O
Poeta Enquanto Coisa
Fé no Evoé:
Confissões dionisíacas na poética e política de Artur Gomes
Igor Fagundes *
Depois das excitadas e excitantes Juras secretas, de 2018, o poeta e
artista multimídia Artur Gomes volta a tornar pública sua jura de amor e
fidelidade ao arcaico deus Dionísio em O
poeta enquanto coisa, de 2019, incorporando as ébrias forças de Baco sob
novos goles e ritos, tão poéticos quanto políticos, numa contemporaneidade que
avança em lama e vertigem e, assim, exige a potência do mítico da palavra
corpórea e originária. Comparece ao ethos
deste livro a mesma embriaguez fulinaímica
de sempre: a que toma, mediante o delírio atento frente aos passos obtusos do
ser e estar das gentes, cada palavra como taça, vinho tinto e uma tinta capaz
de, em contrapartida, rogar lúcida a passagem dilacerada do humano pelas
páginas turvas do mundo. Que, em prefácio, ressoe agora-aqui a face mesma de
assonâncias de Artur. Que em pré-faces (a da melopeia, a da fanopeia,
a da logopeia) o poeta se apresente,
por assim dizer, multifacetado, contaminando-nos com os tempos de seu ritmo
venéreo. Que se capte, enfim, o próprio escape das imagens ímpares e afiadas
pelo gume de Gomes, repetindo-se – com outros nomes e aliterações – seus
deleitosos jogos de palavras em nossa fome de análise e anúncio: incorporemos,
nessa prosa de abertura, a música de seus trocadilhos, a curvatura das
paranomásias no retilíneo das linhas do livro: a que verte vulva em verso,
Afrodite em afro-ditos de orixás em orgias com Ártemis e Hermes.
Que o veraz poeta, para aquém do
denominado moderno, para além do já clichê pós-moderno, para quem dos rótulos e
taxonomias previstas pelas literárias teorias, atravessa o pós-pós de tudo e mesmo o pó da historiografia. Artur Gomes se
exibe, ao revés, pré-antigo (tão dentro quanto fora do chronos) na atualidade incorrigível de uma poesia dedicada à Gaia
(lê-se na dedicatória: “e a
Terra/Mãe/Terra a musa eterna dos
meus estados de surtos dos meus estados de sítio dos meus estados de cio”). Enquanto bebe, no tempo cronológico (“tempo de bestas”,
“na caretice dos bostas”), as lutas e lutos de sua época e século (“esse país
que atravesso corpo devassado em grito na cara do silêncio”), inebria-os e
subverte-os no tempo imemorial da Terra para fundar o Aion sem fundo do instante-em-transe da experiência artística. Por
isso, não basta citar, em cacoete analítico, os tiques nervosos que convêm à
crítica (mencionar modernismos influentes, a geração beat, a poesia pop, a
tropicália...) para entender sua lírica. Nem seria preciso. Soaria até
repetitivo elencar, neste preâmbulo, as personagens caras a Gomes, forjando-o
efeito do esbarro nelas todas, do encontro com elas, das tramas e transas com
obras e corpos do passado e presente: o poeta já o faz e cumpre a coletânea
como a dramaturgia de sua errância pelo imaginário e pelo inconsciente, os
quais derramam sobre o copo do real e da consciência alter-egos confessos e
inventados – tudo o que for líquido nos vasos sanguíneos do poeta alcooliza o
poemário com o híbrido de fogo fátuo e frios fatos.
