quinta-feira, 13 de março de 2025

múltiplas poéticas

soneto de pé quebrado

 

faz tempo não passo por aqui tenho andado as tontas atrás de um outro neguinho da beija-flor depois que federico se desbundou para recife não encontro um outro substituto de mestre/sala a altura de baudelaire e esse rebaixamento da mocidade me deixou como um soneto de pé-quebrado parece que a comissão julgadora não quis saber de futuro agora só me resta salgar a carne seca do passado acordar pastor de andrade que anda dormindo demais no ponto da salvação

 

Federika Bezerra

Porta/Bandeira da Mocidade Independente de Padre Olivácio

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Balbúrdia PoÉTICA 5

Dia 5 Abril – 2025 – 16h

Na Academia Campista de Letras

Parque Dr. Nilo Peçanha – Jardim são Benedito

Campos dos Goytacazes-RJ

 

não forçarei mais a chave

em fechadura errada

e nem insistirei

 em calçar sapatos

que não me servem

assim,

 tento ficar melhor

e escolho os dias de sol,

ou os nublados,

ou com chuva.

eu escolho.

a beleza dos dias

está em mim.

planto uma semente

em qualquer coração,

faço um poema

 sem pretensão de colheita.

e sigo

 nua, apreensiva e eterna.

 

Mônica Braga



canção de um realejo solitário

        para Artur Fulinaíma

 

“ainda tenho o teu perfume

pela casa

ainda tem você na sala

porque meu o coração dispara

quando sinto teu cheiro

dentro de um livro

dentro da noite veloz”

 

                       Adriana Calcanhoto

 

meu coração dispara

quando abro a porta

e não te vejo

na vertigem do dia

canção de um realejo solitário

quando não te beijo

eu imenso mar sozinha

como um peixe afogado em águas

de delírio e lágrimas de  sal

 

                         Rúbia Querubim

in Drummundana Itabirina

Com os dentes cravados na memória

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A literatura de Cesar Augusto de Carvalho segue um caminho peculiar, longe dos modismos de ocasião, marcada por narrativas em que o acaso determina o movimento do mundo e o sonho invade a realidade, ou a realidade se transforma em sonho. Ambos convivem e se reforçam. É o que se vê nos onze contos deste livro Folhetim. A partir de um fato qualquer, abre-se uma fresta para o absurdo, o humor e o nonsense. A lógica do real é sobrepujada por conexões inusitadas e elos inesperados. Ali nada é sólido, tudo está por um triz. Cada história contém bifurcações que levam a outras histórias.

Essa técnica narrativa mise en abyme acaba mergulhando o leitor num torvelinho alucinante.

Os personagens desses contos são tipos com órbitas próprias, perdidos em solidão, anti-heróis apartados da máquina da cobiça e do sucesso a qualquer preço, mais voltados para a recompensa dos pequenos prazeres mundanos, ou da simples sobrevivência.

Os contos, com seus cortes e sobre posições, são bastante visuais, explorando recursos do cinema. Não à toa, Cesar Carvalho incorpora em sua experiência a de roteirista. Assim é que o conto “Flipando em Paraty”, que abre o volume, mostra um escritor na bancarrota que consegue uma oportunidade de fazer a cobertura da badalada festa literária. No conto de título cabalístico “13”, um jornalista se lança numa reportagem que investiga um caso de racismo. Em “Folhetim”, um escritor se envolve num episódio de crime cuja trama é pura alusão, revestida de sátira, ao clássico godardiano Acossado, neste que é o conto mais claramente cinematográfico do conjunto.

O livro inclui ainda uma incursão pela autoficção, no conto que encerra o volume. Nela, o narrador afirma: “Todas as histórias já foram contadas, muda só o jeito de as contar”. Cesar Augusto de Carvalho, como seus contos mostram muito bem, criou seu próprio caminho.

 

Paulo Lima

Jornalista e escritor

FICHA TÉCNICA

Contos

Páginas: 240

Formato: 140 x 210 mm

ISBN: 978-85-92875-91-6

 

Dia 5 Abril - 16h - Cesar Augusto de Carvalho estará com o seu Folhetim na Balbúrdia PÉTICA 5 - na Academia Campista de Letras - em Campos dos Goytacazes-RJ

 

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Balbúrdia PoÉTICA 5

Dia 5 – Abril – 2025 – 16h

Na Academia Campista de Letras

 

USINA

Antônio Roberto Kapi de Góis Cavalcanti

 

Usina:

Usina são uns olhos

despertos antes do sol,

a boca mal-lavada

num gole de café...

e um esfregar de mãos

para aquecer o dia.

 

Usina é uma longa

E curta caminhada,

Inventada em carrocerias,

carroças e bicicletas.

Ou um usar de pés

pra se fazer o dia.

 

Usina é um balé!

de lenços-de-cabeça,

camisas de xadrez,

foice e facão...

entre gole e outro

de café,

Usina é um apito

de sol a pino,

feito de marmitas,

quando os olhos nada dizem

e as bocas são limpas

por mãos em costas.

