domingo, 26 de maio de 2024

múltiplas poéticas


POEMA DAS SETE FACES

(Carlos Drummond de Andrade)

 

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

 

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

 

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

 

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode,

 

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

 

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

 

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

 

(Carlos Drummond de Andrade)

 

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Mostra Visual De Poesia Brasileira

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/


soberba

 

a noite longa

por entre os

paralelepípedos

 

e Jaguarão

se espreme entre

a ponte e o cerro

 

passo a passo

o olhar adensa

 

no delito da espera

na podridão da

virtude

 

um galo geme

e o dia amanhece

 

Lau Siqueira

In o inventário do pêssego

CASA VERDE – Porto Alegre-RS – 2020

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lunática

 

um gato noturno

atira pedra nas estrelas

palavras e mais palavras

na carne da princesa

 

onde o papel não bate

onde o pincel não toca

 

o gato noturno lambe a barriga

bem perto da virilha

e trepa

           no muro mais próximo

tentando alcançar o outro lado das rua

em seu instante letal

de desespero e                                solidão

 

froydiana

 

azul são os teus olhos

a cor dos pelos não conheço

teus seios ainda não toquei

 

dracena – é uma terra roxa

nave extra/terrena

que humanos não decifraram

pequena vagina/virgem

onde os dedos ainda não entraram

 

e os cachos de uvas

apodrecem entre teus dentes

com um cheiro de leite ardente

esguichando na distância

 

Artur Gomes

Couro Cru & Carne Viva – 1987

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