CADÊ? Livro Eterno
Luís Turiba
Que achado maravilhoso. Dos meus livros, o que mais gosto, mais tenho chamego, mais caprichei no processo no processo editorial. É de 1998.
Com capa e programação do parceiro bricabraqueano Luis
Eduardo Resende.
Editado pela Paralelo15 de Brasília.
Tem orelha de Antônio Risério, comentário na quarta capa de Francisco Alvim e apresentação poética de escritor pernambucano e apresentador da TV Senado Maurício Melo Júnior.
Na parte final do livro, há um trabalho especial sobre a visita que fizemos ao etno- poeta polonês-americano Jerome Rothenburg - ao lado da fotógrafa americana-bahiana Lena Coutinho, a Encinitas, Califórnia,fronteira com México.
Lena, com quem namorava na época, fez um lindo ensaio fotográfico dos dias que passamos com Jery e sua esposa Diane.
Com a publicação de "Cadê" ganhei da secretaria de Cultura do DF o troféu Athos Bulcão do melhor livro brasiliense do ano de 1998.
E o melhor: o livro trazia encartado na última capa o CD "Cadê", com 14 canções baseados em poemas do livro.
Participação vocal de artistas
brasilienses como Gerson de Veras, Renato Matos, Manduka, Célia Porto, Gisa
Pithan, Luana Cozetti, Adriano Faquini e Elisa Alves, além deste poeta.
Dezenas de músicos brasilienses participaram desta aventuras, grato a todos.
Pergunta: será que neste exemplar da biblioteca Salomão Malina tem o CD com 14 músicas-poema?
Meu Deus, quem tem memória tem tudo...
diagnóstico
tenho andado como
um taco se sinuca quebrado
uma tremenda dor na nuca
em quinta de feriado
não encontrei o meu amor
no caixa do super mercado
arrisquei um lance
o dado era quadrado
dizem que é pressão alta
hipertensão coisa desse tipo
mas ficar aqui largado
abandonado é que eu não fico
Artur Gomes
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Mostra Visual de Poesia Brasileira
Mostra Visual De Poesia Brasileira
https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/
quando
vi
essas
pernas abertas
em
minha direção
curuminha
em cachoeira
nem
sei que forças tive
pra
me segurar
e
não fazer uma besteira
Federico Baudelaire
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OUTONO-ME
Rose Araujo 🌹
Outonos, assim, intraduzíveis.
Dias plúmbeos, chuviscantes
e vento agudo no rosto,
contornando o [re]existir.
No Outono existimos,
súbita alegria inspira e expira,
aguçando as narinas.
Ah, o Outono,
o tempo parece expandir-se
a vida mostra-se mais larga,
e acalma a alma, em retinas diárias.
Bailando à melodia do tempo, amarelamos folhas,
passarelamos chãos.
E a vida engrandece,
a alma agradece,
o olhar enternece
: outono-me!
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TRÊS TOQUES PARA PENETRAR NA NOITE ESCURA DESTA
PÁTRIA A(R)MADA
Ademir Assunção
1
Artur Gomes é daqueles poetas que não se contentam em grafar suas palavras apenas nas páginas de um livro. Ele inscreve seus poemas no próprio corpo, na própria voz. Misto de ator saltimbanco e trovador contemporâneo, seus versos ritmados e musicais redobram a força quando saltam do papel para a garganta. O CD Fulinaíma – Sax, Blues Poesia, que gravou em parceria com os músicos Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e ReubesPess, nos primórdios deste terceiro milênio, é uma das experiências mais bem-sucedidas da fusão entre poesia oralizada e música: os versos lancinantes surgem como navalhas de corte preciso entre os blues, bossas, rocks e baladas. Navalhas que acariciam, mas também cortam a pele do ouvinte.
Há delícia e dor em sua poética. Uma
delícia sensual, sexual, que se explicita em versos como “poderia abrir teu
corpo / com os meus dentes / rasgar panos e sedas // com as unhas /arreganhar
as tuas fendas / desatar todos os nós // da tua cama arrancar os cobertores /
rasgando as rendas dos lençóis”. Há dor por uma terra prometida e sempre
adiada, “por uma bandeira arriada / num país que não levanta”. É nesse espaço
entre a delícia e a dor que o trovador levanta sua voz e emite seus brasões em
alto e bom salto, a plenos pulmões: “eu não tenho pretensões de ser moderno /
nem escrevo poesia pensando em ser eterno / veja bem na minha língua as
labaredas do inferno / e só use o meu poema com a força de quem xinga”.
2
Cada poeta escolhe sua tribo, reinventa seus ancestrais. A tribo de Artur Gomes
vem de uma vasta tradição de trovadores inquietos e inquietantes, hábeis no
trato do verso e ferinos no uso do humor, do amor e da revolta. Uma linhagem
que vai de Arnaut Daniel a Zé Limeira e passa por Oswald de
Andrade, Torquato Neto, Paulo Leminski e Uilcon Pereira, para listar alguns.
Cada poeta inventa também o território
mítico onde mergulha sua poesia e sua própria vida. Alguns de maneira
explícita, outros, mais velada. Há muitos anos surge na poesia de Artur o termo
“Fulinaíma”, como uma Macondo espectral, que perpassa livros, sobe aos palcos,
atravessa as faixas do CD. Seria um território de folias macunaímicas, uma
terra de prazeres e ócios criativos, avessa ao eterno passado colonial que não
conseguimos nunca superar, como o fantasma de antigos engenhos em que a “usina
/ mói a cana / o caldo e o bagaço // usina / mói o braço / a carne o osso //
usina / mói o sangue / a fruta e o caroço // tritura suga torce / dos pés até o
pescoço”?
3
Artur Gomes é também daqueles poetas que vivem reescrevendo seus poemas,
reinserindo-os em outros contextos, reinventando “a poesia que a gente não
vive”, aquela mesma que transforma “o tédio em melodia” - para relembrar
Cazuza, outro bardo pertencente a mesma tribo. Quem
acompanha sua trajetória
errante e anárquica provavelmente vai
identificar neste livro poemas já publicados em outros – porém, com
modificações de tonalidades, de timbres, de intenções.
Se não é despropositado pensar que Dante Alighieri enxertou em sua Divina
Comédia inúmeras desavenças políticas, sociais e culturais de sua época e
mandou para o inferno pencas de seus inimigos florentinos, é interessante
perceber este Pátria A(r)mada reinventado no contexto deste Brasil que
retrocedeu décadas depois do golpe político-jurídico-midiático deflagrado em
2016. Esses tempos passarão, é certo, mas este livro ficará – como um potente
desconforto, um desajuste, um desconcerto desse mundo cão e chão. Se vale como
trágica profecia – ao modo do cego
Tirésias –, após um breve período de sonhos que mais uma vez não se cumpriram,
os olhos abertos desses versos ecoarão nos
ouvidos de muitos e cortarão a carne de tantos: “ó, baby, a coisa por aqui não mudou nada / embora sejam outras siglas
no emblema / espada continua a ser espada / poema continua a ser poema”.
Ademir Assunção – poeta, escritor, jornalista e letrista de música brasileira. Autor de livros de
poesia, ficção e jornalismo, venceu o Prêmio Jabuti 2013 com A voz do Ventríloquo (Melhor
Livro de Poesia do ano). Poemas e contos de sua autoria foram traduzidos para o
inglês, espanhol e alemão, e publicados em livros e revistas na Argentina,
México, Peru e EUA.
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