Artur Gomes – assinatura por vir,
heteronímica, heteromórfica – assim apresenta em O poeta enquanto coisa suas juras não mais secretas, mas públicas,
ainda púbicas, aos afetos que compõem e decompõem sua literaturavida. Seus versos são rascunhos, rasuras e ranhuras a
passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e estilística,
deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte dos escritos e
vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas. Tais intertextos
e intratextos, ou ainda, tais hipertextos insaciáveis se disseminam pela obra
na mesma proporção com que se concentram em cada poema, lado a lado ou
embaralhados; falseando nos rebentos líricos as certidões de batismo e, em
poligamia, proliferando as certidões de casamento com as leituras/releituras de
livros, bem como com o folhear de rostos amigos, ou com o riso e risco do
desconhecido, não obstante o postergar de comprovantes de residência, de
pátrias de origem: cada gesto, um tanto Ulisses, desmente Ítacas, deslinda
labirintos (do Minotauro?) ou mesmo fios (de Ariadne?), teatralizando ad infinitum as alteridades que servem
como impressão digital provisória e polimórfica para alguma identidade fluida,
fragmentada, ao rés da fantasia. Mas nada disso seria possível – nenhuma
conversa com livros, nenhum sexo com as líricas de um outro e de uma outra –
seria concreto sem a lascívia uma vez mais dionisíaca de um cérebro em gozo
sináptico, em psiké-análise, em psiké-catálise, em psiké-catábase: esta que põe no divã do poeta as divas Oxum e
Afrodite atravessadas, fosse a sala do analista também um templo pagão ou uma
ilha de Lesbos, de modo que Artur construa entre sua cama e seu karma de vate
uma Igreja imoral/amoral do Reino de Zeus. E dos muitos Eus que exilam hóstias
e comungam com o jamais fixo e intransigente credo.
Esta, a sacralização do profano e do
erótico, ou a profanação do sagrado enquanto humano, do poeta enquanto coisa
(“o amor mesmo quando profano / tem muito mais de sagrado”): filho de um deus
com uma mortal, Dionísio dança na recorrência da palavra “vinho” no livro, a
exemplo dos versos: “aqui / a poesia pulsa / na veia / no vinho”; “por vinho
tinto e poesia”; “ela tem
sede de vinho / nas
madrugadas dos bares”; “o vinho do tempo na boca”; “em nossas bocas tinto –
vinho”; “beijo tua boca ainda suja / do vinho que sobrou”; “me consagro teu
amante / pelos vinhedos de Baco / no ápice sagrado / da su-real pornofonia”. A
embriaguez dos significantes e dos significados é a que tanto forja imagens
insólitas (como a de um “céu de estanho” ou como em “ela mastiga meus
ponteiros”) quanto a que costura melodias bem trabalhadas entre vogais,
consoantes ( “entre paredes pedras facas de dois gumes / nos parreirais depois
da lua), ratificando a inteligência verbal (a logopeia) de Artur Gomes dobrada em melopeia (música) e fanopeia (imagética).Visualidade
provocada, a saber, não só pelas imagens significadas pelos significantes, mas
visualidade ou imagem do próprio significante, o qual, dentro de si, dá à luz
significâncias outras (“EuGênio Andrade”, “Afro-dite, “BolivariAndo”,
“eletriCidade”), pois Artur Gomes – nesta “pornofonia” – é mestre na criação de
neologismos (em tudo se vê uma “carNavalha”).
