quinta-feira, 30 de maio de 2024

múltíplas poéticas

CADÊ? Livro Eterno 

Luís Turiba

 Que achado maravilhoso. Dos meus livros, o que mais gosto, mais tenho chamego, mais caprichei no processo no processo editorial. É de 1998.

Com capa e  programação do parceiro bricabraqueano Luis Eduardo Resende.

Editado pela Paralelo15 de Brasília.

 Tem orelha de Antônio Risério, comentário na quarta capa de Francisco Alvim e apresentação poética de escritor pernambucano e apresentador da TV Senado Maurício Melo Júnior.

 Na parte final do livro, há um trabalho especial sobre a visita que fizemos ao etno- poeta polonês-americano Jerome Rothenburg - ao lado da fotógrafa americana-bahiana Lena Coutinho, a Encinitas, Califórnia,fronteira com México.

 Lena, com quem namorava na época, fez um lindo ensaio fotográfico dos dias que passamos com Jery e sua esposa Diane.

 Com a publicação de "Cadê" ganhei da secretaria de Cultura do DF o troféu Athos Bulcão do melhor livro brasiliense do ano de 1998.

 E o melhor: o livro trazia encartado na última capa o CD "Cadê", com 14 canções baseados em poemas do livro.

Participação vocal de artistas brasilienses como Gerson de Veras, Renato Matos, Manduka, Célia Porto, Gisa Pithan, Luana Cozetti, Adriano Faquini e Elisa Alves, além deste poeta.

 Dezenas de músicos brasilienses participaram desta aventuras, grato a todos.

 Pergunta: será que neste exemplar da biblioteca Salomão Malina tem o CD com 14 músicas-poema?

Meu Deus, quem tem memória tem tudo...



diagnóstico

 

tenho andado como

um taco se sinuca quebrado

 

uma tremenda dor na nuca

em quinta de feriado

 

não encontrei o meu amor

no caixa do super mercado

 

arrisquei um lance

o dado era quadrado

 

dizem que é pressão alta

hipertensão coisa desse tipo

 

mas ficar aqui largado

abandonado é que eu não fico

 

Artur Gomes

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Mostra Visual de Poesia Brasileira 

Mostra Visual De Poesia Brasileira

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/


quando vi

essas pernas abertas

em minha direção

curuminha em cachoeira

nem sei que forças tive

pra me segurar

e não fazer uma besteira

 

Federico Baudelaire

 

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OUTONO-ME

                 Rose Araujo 🌹

 

Outonos, assim, intraduzíveis.

Dias plúmbeos, chuviscantes

e vento agudo no rosto,

 contornando o [re]existir.

No Outono existimos,

súbita alegria inspira e expira,

 aguçando as narinas.

Ah, o Outono,

o tempo parece expandir-se

a vida mostra-se mais larga, 

e acalma a alma, em retinas diárias.

Bailando à melodia do tempo, amarelamos folhas,

 passarelamos chãos.

E a vida engrandece,

a alma agradece,

o olhar enternece

: outono-me!

 

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TRÊS TOQUES PARA PENETRAR NA NOITE ESCURA  DESTA

PÁTRIA A(R)MADA

 

Ademir Assunção


1


Artur Gomes é daqueles poetas que não se contentam em grafar suas palavras apenas nas páginas de um livro. Ele inscreve seus poemas no próprio corpo, na própria voz. Misto de ator saltimbanco e trovador contemporâneo, seus versos ritmados e musicais redobram a força quando saltam do papel para a garganta. O CD Fulinaíma – Sax, Blues Poesia, que gravou em parceria  com os músicos Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e ReubesPess, nos primórdios deste terceiro milênio, é uma das experiências mais bem-sucedidas da fusão entre poesia oralizada e música: os versos lancinantes surgem como navalhas de corte preciso entre os blues, bossas, rocks e baladas. Navalhas que acariciam, mas também cortam a pele do ouvinte.


Há delícia e dor em sua poética. Uma delícia sensual, sexual, que se explicita em versos como “poderia abrir teu corpo / com os meus dentes / rasgar panos e sedas // com as unhas /arreganhar as tuas fendas / desatar todos os nós // da tua cama arrancar os cobertores / rasgando as rendas dos lençóis”. Há dor por uma terra prometida e sempre adiada, “por uma bandeira arriada / num país que não levanta”. É nesse espaço entre a delícia e a dor que o trovador levanta sua voz e emite seus brasões em alto e bom salto, a plenos pulmões: “eu não tenho pretensões de ser moderno / nem escrevo poesia pensando em ser eterno / veja bem na minha língua as labaredas do inferno / e só use o meu poema com a força de quem xinga”.


2


Cada poeta escolhe sua tribo, reinventa seus ancestrais. A tribo de Artur Gomes vem de uma vasta tradição de trovadores inquietos e inquietantes, hábeis no trato do verso e ferinos no uso do humor, do amor e da revolta. Uma linhagem que vai de Arnaut Daniel a Zé 
Limeira e passa por Oswald de Andrade, Torquato Neto, Paulo Leminski e Uilcon Pereira, para listar alguns.


Cada poeta inventa também o território mítico onde mergulha sua poesia e sua própria vida. Alguns de maneira explícita, outros, mais velada. Há muitos anos surge na poesia de Artur o termo “Fulinaíma”, como uma Macondo espectral, que perpassa livros, sobe aos palcos, atravessa as faixas do CD. Seria um território de folias macunaímicas, uma terra de prazeres e ócios criativos, avessa ao eterno passado colonial que não conseguimos nunca superar, como o fantasma de antigos engenhos em que a “usina / mói a cana / o caldo e o bagaço // usina / mói o braço / a carne o osso // usina / mói o sangue / a fruta e o caroço // tritura suga torce / dos pés até o pescoço”?


3


Artur Gomes é também daqueles poetas que vivem reescrevendo seus poemas, reinserindo-os em outros contextos, reinventando “a poesia que a gente não vive”, aquela mesma que transforma “o tédio em melodia” - para relembrar Cazuza, outro bardo 
pertencente a mesma tribo. Quem acompanha sua trajetória

errante e anárquica provavelmente vai identificar neste livro poemas já publicados em outros – porém, com modificações de tonalidades, de timbres, de intenções.


Se não é despropositado pensar que Dante Alighieri enxertou em sua Divina Comédia inúmeras desavenças políticas, sociais e culturais de sua época e mandou para o inferno pencas de seus inimigos florentinos, é interessante perceber este Pátria A(r)mada reinventado no contexto deste Brasil que retrocedeu décadas depois do golpe político-jurídico-midiático deflagrado em 2016. Esses tempos passarão, é certo, mas este livro ficará – como um potente desconforto, um desajuste, um desconcerto desse mundo cão e chão. Se vale como trágica  profecia – ao modo do cego Tirésias –, após um breve período de sonhos que mais uma vez não se cumpriram, os olhos abertos desses versos ecoarão  nos ouvidos de muitos e cortarão a carne de tantos: “ó, baby, a coisa por aqui não mudou nada / embora sejam outras siglas no emblema / espada continua a ser espada / poema continua a ser poema”.
 

 

Ademir Assunção – poetaescritorjornalista e letrista de música brasileira. Autor de livros de poesia, ficção e jornalismo, venceu o Prêmio Jabuti 2013 com A voz do Ventríloquo (Melhor Livro de Poesia do ano). Poemas e contos de sua autoria foram traduzidos para o inglês, espanhol e alemão, e publicados em livros e revistas na Argentina, México, Peru e EUA.


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