domingo, 14 de abril de 2024

múltiplas poéticas

Ali

ali 
só 
ali 
se

 

se alice 
ali se visse 
quanto alice viu 
e não disse

se ali 
ali se dissesse 
quanta palavra 
veio e não desce

ali 
bem ali 
dentro da alice 
só alice 
com alice 
ali se parece

 

Paulo Leminski



AGORA NÃO SE FALA MAIS

 

Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início:

Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.

Você não tem que me dizer
o número de mundo deste mundo
não tem que me mostrar
a outra face
face ao fim de tudo:

só tem que me dizer
o nome da república do fundo
o sim do fim
do fim de tudo
e o tem do tempo vindo:

não tem que me mostrar
a outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos.
está vetado qualquer movimento

 

Torquato Neto


Ronaldo Werneck

𝐀𝐟𝐟𝐨𝐧𝐬𝐨 𝐑𝐨𝐦𝐚𝐧𝐨 𝐝𝐞 𝐒𝐚𝐧𝐭𝐀𝐧𝐧𝐚:

𝐞𝐬𝐬𝐞 𝐦𝐮𝐧𝐝𝐨 é 𝐦𝐚𝐜𝐢𝐨 𝐞 𝐩𝐞𝐫𝐢𝐠𝐨𝐬𝐨

 

O cineasta “gaúcho-carioca” Murillo Azevedo, está iniciando as filmagens de um documentário sobre minha trajetória de 80 anos de vida e mais de 60 de literatura. Velho amigo de meus tempos de Rio de Janeiro, Murillo esteve comigo aqui em Cataguases no último fim de semana. Pesquisador cuidadoso, ele acaba de encontrar uma “preciosidade” que eu desconhecia: um artigo de Affonso Romano de SantAnna sobre meu primeiro livro, “Selva Selvaggia”, lançado no Rio em maio de 1976. Lá se vão 48 anos. Na época, “Selva Selvaggia” foi muito bem recebido pela critica e mereceu resenhas em vários veículos: Folha de S.Paulo, Globo, Jornal do Brasil, Revista Colóquio Letras (Lisboa), Pasquim & etc. Mas só agora, graças ao Murillo, leio pela primeira vez o texto de meu amigo Affonso, publicado pela Veja. Leiam em meu blog, link a seguir.

https://ronaldowerneck.blogspot.com/2024/04/affonso-romano-sobre-rw-o-mundo-e-macio.html?fbclid=IwAR3BiiziKamCJxKKCTr7zKmqrVdy-j8z00DUMWwmEN7spacvY00eD40NTzo_aem_AaHLpsXugHMGDf0BqMlNFD3v8wWoqk1v7gfKhhZgDO7OJBfzJiZfweDD95kKvsWLhHvhph7UObttc1NS4GgWffwG



 OLHAR YANOMÂMI

 

o yanomâmi traz consigo

em seu olhar de ser digno

o mistério da verde relva

no vento um vivo da selva

um yanomâmi tem o foco

fixo não perdido, é luz

transvestida de fluxo e paz

te olha rindo: sabe o que faz

o yanomâmi um ser divino

humano em desenhos gráficos

de corpo alma rios matas

andarilhos de pés descalços

o que ofende no yanomâmi

é seu olhar doce de frieza

nada a dar e tudo imaginar

nem tão feliz nem vã tristeza

faróis de uma floresta densa

brilham olhos luminares

yanomâmis não são lendas

são irmãos...familiares

há algo de muito espúrio

na invasão garimpeira

contaminação de mercúrio

contrabando de madeira

como é possível um povo

tão integrado à selva e belo

viver no desassossego de

mortes fomes flagelos

defendo-os com minha flecha

força do punho em negra tinta

nos acordes do meu instrumento

canto o grito: yanomâmi é vida

 

Luis Turiba

Rio de Janeiro-RJ



Sentença

faz muito tempo que eu venho
nos currais deste comício,
dando mingau de farinha
pra mesma dor que me alinha
ao lamaçal do hospício.
e quem me cansa as canelas
é quem me rouba a cadeira,
eu sou quem surfa no trilho
e ainda paga passagem,
eu sou um número ímpar
só pra sobrar na contagem.

por outro lado em meu corpo,
há uma parte que insiste,
feito um caju que apodrece
mas a castanha resiste,
eu tenho os olhos na espreita
e os bolsos cheios de pedras,
eu sou quem não se conforma
com a sentença ou desfeita,
eu sou quem bagunça a norma,
eu sou quem morre e não deita.

Salgado Maranhão
Do Livro A Cor da Palavra
Prêmio da Academia Brasileira de Letras - 2011


não possa tanta distância

deixar entre nós

este sol

que se põe

entre uma onda

e outra onda

no oceano dos lençóis

 

Paulo Leminski

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https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/


um quarteto de passos
( pós - Torquato )

primeiro passo
desocupar rápido
esse espaço.

não há como
se virar.

encaixotados
germinam
tumores.

segundo passo
invadir vasto
teu corpo -
ócio
vazio ósseo.

não há poesia
se faltar.

a feliCidade é
uma fábrica
de horrores.

terceiro passo
sentir tátil
a físsil
forma fóssil
do salto.

não há como
se calar.

escorrem
gritos
das gretas.

quarto passo
coma meus
olhos
esqueça.

garbo gomes


Intertexto:
Poemas
Torquato Neto

Arte :
Jean Michel
Basquiat
Stardust
( 1983 )

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