Não apenas o corpo do homem, da mulher, se sensualiza e se sexualiza sob a força cósmica de Eros. É o poema mesmo que, em O poeta enquanto coisa, é corpo sensualizado, sexualizado, da mesma maneira que a cidade, o mundo, os tempos e o Tempo são Eros, vez que a palavra é pele e poro (duas palavras aliterantes e frequentes em Artur Gomes). Nessa porosidade, o poeta se entende permeável a coisas e pessoas (a pessoas já misturadas às coisas, a pessoas já coisas): “por entre poros entre pelos / minhas unhas tuas costas”. Também por isso, por essa poesia de tamanho contato, fricção, a relação com a língua se confirma erotizada e – vale dizer – tanto a língua física quanto a verbal, o que equivale a dizer que escrita e oralidade se reencontram no poeta: a sofisticação da escritura literária não perde (pelo contrário, potencializa) a dimensão primigênia do poeta como cantor, como ator “na divina língua de Baco”, a qual se exalta mediante a recorrência também da palavra “boca” e da palavra “coxa”: uma é a que beija, lambe, morde e degusta; outra é a beijada, a lambida, a mordida, a degustada. Ambas em rima toante também entoam ritmos e ritos profanos-sagrados:
o poema fala do teu corpo
como se o tocasse
o reconhecesse em cada verso
cada palavra que sai da boca
como um canto bíblico
com louvor profano
Nessa
performance e performatividade lingual-linguística, todo signo cisma um
erotismo entre o significante e o significado, sim, mas também entre página e
palco, palco e praça, praça e povo, a babel dos povos e a babel das palavras:
daí, tantos trocadilhos (troca-trocas, orgias, surubas...), como o da “flór do lótus” com a “flor do lácio”, o das
“coxas” com as “costas”, o do “fauno” com a “flauta”, o da “alvorada” com o
“alvoroço”, o da “antítese” com a “Antígona”. Eis a língua física, outrossim, a
trocar com a verbal, mas sendo ao mesmo temo pelo verbal trocado, e vice-versa.
Eis o poeta trocando com outros poetas ou sendo trocado por poetas outros,
vestindo a roupa dos outros e tirando a sua roupa para ser outro: Federico
Baudelaire, Gigi Mocidade, Bracutaia Silva, Federika Bezerra, Cristina Bezerra
etc. O poeta, analista translógico da psique, troca com sua psicanalista. E o
poeta se tenta analista de si mesmo, elevando o caos para a troca de seu nome
Artur por timbres e assinaturas novos. Do mesmo modo, o nome dos poetas que
existem, os que morreram e ainda não, os vivos hoje e sempre, vai se trocando,
em rearranjos da memória (e do recriativo esquecimento). Artur Gomes troca
poetas em seu corpo e, trocando com eles, entende que todos trocam entre si, a
exemplo do diálogo poético de Clarice com Baudelaire. Mais ainda: o corpo do
poeta troca com o corpo do poema e, consoante em “Poética”, a metalinguagem
elabora um troca-troca de textos sob o mesmo título, pois o poema “Poética” se
metamorfoseia em outros poemas: o tema “Poética” permanece, mas se trocando: o
mesmo sendo diferente. A palavra “outro(s)” se sugere, enfim, ouro neste livro,
e é nessa não indiferença ao outro, que o poético se faz ético e político. E
nessa política da e pela diferença, a cidade do corpo se troca e vira o corpo
da cidade. Assim, o poeta é – quando e enquanto coisa.
No meio de tantas referências e
reverências, borrões (d)e assinaturas (como as de Mário de Andrade, Drummond,
Torquato Neto, Rimbaud, Mallarmé, Tanussi Cardoso, Tchello d’Barros, Jiddu
Saldanha, Ronaldo Werneck, Reinaldo Valinho Alvarez, Reinaldo Jardim, deuses e
deusas gregas, orixás), o “anjo torto” de Artur Gomes não sopra no livro Manoel
de Barros ou James Joyce, escritores também engenhosos e que se vale de muitos
ilogismos ou neologismos. Todavia, O
poeta enquanto coisa não deixa, na qualidade de título de livro, de
repercutir o Retrato do artista quando
coisa (de Barros) e o Retrato do
artista quando jovem (de Joyce). Do
mesmo modo, não havendo menção (ao menos, explícita e intencional), ao “Teatro
Oficina” de José Celso Martinez Corrêa, a dimensão orgiástica da arte e a
reunião – não menos sacro-promíscua – de mitos gregos e africanos, a
assimilação pela cultura ocidental de outras culturas, aparece em Artur Gomes
nesta, quiçá, Poesia Oficina. A
relação gozosa e experimental com que a palavra se faz poema e se teatraliza
faz de seus livros um grande laboratório da língua, do corpo e da cultura, com
repercussões nitidamente políticas.
