisa – Cinema Possível – um filme de Jiddu Saldanha

https://www.youtube.com/watch?v=WJ1zmW-ASKQ&t=167s

se você tem um vídeo com poesia de até 5 minutos e queira estar conosco nesta jornada envie-nos pelo e-mail fulinaima@gmail.com ou pelo zap 22 99815-1268 – direção: Artur Gomes, Jiddu Saldanha e Tchello d´Barros 


incurável

é sempre
o erro
somente
o mesmo
pequeno
e grande
ruído
de restos
roídos
perfeito
equí
voco
de linha
e ritmo
de laço
e perda
o erro
sempre
mesmo e
somente
o in
vocar
solene
da bruta
ruptura
o que
sangra
e não
perdura
o mesmo
sempre
erro e o
insolente
coice de
coisa
junto à
gente
e sem
pre o
erro
mesmo
na boca
do ventre
e veste
o vasto
vazio
ur
gente
o erro
somente
que errar
é se mover
adiante
(riocorrente)
e não
adianta
a todo o
instante é
recorrente
e o ver
so é sem
pre recom
pensa que
não com
pensa
o erro
silente re
torna e
tudo trans
torna
a poesia
não tem
cura e o
que nela
se pro
cura é
o que
se per
de sem
pre

garbo gomes
09.06.24

arte :
Le jour
( O dia )
Joan Miró
1953



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