deste ofício
aprisionado sobre o dorso
daquele velho tigre
sonhado por Borges
escrever como quem
repete os ritos
escrever para não sucumbir
para não rastejar
ou se deixar açoitar
pelas improbidades do mundo
escrever para não sobreviver
para submergir
para intensificar
escrever a contrapelo a contrapele
sobre a pedra escondida
sobre a pedra revelada
sobre as reservas de silícios
sobre os ossos calcinados
escrever para reter o tempo
para distender o espaço
escrever mesmo que se perca
o fio da meada
que se apague a estrela guia
que os teus passos virem pedra
que o tédio escave teu rosto
que a tristeza amortalhe teu corpo
que teus olhos sigam na penumbra
escrever também para estar só
em meio à multidão ruminante
de algum lugar
tudo a partir de um apelo vermelho do
corpo
e a necessidade de passar o tempo fora
dos trilhos
ouvir mais e falar menos
é o que os meus olhos me pedem agora
uma canção anterior a tudo convém
águas calmas, mas também flash
de ruídos em minhas pálpebras
o branco silêncio das planícies
mas também as densas entranhas
desta floresta de vozes
triunfos da alegria, mas também
palavra derrotada, línguas em ruínas
o que digo vem da terra
o que repito vem do mar
uma voz anterior à palavra me saúda
eu sou quem sou, animal, nu
com ossos, sons e membranas
meu corpo imerso em argila
é fogo, é água vermelha
é barro deste rio que abandono
mas que permanece comigo
à deriva, dentro e acima de mim
escrever deriva tempo
um templo onde pastam
as palavras inauditas
por este orifício
ofício da linguagem
escrever não é só viagem
é risco, rito de passagem
HERBERT EMANUEL VALENTE DE OLIVEIRA - Poeta, professor de filosofia, escritor, produtor cultural, com vários livros de poemas publicados, com traduções para o castelhano e o catalão, faz Poesia Sonora e se apresenta em vários encontros de Poesia e Literatura pelo Brasil; integrante do “Tatamirô Grupo de Poesia” e do “Pium Filmes - Movimento do Cinema Possível” em Macapá.
curta brisa
não tem jeito
a vida é uma fera
quando menos se espera
uma hora qualquer
a máquina dá defeito
então o que me resta
para não perder o fim da festa
- fechar a boca
cortar um kilo disso
outro daquilo
e nada de comer aquilo
porque o vento me avisa
a melhor coisa é comer a brisa
e curtir a atriz enquanto ela desliza
(Artur Gomes - in
Vampiro Goytacá)
II Festival Cine Vídeo Poesia
KINO3 – Fulinaíma MultiProjetos
na página https://www.facebook.com/studiofulinaima/
Brisa – Cinema Possível – um filme de Jiddu Saldanha
https://www.youtube.com/watch?v=WJ1zmW-ASKQ&t=167s
se você tem um vídeo com poesia de até 5 minutos e queira estar conosco nesta jornada envie-nos pelo e-mail fulinaima@gmail.com ou pelo zap 22 99815-1268 – direção: Artur Gomes, Jiddu Saldanha e Tchello d´Barros
incurável
é sempre
o erro
somente
o mesmo
pequeno
e grande
ruído
de restos
roídos
perfeito
equí
voco
de linha
e ritmo
de laço
e perda
o erro
sempre
mesmo e
somente
o in
vocar
solene
da bruta
ruptura
o que
sangra
e não
perdura
o mesmo
sempre
erro e o
insolente
coice de
coisa
junto à
gente
e sem
pre o
erro
mesmo
na boca
do ventre
e veste
o vasto
vazio
ur
gente
o erro
somente
que errar
é se mover
adiante
(riocorrente)
e não
adianta
a todo o
instante é
recorrente
e o ver
so é sem
pre recom
pensa que
não com
pensa
o erro
silente re
torna e
tudo trans
torna
a poesia
não tem
cura e o
que nela
se pro
cura é
o que
se per
de sem
pre
garbo gomes
09.06.24
arte :
Le jour
( O dia )
Joan Miró
1953
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