Se Pantanal é o corpo poético e o poema
experimental, de aparente falta de lógica, lembrando o discurso infantil, no
Manoel de Barros do Retrato do artista
quando coisa, a urbe é o corpo prenhe de sexualidade e sensualidade em
Artur Gomes, nos supostos ilogismos do discurso adulto que se vê fragmentado e
devorado por Eros e Thanatos, e no qual a relação
sujeito-objeto já não dá conta quando o humano se vê coisa (não mais agente ou paciente, voz ativa ou passiva: talvez,
as duas ao mesmo tempo). Como no Pantanal de Barros, a linguagem de Gomes é
lamacenta, cheia de líquidos e delírios: a seiva se expande e se intensifica
com (ou se troca por) suor e sêmen.
Lama, agora, é a cama: o mangue ou o pantaneiro é a cama de Artur onde dormem,
acordam, sonham, gozam e ardem todos os corpos (humanos e não humanos) aqui já
citados e dispostos nos lençóis, colchas e fronhas da página.
Por outro lado, temos na trajetória
literária de James Joyce, a intertextualidade com Ulisses de Homero. Artur
Gomes ouve o canto da sereia em sua cama, livro, divã, e talvez do inconsciente
escute a voz de um “artista quando jovem”, vinda de Joyce. Nesta, a personagem
protagonista Stephen Dedalus, aquele que será adiante o anti-herói de Ulysses, diz à sua mãe que não poderá
seguir a vocação de padre. Ele descobriu uma nova e grandiosa missão em sua
vida: a de criar uma nova e poderosa mitologia para o povo irlandês. O
romance autobiográfico de Joyce narra a infância de Dedalus (máscara de Joyce),
personagem que vai aparecer novamente em Ulysses.
A vida do pequeno Dedalus é marcada pela religiosidade da mãe. Ela quer que o
filho siga a carreira eclesiástica. Vários padres fazem parte da vida de
Dedalus e vão moldando sua consciência. O momento de virada na vida da
personagem principal se dá no momento em que ele escuta um horrível sermão
feito por um padre sobre o inferno que o deixa muito impressionado. Dedalus
passa a viver como um carola seguindo à risca todos os jejuns e mandamentos da
igreja católica. Nesse momento, ele até se sente como um futuro padre. Com a
sequência do romance, vemos o jovem Dedalus passar de uma fase religiosa para
uma de sensualidade. Sente-se cada vez mais obcecado com a ideia da confissão.
Ele então confessa a um padre todos os pecados sensuais que pratica. Abandona
definitivamente a convocação de ser padre e passa a se interessar por ideias
artísticas e estéticas. Dedalus abandona a carreira de padre mas não a fé.
Assim, Artur Gomes se obstina pela ideia de confissão, mas de uma confissão
dionisíaca. Primeiro, fazendo suas Juras
Secretas, suas confidências sensuais, sexuais, eróticas, fulinaímicas. Em
suma, suas sagaranagens (há algo de
Joyce em Guimarães Rosa, ou vice-versa; no Rosa que há em Artur Gomes, no sagarana dos três). Agora, em O poeta enquanto coisa, arriscando-se a
abandonar todo credo político-religioso paralisante, move-se – avesso ao
dogmático – no sentido de dançar o mitopoético, o dionisíaco. Daí, uma Igreja
Universal do Reino Zeus faça todo sentido na cosmogonia e teogonia de Artur
Gomes. Em primeiro lugar, como deboche diante de quaisquer fundamentalismos. Em
segundo lugar, como denúncia do que um Reino de Deus pode roubar do político o
vigor do poético, preferindo um louvor a Dionísio a um Deus que não sabe
dançar, que não sabe gozar, na liturgia de uma poesia que roga
por um poema
que desconcerte
entorte
desconforte
arrombe a porta
dos céus
da tua boca
arranhe
os dentes
da loba
arrebanhe os cordeiros
no pasto
e lhes ensine
a subverter
as ordens do pastor
assumo
o risco
não sou demo
nem corisco
eu sou cantor
Iansã é quem me lava
Oxossi é quem me leva
Ogum é quem me manda
Oxum é quem me guarda
eu sou o que invoca
o que provoca
e incorpora
desconcentra
desconforta
desconstrói
e desconcerta
eu sou o que interpreta
representa
o que inventa
e desafora
o Anjo Torto
graças a Zeus
a pedra e ao Machado de Xangô
a Capitã do Mato
Caipora
me xinga de poeta enganador
mal sabe ela
que eu sou da reza
que o homem que se preza
nunca se escraviza
com chicote de feitor
*Igor Fagundes é poeta, ensaísta, doutor em Poética e professor
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor, dentre outros, de pensamento dança (2018) e Poética na incorporação (2016).