 

Usina é um gosto

(doce-amargo)

de uns caldos escorrendo,

ora nas moendas

ora nos moídos...

É um fazer de conta,

Pós-apito,

Na birosca ao lado

Com uns parceiros:

Um remedar da vida.

 

Depois

Um mal dormir

De pais e filhos

(de fome, de frio, de medo)

Para que antes que o sol

Se tenha despertado,

 

— USINA É USURA!

São uns olhos

Que se estendem

Quando em vez

À casa-grande...

São umas vidas

Escapando pela chaminé

 

Fulinaíma MultiProjetos

contatos: fulinaima@gmail.com

22 – 99815-1268 -zap

@fulinaima @artur.gumes 

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 Balbúrdia PoÉTICA 5

Dia 5 – Abril – 2025 – 16h

Na Academia Campista de Letras


INDAGAÇÕES DE HOJE


Quem matou Hipátia de Alexandria?
Quem matou Joana d’Arc?
Quem matou Ana Bolena?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Mima Renard?
Quem matou Dandara dos Palmares?
Quem matou Tereza de Benguela?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Ursulina de Jesus?
Quem matou Joana Angélica?
Quem matou Rosa Luxemburgo?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Olga Benário?
Quem matou Maria Bonita?
Quem matou Dália Negra?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Aída Curi?
Quem matou as Irmãs Mirabal?
Quem matou Dana de Teffé?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Iara Iavelberg?
Quem matou Maria Lúcia Petit?
Quem matou Sônia Angel Jones?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Zuzu Angel?
Quem matou Araceli Crespo?
Quem matou Ana Lídia Braga?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Ângela Diniz?
Quem matou Cláudia Lessin Rodrigues?
Quem matou Ana Rosa Kucinski?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Dinalva Oliveira Teixeira?
Quem matou Lyda Monteiro da Silva?
Quem matou Solange Lourenço Gomes?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Margarida Maria Alves?
Quem matou Mônica Granuzzo?
Quem matou Daniella Perez?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Irmã Dorothy?
Quem matou Benazir Bhutto?
Quem matou Isabella Nardoni?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Eliza Samudio?
Quem matou Patrícia Acioli?
Quem matou Jandyra dos Santos Cruz?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Luana Barbosa dos Reis?
Quem matou Dandara Kettley?
Quem matou Sabrina Bittencourt?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem mandou matar Marielle Franco?
Quem mandou matar Marielle Franco?
Quem mandou matar Marielle Franco?
Quem mandou matar Marielle Franco?

 

Ricardo Vieira Lima

poema do livro Ariete

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poema para marielle franco

rascunho na noite de sua brutal execução

certeiros, os projéteis
da janela
da mira
do gatilho
atingem o alvo

calculadas, as balas
na cabeça marcada
na mente visada
na ação inadequada
cumprem a função de calar

não foi apenas o sangue
jorrado na execução
não foi apenas a carne
(negra, para não fugir das estatísticas)
caça abatida no voo, ração
provimento dos sem razão

ali, naquele automóvel
ensanguentado
e
incômodo
foi abatida a utopia
calada uma voz que era de muitos
derrubado o pilar da esperança
executada a possibilidade de redenção

(14.03.2018)

Dalila Teles Veras
do livro tempo em fúria - Alpharrabio Edições - 2019

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FAZER O AMOR.

Os românticos crêem
na alma do mundo.
Poço sem fundo
de expectativas vivas
sobre tudo o que, deveria,
mas não pode ser.

Fazer o que, amor?
Amar o que? Fazer!

Marcelo Atahualpa
14/01/2025



o amor é impaciente

ele tem pressa

não somos tão jovens

como as canções

você tirou meu tempo

me fez solidão no amor

me dominou pensamentos

rasgou meu livro

de Bukowski

voce é ousado que só

calou Chico

o Buarque

calou-me

não sei se você brinca

ou flutua

mas sei que causa tumultos

imperdoáveis

você não mente

mas peca

arranca de mim

livros e roupas

rasga tudo

e numa lucidez barata

e calma

tropeço

como nunca

ou eu rasgo roupa e verbo

ou deixo mais um verso solto

demasiadamente solto

feito quem morre

sem conhecer

o cheiro

da flor

que seu corpo vela

 

Mônica Braga em um amor



Hoje, 14 de março, é comemorado o Dia da Poesia no Brasil.

A data surgiu como uma homenagem ao poeta Castro Alves, que nasceu no dia 14 de março de 1847, na Bahia.

 

Recebi esse poema enviado pelo meu amigo Décio Sousa, lá das bandas do interior da pauliceia

 

OPUS, OPERIS

 

o poeta se multiplica

em seus poemas

 

nem todas as penas

são suas penas

 

nem toda inspiração

é sua, primeira

 

a leitura é sementeira

na qual o poeta se aplica

 

a concessão (no poema)

é marca registrada

 

concede um verso á crítica

um ao público, outro à amada

 

concede um verso a si mesmo

por crença poética intuitiva

 

o que resta assim, ó poeta

o que resta à poesia?