Fulinaíma Sax Blues Poesia
“era um tempo torto” Ademir
Assunção a algum tempo atrás fez esta postagem sobre o CD Fulinaíma Sax
Blues Poesia
Sabe, eu preciso me defender de todo
o ódio e rancor de vocês, então eu meto o disco de Artur Gomes no cd player que
o Jairo Mattos generosamente me deu de presente (valeu, Jairão), encaro a
Marginal Tietê com os caminhões zunindo ao meu lado, aumento o volume e
atravesso a ponte Engenheiro Badra batucando no painel do carro e cantando
junto, quase gritando, os versos de Luiz Ribeiro, que me enchem de tesão e
energia, “uns pedem outros dão propina / quem precisa de crack e cocaína /
talvez carinho e colo / muito cuidado com a tristeza / que ela pode um belo dia
lhe pegar pelo pé / e você não queira que ela vá embora” e então eu abaixo um
pouco o volume e desacelero um pouco e a voz suave de Naiman me alegra pra valer,
“ando por são paulo meio araraquara / a pele índia do meu corpo em sua carne
clara” e aí vem o blusão energético de Reubes Pess, “acendo mais um cigarro /
meu vício eu mesmo pago / e viajo / dentro dessa noite escura / tudo pode
acontecer”, cruzando com a voz firme de Artur Gomes, “oh, baby, a coisa por
aqui não mudou nada / embora sejam outras siglas no emblema / espada continua a
ser espada / poema continua a ser poema”, e então eu agradeço a Artur, Reubes,
Naiman, Luiz Ribeiro e Dalton Freire por terem gravado esse disco abençoado,
cheio de versos poderosos e riffs de guitarra e batuques que injetam energia
direto nas veias do corpo e que tem me salvado nestes dias tristes, vocês não
imaginam quanto.
relatório
I
na sala ficaram cacos de pratos
espalhados pelo chão pedaços do corpo retidos entre o corredor após o interrogatório um cheiro de pólvora e mijo misturados a dois ou três dias sem banho depois de feito sexo
só o fogo da verdade exalando odor e raiva quando em verde conspiravam contra nós
em são cristóvão o gasômetro vomitava um gás venoso nos pulmões já cancerados nos quartéis da cavalaria
II
eu me lembro
o sentimento era náuseas nojo asco
quando as botas do carrasco
bateram nos meus ombros com os cascos
jamais me esqueci o nome do bandido escondido atrás dos tanques
e
se chamavam
dragões da independência
e a gente ali na inocência
comendo estrumes engolindo em seco as feridas provocadas por esporas
aguentando o coice o cuspe
e
a própria ira
dos animais de fardas
batendo patas sobre nós
III
com a carne em postas sobre a mesa
o couro cru o coração em desespero
o sangue fluindo pelos poros pelos pelos
eu faço aqui
meditações sobre o presente
re cria ando
meu futuro
tentando só/erguer
as condições pra ser humano
visto que tornou-se urbano
e re par tiu
se
em mil pedaços
visto que do sobre-humano
restou cabeça pés e braços
Artur Gomes
do livro Couro Cru & Carne Viva
1987
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