 

restam apenas versos,

palavras frágeis

 

a poesia (na sua essência)

a poesia inteira

 

(resta inédita, inefeita, viva)

 

Luiz Vitor Martinello



dia internacional da poesia

Todo Dia É Dia D

Poesia Todo Dia

 

poesia do corpo

 

nasce entre a carne a medula o sangue a nervura da alma e a escridura dos ossos onde posso dizer o que sinto posso sentir o que posso nem sempre a palavra vale quanto pesa nem sempre um poema cabe pleno numa reza palavra as vezes fica perdida na memória não flui no consciente em complemento da história


nem tudo que é belo

angra

a flor do mangue

ainda sangra 

 

Artur Gomes

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 brazilha

 

1968

tantas  vezes

estive nessa ilha

que não é de vera cruz

muito menos santa

assim mesmo

abracei a catedral

para beijar seus mortos

mesmo sem crer em salvação

nos canteiros de obra

durante a sua construção

 

Artur Kabrunco

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O Acerto

Soterrou-se em silêncio, ruminando os dias,
esgarçou-se nas fissuras do tempo,
respirou o gosto amargo do fel acumulado.
Cada hora foi moeda fria,
cada noite um tribunal invisível.

Não esqueceu, porque esquecer é luxo,
e ela se nutria de dívidas,
de números riscados na parede
de um porão sem janelas.

Viu os nomes gravados na carne da memória,
contou às costelas do passado,
enumerou os dentes que lhe faltavam.
Dizem que perdoar é virtude,
mas a virtude nunca pagou contas atrasadas.

Moldou paciência com a fôrma da espera,
curvou-se sob o peso da lembrança,
aprendeu a desenhar mapas de retorno
sem jamais traçar rotas de fuga.

O tempo lhe ensinou o idioma da sombra,
lhe entregou chaves para cofres antigos,
lhe emprestou paciência de relojoeiro,
ensinou-lhe o pulso exato para apertar o nó.

Quando a noite verteu seu sangue escuro,
ela se moveu sem barulho,
um cálculo perfeito no escuro,
um acerto antigo a cobrar juros.

No instante em que os olhos se encontraram,
não houve surpresa,
não houve perdão,
apenas o ajuste de contas.

E quando tentou lembrar o porquê,
quando buscou a fúria, o ódio,
quando tentou cerrar os punhos outra vez,
tudo o que encontrou
foi um imenso, um avassalador vazio.

Num gesto desmedido e cruel,
mergulhou os dedos na própria boca,
arrancou um por um os dentes do rancor,
cuspiu cada pedaço como se cuspisse a infância,
e riu, riu, riu,
com a boca aberta, escura e devastada,
até que a língua provasse o ferro quente do próprio sangue,
e o silêncio, enfim, o engolisse.

Simone Bacelar



         Sob a Lua de Chumbo

Ele era um rio seco,
um cavalo sem ferradura,
um grito que se perdia
nos becos da noite.
Trazia nas mãos
o peso das horas mortas,
e nos olhos,
o reflexo de um sol que já não o aquecia.

Ela era uma árvore ferida,
uma canção sem voz,
um relâmpago que se apaga
antes de tocar a terra.
Trazia no peito
o eco de um berço vazio,
e nos lábios,
o sal de lágrimas que nunca chorou.

Encontraram-se sob uma lua de chumbo,
onde o tempo não tinha pressa,
onde o silêncio era um véu
que cobria seus corpos despedaçados.
Ele olhou para ela
e viu um espelho quebrado,
ela olhou para ele
e sentiu o frio de uma janela aberta.

"Por que choras se não há lágrimas?"
perguntou ele, com a voz rouca de tanto calar.
"Por que gritas se não há som?"
respondeu ela, com os olhos fixos no abismo.

E ali ficaram,
dois fantasmas de carne e osso,
dançando uma valsa sem música,
enquanto a lua, impassível,
derramava sua luz de metal
sobre suas feridas expostas.

Ele tentou abraçá-la,
mas seus braços eram como galhos secos,
que se partiam ao menor toque.
Ela tentou beijá-lo,
mas seus lábios eram como pedras,
que não guardavam mais o calor de um suspiro.

E assim seguiram,
homem e mulher,
rio e árvore,
grito e silêncio,
até que a madrugada os encontrou
e os dissolveu na névoa.

Agora são apenas memória,
um rumor distante
que o vento leva
para os confins da terra.
Mas, às vezes,
quando a lua de chumbo surge no céu,
pode-se ouvir o eco dos seus passos,
caminhando juntos
para um lugar onde o amor
não seja apenas uma sombra.

Simone Bacelar
SSA 13/03/2025


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